As Conversas com Hélio Pólvora realmente
existiram, e não somente nas entrevistas que são publicadas neste livro. Foram
conversas que se tornaram uma única conversa ao longo de mais de vinte anos, do
momento em que se conheceram àquele final em que ele partiu, deixando um imenso
vazio em todos aqueles que o conheceram ou o leram.
O que uniu Gerana Damulakis e Hélio Pólvora,
tornando-os grandes amigos e grandes interlocutores, foi o amor de ambos pela
literatura, mas, principalmente, pela leitura. Grandes e apaixonados leitores,
e não apenas dos consagrados, mas também dos que surgiam no cenário inesgotável
das letras, eles tinham como assunto principal autores e obras, que discutiam à
exaustão e com um enorme prazer em fazê-lo. Não foram poucas as vezes que leram
propositadamente ao mesmo tempo os mesmos livros, com o intuito de trocarem
ideias, durante e após a leitura.
Mas não apenas. Publicavam, ambos, com
regularidade, resenhas e pequenos ensaios no Caderno Cultural de A Tarde. Gerana manteve, durante quatro
anos, uma coluna semanal de crítica literária no Caderno 2 desse mesmo jornal,
e ele a considerava a sua crítica oficial, encarregando-a de fazer as primeiras
resenhas de seus novos livros, em jornais e periódicos. Também as entrevistas. Hélio
não gostava de falar dele mesmo e de sua vida pessoal, talvez porque para ele o
principal não fosse ele próprio, mas a sua obra. Escolhia Gerana Damulakis para
entrevistá-lo, porque ela, além de conhecer profundamente a sua obra, e admirá-la,
fazia-lhe, nas entrevistas, perguntas que diziam respeito à literatura, e não à
vida pessoal do escritor. O resultado desse exercício permanente de
cumplicidade e troca literária, encontra-se neste livro, escrito, na verdade,
ao longo desses mais de vinte anos de convivência.
Por tudo isso, mas não unicamente pelo
compromisso afetivo com o autor objeto desta obra, a sucessora de Hélio Pólvora
na Cadeira número 29 da Academia de Letras da Bahia, a crítica literária e
leitora Gerana Damulakis não podia deixar que se perdessem essas conversas,
documentos que são da visão literária, da experiência, do conhecimento, do
talento e da arte desse excepcional escritor que foi Hélio Pólvora, cuja obra
de ficcionista é um patrimônio perpétuo da Bahia, a ser mais conhecida em todo
o país.
Às entrevistas, a autora destas Conversas acrescentou textos seus sobre
o escritor, publicados também ao longo desses muitos anos, exemplos de sua
visão crítica, e que são outras tantas conversas, já que, ao serem dados a
público em jornal, foram, na ocasião, lidos e comentados pelo próprio Hélio.
Aramis
Ribeiro Costa
2 comentários:
Prezada Gerana,
Eu li do Hélio Pólvora apenas os "Melhores Contos" com seleção do André Seffrin. Me impressionou a capacidade com que ele "construía literatura" narrando episódios banais. Tem um conto no livro chamado "Casamento" que é quase sem um enredo propriamente dito, a beleza dele está na narrativa.
Abraço,
João Renato.
espero leerlo en breve
abrazo grande
Postar um comentário