Todo ano, o mês de novembro sempre tempo de homenagens ao poeta grapiúna Sosígenes Costa, o qual já inicia, no dia cinco, fazendo anos de morto, para logo no dia 14 completar anos de seu nascimento. É hora de olhar o que aconteceu com o nome e a poesia de Sosígenes Costa, inclusive para entender este momento. Autor de apenas um livro em vida, Obra Poética, da Editora Leitura, publicado em1959, e já admirado por um círculo de amigos, como Jorge Amado e James Amado, Florisvaldo Matos e Clóvis Moura, só para citar alguns, o autor prometia, na folha de rosto da edição reunida, outras obras e, entre elas, estava a Obra Poética II. Mudou-se para o Rio de Janeiro e lá morreu em 1968, como já foi dito, no dia 5 de novembro.
Na década de 70, James Amado despertou no poeta e ensaísta paulista José Paulo Paes o interesse pela poesia de Sosígenes Marinho da Costa. Isto se traduziu numa série de esforços para inserir o poeta grapiúna na história da literatura brasileira. Surgiu a pequena antologia de poemas sosigenesianos, acompanhada de uma "Tentativa de descrição crítica da poesia de Sosígenes Costa", subtítulo do volume Pavão Parlenda Paraíso (Cultrix, 1977), obra que testemunha a admiração de Paes. No ano seguinte, àquela Obra Poética II, prometida pelo autor na folha de rosto da edição de seu único livro, foi acrescentada a reedição da Obra Poética da Editora Leitura e, mais uma vez, em volume organizado por José Paulo Paes, a Cultrix continuava editando tais trabalhos. Não ficou nisto: o poema modernista "Iararana" só figurava na edição da Leitura como "Trecho de Iararana", mas veio a lume na íntegra, ainda pela Cultrix, junto ao MEC, em 1979, precedida, mais uma vez, de um importante estudo de Paes sobre o poema.
Há, é claro, o mérito da grande poesia movendo tudo isto. Mas temos que ser justos, e reconhecer que sempre encontramos o admirador James Amado animando os projetos, não deixando que o trabalho ficasse apenas na intenção. Em vários momentos, no estudo sobre a obra feito por José Paulo Paes, constatamos como a avaliação do ensaísta está recheada de informações cedidas por James, que ajudam a completar a figura do homem e o entendimento de sua poesia. No início dos anos 90, James Amado atuou novamente como incentivador de outro estudo que resultou no livrinho Sosígenes Costa: O Poeta Grego da Bahia (EGBA, FUNCEB, 1996), com título elaborado em torno da maneira como James certa feita referiu-se a Sosígenes: "o poeta grego da zona do cacau". Durante a década de 90, o poeta Florisvaldo Matos foi também incansável na publicação, no caderno Cultural de A TARDE, de artigos, ensaios e poemas dedicados a Sosígenes Costa. E, no final dos 90, em 1998, surgiu a revista iararana, recebendo o nome do poema da saga do cacau, como uma maneira de prestar homenagem constante ao poeta. A revista conta com dois sosigenesianos igualmente lutadores, os escritores Aleilton Fonseca e Carlos Ribeiro. Em Ilhéus,quando era Secretário de Cultura, o escritor Hélio Pólvora foi responsável por edições de três livros: a reedição da obra, Poesia Completa (Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo, Conselho de Cultura, 2001; iniciativa da Fundação Cultural de Ilhéus), a obra do Sosígenes cronista, Crônicas & Poemas Recolhidos (Fundação Cultural de Ilhéus, 2001) coletada por Gilfrancisco Santos e, ainda, uma coletânea de textos que prestam reverência ao poeta, A Sosígenes, com Afeto (Edições Cidade da Bahia; Fundação Gregório de Mattos, 2001). Por fim, um CD com poemas de Sosígenes. Tudo isto produto do monumental labor do contista de O Rei dos Surubins e cronista da coluna Conversas do Caderno 2 de A TARDE.
A admiração é a mola mestra que está fazendo crescer este rol de apreciadores do autor de "Iararana", "Duas Festas no Mar", "Tornou-me o pôr-do-sol um nobre entre os rapazes" e tantas outras peças poéticas tão surpreendentemente originais, pois nada há na poesia brasileira que se lhes assemelhe. Temos que continuar assistindo a muitas homenagens e temos que continuar espalhando a admiração pelo valor poético do autor dos famosos sonetos pavônicos, sonetos simbolistas impregnados com uma nota barroca, que encantam. Reconhecemos o poeta nascido em 1901, em Belmonte, Bahia, mas temos que reconhecer que, se hoje sua poesia está tão viva, isto se deve, para além da força de sua obra, ao empenho daqueles que não a deixaram ser vítima do injusto esquecimento.
Gerana Damulakis é autora de Sosígenes Costa: O Poeta Grego da Bahia (EGBA, FUNCEB, 1996)
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