terça-feira, 18 de dezembro de 2007

I CARRY YOUR HEART WITH ME


No filme IN HER SHOES, traduzido aqui como EM SEU LUGAR, Cameron Diaz diz o poema de e. e. cummings de uma forma espetacular. Sou fã deste poema e uma insatisfeita com as traduções que encontrei. Pedi, então, ao Manuel Anastácio, do blog Da Condição Humana ( tem entrada pelos meus favoritos, mas mesmo assim, vai aqui o endereço: http//:literaturas.blogs.sapo.pt/), que aceitasse o desafio de traduzir o poema para nossa língua. Creio sinceramente que os portugueses sabem usar melhor as possibilidades do nosso rico vocabulário. Por exemplo: pra o verbo "to carry", eu achei quem traduzisse pelo verbo "carregar" e por "levar". Não gostei do resultado, que ficou assim para o primeiro verso, respectivamente: "carrego o teu coração comigo" e "eu levo o seu coração comigo". Manuel Anastácio optou por "trago o teu coração comigo". Por tal exemplo já dá para perceber a sutileza na hora de usufrir da língua portuguesa. Vale apreciar a escolha em "segredo a todos velado": a poesia alcançando a poesia. Agradeço a Manuel Anastácio pela tradução que coloco, com sua permissão, para que seja desfrutada, pois é a melhor até hoje realizada para o poema de cummings.



I carry your heart with me

I carry your heart with me ( i carry it in
my heart). I am never without it ( anywhere
I go you go, my dear; and whatever is done
by only me is your doing, my darling)
I fear
no fate (for you are my fate, my sweet) I want
no world (for beautiful you are my world, my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you

here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life; which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart

I carry your heart ( I carry it in my heart)


Trago o teu coração comigo (guardo-o dentro
do meu coração) nunca o deixei noutro lugar (onde quer
que vá, vais comigo, meu amor; e o quer que seja feito
apenas por mim, é por ti feito, minha querida) temerei

jamais qualquer destino (pois és o meu destino, minha doçura) quererei
jamais qualquer mundo (que a tua formosura é todo o meu mundo, minha verdade)
e és tu o que uma lua sempre possa ter significado
e o quer que tenha sempre um sol cantado, és tu

aqui está o mais profundo segredo a todos velado
(aqui está a raiz da raiz e o botão do botão
e as alturas das alturas de uma árvore chamada vida; que cresce
para além do que a alma pode esperar ou o pensamento esconder)
e é esta a maravilha que mantém as estrelas separadas

Trago o teu coração (guardo-o dentro do meu coração)

20 comentários:

Carlos Vilarinho disse...

Gerana, isso é tão forte e profundo que talvez caiba "carregar" mesmo, talvez.
Carregar, ou trazer, ou levar, um coração dentro de um outro,ou talvez somente junto, lado a lado, é um prova de amor que provavelmente(?) não exista. Ou exista e ninguém encontra. Ou carrega. Ou traz. Ou leva.
Beleza de brinde esse que proporcionou.

Anônimo disse...

É belíssimo o poema e a tradução está magnífica. Veja que "carregar" é pesado, denota esforço, carga, peso... Ele optou por "trazer", afinal nós trazemos os sentimentos conosco, os belos como o amor, e "carregamos" escombros, dores. Pense aí.

Anônimo disse...

Gerana, estou deveras envaidecido pelas palavras que dedica às minhas escolhas - ainda mais porque a elas se refere de forma tão imerecidamente incensória. De facto, além de "trago", optei por algo ainda mais deformador do poema original. Decidi quebrar a palavra "carry" em trazer e em guardar. Provavelmente, não é a melhor escolha em termos objectivos, mas não acredito na possibilidade da tradução objectiva de um poema. Um poema é, em si mesmo, enquanto "objecto", inviolável. Não o é, contudo, enquanto objecto de fruição. Nessa altura, transforma-se conforme os olhos e corações de quem lê, o que permite, numa perfeitamente válida redução ao absurdo, aceitar traduções dentro da mesma língua.

Anônimo disse...

Eu havia notado que você ousou não repetir o verbo. E notei mais: quando você usa "guardo" a expressão está entre parênteses, ou seja, guardada, o que implica em mais sensibilidade ainda na tradução. Só enfatizei o "trago" porque ele abre versos com força. Você pensa a tradução na linha de Augusto de Campos, um poeta concretista e tradutor que prega princípios aqui plasmados por você. Sigo encantada com a solução para o poema de cummings devidamente traduzido.

Anônimo disse...

Isso é tudo o que eu gostaria de ter dito em um poema. Vim aos comentários para falar da força do "carregar" que supera levar ou trazer, pelo dito na introdução do poema. Então encontrei a opinião de Vilarinho igual a minha. Para um sentimento tão denso,vital mais que tudo,levar é pouco.Carrega-se uma criança,porq se leva com especial cuidado.Carrega-se um amor sem o qual se morrerá.GRANDE

Carlos Vilarinho disse...

Eu pensei nisso mesmo, Gláucia. Mas é tão imenso e profundo que aliado à infinitude da semântica da Língua portuguesa abrem-se então diversos significados. Aí, como colocou Manuel, "vale-se de quem lê".

Anônimo disse...

A solução do Manuel é muito mais poética. Concordo com Gerana, "carregar" é pesado, prefiro "trazer" e "guardar". Os versos ganharam na tradução.

