segunda-feira, 11 de outubro de 2010

"O LEITOR TORNOU-SE O LIVRO"


Gerana Damulakis

Um poema para o leitor. De Wallace Stevens (1879-1955). Creio que outras palavras não sejam necessárias.

A CASA ESTAVA QUIETA E O MUNDO ESTAVA CALMO

--------------------------Wallace Stevens

A casa estava quieta e o mundo estava calmo.
O leitor tornou-se o livro; e a noite de estio

era como o ser consciente do livro.
A casa estava quieta e o mundo estava calmo.

As palavras eram faladas qual se não houvesse livro;
mas o leitor sobre a página se curvava,

queria curvar-se, queria muito ser
o sábio para quem seu livro é verdadeiro

e a noite de estio é como a perfeição do pensamento.
A casa estava quieta e o mundo estava calmo.

A paz era parte do sentido e do espírito:
o acesso da perfeição à página.

E o mundo estava calmo. A verdade em tal mundo,
onde não há outro sentido, ela própria,

é calma, ela própria é noite e estio, ela própria
é o leitor curvado até tarde e lendo ali.

Tradução de Abgar Renault in Poesia: tradução e versão (Record, 1994).

Ilustração: Mulher lendo, de Alexander Deineka (1899-1969).

29 comentários:

José Carlos Brandão disse...

Gosto muito desse poema.

Feliz Dia das Crianças, Gerana.
O poeta é uma eterna criança. É a criança que se esqueceu de crescer.

Jefferson Bessa disse...

a verdade, o livro, o leitor: uma coisa só. Gosto muito de Wallace Stevens. Quando releio este poema é como se nunca o tivesse lido antes.
Belo poema, Gerana! Belo mesmo.
Um beijo.
Jefferson.

Zélia Guardiano disse...

Gerana querida
Post lindo, emocionante!
Poema para mexer com a alma da gente, neste feriado especial, preenchido de distintos significados.
Grande abraço, amiga!

Claudio Sousa Pereira disse...

Um paralelismo entre o arco crespuscular do globo te com o ato de leitura. Poema de acentuado sabor surrealista. Não se sabe, querida Gerana, Wallace Stevens é um dos autores o quais Abgar Renault dialoga em sua obra poética. Muito do que se lê, (da pouca divulgada e grande poesia) do Abgar, aparenta-se com esse belo poema.

E traduzido em verso medido: trata-se deos versos alexandrinos "sui generis", entre os quais observam-se alexandrinos trímeros, tetranapésticos e de cesura mediana (franceses). Operação esta que não é fácil!

Ótima sugestão de leitura, meus parabéns, Paulo Tuba.

Paula: pesponteando disse...

GOSTEI DE COMO ESTE TEXTO REPRODUZ O ESPIRITO DO LEITOR COMPENETRADO. PORÉM, EU COMO LEITORA, TROCARIA A NOITE PELA MANHÃ. cONSIGO ESTAR SOZINHA NO MUNDO COM UM LIVRO DURANTE AS MANHÃS, PRINCIPALMENTE AQUELAS EM QUE OS LIVROS ME CHAMAM, COMO ESTA DE HOJE...
VOU ALÍ DESCOBRIR QUAL DELES ME CHAMA...

BJS

João Renato disse...

Olá, Gerana,
Muito bonito.
Uma ocasião, lendo um conto de Hemingway sobre tourada, lembro que a história me tomou tanto que eu tornei-me o livro.
Quando acabei,tinha a impressão de que havia sido todos os personagens e vivido todas as suas emoções.
Abraço,
JR.

Lidi disse...

Tens razão, mais palavras não são necessárias. Belíssimo poema. Adoro vir aqui nesta tua casa, Gerana. Ah, já te falei que adoro as ilustrações dos teus posts? Bjs

Nilson Barcelli disse...

"e a noite de estio é como a perfeição do pensamento."

Um magnífico poema, para ser lido e relido.

Beijos, querida amiga.

silvia zappia disse...

cuántas veces nos hemos vuelto libro...!
hermoso poema de Stevens.

besos*

Ana Tapadas disse...

Excelente!
A fruição de ler, perfeitamente ilustrada. Só o poeta o poderia dizer assim.
Gerana, esse poema resume a minha vida, desde menina, desse acto fiz profissão, por isso sou feliz mesmo trabalhando.
Beijo

Anônimo disse...