Anônimo disse...

O poema é lindíssimo, porém ainda melhor é ler poetas falarem acerca da percepção de cada um deles acerca das palavras, seus conceitos e do "caimento" de cada uma delas na obra.
Me deleitei!!! E também comungo de todas as opiniões dadas. Pois, o amor as vezes dói e assim realmente ele passa a ser CARREGADO com orgulho e prazer. Outras vezes ele é manso e assim ele pode ser LEVADO com calma e serenidade.
Enfim... o amor tudo pode, tudo permite, tudo acompanha, tudo leva, tudo traz...contanto que seja vivido PLENAMENTE!!!

Kátia Borges disse...

Lindo! O amor é mesmo um delicado modo de existir.

CBugarim disse...

Vou deixar a minha tradução

Levo o teu coração comigo (levo-o dentro do meu coração)
Nunca estou sem ele (onde quer que vá, tu vais comigo, minha querida;
e o que quer que eu faça, é obra tua, meu amor)
Não temo sina alguma (porque tu és o meu destino, meu doce)
Não quero nenhum mundo
(porque minha maravilha, tu és o meu mundo, a minha verdade)
és tudo aquilo que a lua sempre significou
e tudo o que um sol sempre cantará
Eis o segredo mais profundo que ninguém sabe
(eis a raiz da raiz e o rebento do rebento
o céu do céu de uma árvore chamada vida;
que cresce mais além do que a alma pode esperar
ou do que a mente possa esconder)
esta é a maravilha que mantém as estrelas separadas
Levo o teu coração (levo-o no meu coração)

Miss Sunshine disse...

"Levar" me parece a tradução mais tecnicamente correta, porém "Carregar" denota toda o peso, a carga e a grandiosidade que se faz com um sentimento tão forte que seria a certeza de se "carregar" "o seu coração no meu coração"...
Enfim, um poema é algo profundo que nos toca, muitas vezes, com uma única palavra, e tanto faz se for "levar" ou "carregar", o que realmente importa é que ..."esta é a maravilha que mantém as estrelas separadas"

Anônimo disse...

não entendo porque as linhas do poema não ficam certinhas, tem linhas que aparece uma palavra só, cortando-se um pouco a frase.
Não fica muito legal, alguem pode explicar porque tanto nas traduções, quanto ´no escrito emm ingles, a disposição das frases estão desse jeito?
gensdias@yahoo.com.br

Unknown disse...

Esse poema sempre me foi muito especial,tanto que musiquei uma versçao em formato um pouco mais popular para caber numa canção pop.Um atrevimento?Talvez.Porém me emociono todo vez que ouço o resultado.E isso é meio caminho andado pra ser uma boa justificativa pra te-lo feito.

pedro disse...

Sem querer entrar em controvérsias uma das traduções está errada. onde se pode ler "(for beautiful you are my world, my true)" a tradução encontrada foi "(que a tua formosura é todo o meu mundo, minha verdade)". Ora aqui foi mal interpretada a expressão "for beautiful you are my world", o autor - Cummings neste caso - está querendo dizer algo como 'pois minha linda, tu és o meu mundo' e não que a beleza dela é o mundo dele. Fica a pequena correcção.

Anônimo disse...

Que descoberta maravilhosa desse espaço! Adorei as duas traduções, bem como todas as críticas e comentários!
Muito interessante a análise do Sr. Manuel Anastácio: "Um poema é, em si mesmo, enquanto "objecto", inviolável. Não o é, contudo, enquanto objecto de fruição. Nessa altura, transforma-se conforme os olhos e corações de quem lê, o que permite, numa perfeitamente válida redução ao absurdo, aceitar traduções dentro da mesma língua". Parabéns a todos pela iniciativa!
Confesso que conheci o poema pelo filme "Em seu Lugar", ainda em 2005, aos 17 anos.
Encontrei-os por acaso, no tormento da procura de uma tradução decente, tão intensa quanto o poema original! Lerei esse poema para meu avô em seu aniversário de 80 anos! Esperei 5 anos para dedicar algo tão especial a alguém ainda mais especial! Muito obrigada!

Karinne

Mih disse...

Oi,
Bom, achei Belissimo esse poema,
Vi no filme...achei mto tocante..
eh lindo.
Mas gostaria de saber o nome da autora..

Gerana Damulakis disse...

Na 2ª linha da postagem está o autor do poema: e. e. cummings. Ele queria que seu nome sempre fosse escrito assim, com minúsculas.

Anônimo disse...

Gerana , Manuel, Carlos, e a todos que adoram este poema.. Nada a acrescentar nas traduções e sugestões de interpretação. O poema continua belo..... Apenas gostaria que conhecessem , também, ou quem conhece , comentassem a bela melodia e interpretação deste POEMA... Procurem por MIchael Hedges( with Crosby Stills and Nash)e ouçam a beleza, a maravilha que ficou....ouvirão vezes seguidas de tão perfeita!!!...
Everson

Anônimo disse...

Paulo, já que musicou este POema .....Sugira que tambem ouça a Musica feita pra Ele .. interpretada por MICHAEL HEDGES (With Crosby Stills and Nash)... Se a sua meldia se aproximar desta.... eu gostaria de ouvir.....


Everson

Anônimo disse...

eu até queria postar um comentário, mas só quando eu parar de chorar...