Estou me tornando o seu blog.
bj

Anônimo disse...

Tal e qual!
Gerana, não existe sensação mais profunda e abrangente para mim, do que mergulhar num livro.

E teu blog, ele próprio é noite e estio, leveza e subterrâneos, segredos e doçuras.

Gerana... que bom pode ter um pedacinho de vc todo dia!

Jorge Manuel Brasil Mesquita disse...

Lá pelos da nossa mente nós somos o que lemos, lendo o que não se lê, mas em tudo o que se vê há os olhos cansados das leituras que se escondem nos livros que nos descansam.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Lisboa, 13/10/2010

Unknown disse...

junção, conjunção: transcendência. eis o mistério da literatura. belo poema


abraço

Sueli Maia (Mai) disse...

E um era o outro porque o outro era o mesmo um. E o leitor era casa, mundo, livro.

Você faz bem e espalha letras.

abraços de admiração, Gerana.

dade amorim disse...

Stevens expressa o sentido maior da leitura, nesse poema lindo e verdadeiro.

Um beijo.

dade amorim disse...

Stevens expressa o sentido maior da leitura, nesse poema lindo e verdadeiro.

Um beijo.

TV SalvadorNews disse...

Oi Gerana,
Vi o seu comentário no meu blog. Obrigado pelos elogios. A propósito, você achou a mesma coisa ver a minha bancada de frente, como você sempre vê no jornal, e depois vê- la de lado, mostrando todo o improviso que eu faço durante o programa?

lima trindade disse...

Que coisa mais linda, Gerana! Tenho um livro do Wallace da Cia das Letras, mas não me recordo o nome do tradutor, acho que é o Zé Paulo... Abraços!

Lisarda disse...

Qué beleza!!É o ideal do verdadeiro leitor.

Bípede Falante disse...

Adorei, G.
Não acredito em leitores que não se misturam com os livros, que não se incorporam a eles, que não trocam a pele pelo papel.
beijo

aeronauta disse...

Poema que não conhecia, belo demais. "A propósito" (como diria meu lindinho aí em cima), como você nos dá lindos posts!

Eleonora Marino Duarte disse...

gerana,

é um poema muito bonito, eu o tenho por aqui na mesa...

os livros são meu lugar de adoração. eu não imagino minha vida sem um livro por perto. estou sempre raptada por uma leitura. é um prazer íntimo e pessoal indescritível.

o seu blog vai nos estimulando a querer cada vez mais e mais e mais e mais...

um beijo, querida.

Nilson disse...

Beleza de poema. Um transe!

gláucia lemos disse...

Quem vê o tempo passar quando está preso em uma boa leitura? Os verdadeiros escritores são aqueles que seguram o leitor e o levam a entrar nas suas páginas, vivendo o que elas trazem para dizer. É com esses a minha conversa de leitora.

Anônimo disse...

Querida Gerana, minha flor....fiquei meio impossibilitada estes dias. Aconteceu de tudo, mas tá tudo bem agora.

Gostei tanto da tua lembrança e de tua super lembrança de nosso futuro ... ficarei deliciada. Sério, contando os dias. Viajo dia 24.... até lá, nos falamos melhor.Te adoro, Gerana querida.

Andrea de Godoy Neto disse...

Gerana, que poema mais lindo esse! Verdadeiro sentido da leitura.

obrigada por tuas visitas ao 'Olhar',
considero imensamente tuas palavras.

beijos

Fernando Campanella disse...

Gostei muito do poema, Gerana, senti nele algo como a sintonia entre mundos,quando tudo se harmoniza. Engraçado que me lembro de minhas leituras da adolescência, e o aroma do livro, o quarto onde eu lia, o vento, se havia, ou a chuva... tudo me vêm à mente.E de tudo que me formou agora tento criar alguma arte. Literatura é transporte, é integração.
Grande abraço.

Unknown disse...

De fato, Stevens é muito grande. É um dos meus prediletos, sempre o tenho aqui atrás, para os momentos de dúvidas e de incertezas. Ele dá ânimo e lucidez.
Ótima a sua lembrança, como disse antes. Beijos.