sábado, 22 de maio de 2010

SEM VOCÊ



AUSÊNCIA: Todo episódio de linguagem que põe em cena a ausência do objeto amado - quisquer que sejam a causa e a duração - e tende a transformar essa ausência em prova de abandono.
Roland Barthes in Fragmentos de um discurso amoroso (Francisco Alves Editora, 1991).

Sinto sua ausência hoje e enquanto viver sentirei, porque você é sinônimo de amor, do meu amor maior. Hoje você faria aniversário. Faria, não faz mais. Dentro de mim, todavia, você existe com todo potencial de amor que sempre despertou. Como uma criança aprende o que é o amor? Eu aprendi cedo com cada troca de olhar, com minhas latas de pêssego trazidas logo numa caixa grande repleta, para que a criança que gostava de pêssegos não deixasse de tê-los momento algum. Prestar atenção à satisfação do outro, olhar para ela falando com as meninas dos olhos (eu era sua menina dos olhos, você disse), e isso tudo é amor, o primeiro e o único que atravessa a vida sem altos e baixos. Firme e forte na presença e na ausência de hoje, um 22 de maio sem você, meu pai.
GD

Ilustração: Rosa Meditativa, de Salvador Dalí.

27 comentários:

Unknown disse...

Sem palavras. Abraço

BAR DO BARDO disse...

Obra de arte, memorial do coração...

nydia bonetti disse...

22 de maio - hoje meu pai também faria aniversário - 85 anos, gerana. nem pode imaginar quanto este texto me toca. claro que pode... beijo enorme.

Anônimo disse...

"Dentro de mim, todavia, você existe com todo potencial de amor que sempre despertou."
Lindo demais Gerana. É por aí.
Um abraço carinhoso.

aeronauta disse...

Profundamente lindo esse seu inteiro fragmento amoroso. Por demais comovente. Um abraço.

glaucia lemos disse...

Pai é eterno mesmo. Como digo sempre, o único amor do qual não se duvida, o único homem na vida de uma mulher. Os demais serão ou não.

Lisarda disse...

Cara amiga, um abraço neste día.

Bípede Falante disse...

A gente tem uma sensação de desamparo desde que nasce. Quando alguém falta, ela parece mais forte.

Adriana Riess Karnal disse...

Barthes falando de amor é tocante...há muita sensibilidade na adoração paterna dele.

Pena disse...

Fabulosa Amiga:
Um texto sublime de maravilhar e encantar, mesmo na ausência da pessoa amada.
Creio, que os seus olhos lindos farão que a poesia extraordinária e soberba o faça regressar.
Ele não pode ficar indiferente? Ninguém o pode perante tanta pureza, beleza e encanto.
Beijinhos amigos de parabéns sinceros pelo seu divinal sentir doce.
Com constante admiração pelo que "faz" e pelo blogue de luz que possui.

pena

MUITO OBRIGADO pela simpatia.
Bem-Haja, terna e linda amiga.
Adorei. Ele há-de adorar se tiver sentimentos puros.
Força.

Muadiê Maria disse...

um beijo.

M. disse...

Até hoje guardo a carta que não tive tempo de enviar para o meu pai. Ainda estou a caminho do adeus...

Beijos,

M.

Ana Tapadas disse...

Pertenço a uma geração que respirou R. Barthes na faculdade, mas fiquei a entendê-lo na vida...sei do que falas: fragmentos da tua memória de afectos, fragmentos do teu «discurso amoroso» que, pelo que nos confessas, tem sabor de saudade e não de «cacografia», como diria Barthes a propósito de discursos sem afecto.
Que bom teres essa recordação. O meu é lugar de uma ausência.Morreu há anos, mas o lugar dele sempre foi de meu padrinho/padrasto, que acabo de deixar depois de visita. Nos seus 82 anos, hoje, senti alguma amargura ao olhá-lo e ...medo.
Beijo, amiga
Beijinho

Ana Tapadas disse...

Pertenço a uma geração que respirou R. Barthes na faculdade, mas fiquei a entendê-lo na vida...sei do que falas: fragmentos da tua memória de afectos, fragmentos do teu «discurso amoroso» que, pelo que nos confessas, tem sabor de saudade e não de «cacografia», como diria Barthes a propósito de discursos sem afecto.
Que bom teres essa recordação. O meu é lugar de uma ausência.Morreu há anos, mas o lugar dele sempre foi de meu padrinho/padrasto, que acabo de deixar depois de visita. Nos seus 82 anos, hoje, senti alguma amargura ao olhá-lo e ...medo.
Beijo, amiga
Beijinho

Juan Moravagine Carneiro disse...

Sou suspeito em falar de Roland Barthes...ler o mesmo mudou minha maneira de perceber as coisas...

belo post

e agradecido pelas visitas ao Rembrandt

abraço

Jefferson Bessa disse...

Que texto bonito, Gerana! A grande sensibilidade que diz um texto entre a ausência e a presença.

"Prestar atenção à satisfação do outro..." Lindo!

Beijos.
Jefferson.

cduxa disse...

Um abraço Gerana.

Tania regina Contreiras disse...

Citação de um livro que amo do Barthes, Gerana, em homenagem ao pai (também falava do meu hoje e dessa saudade imensa que dá), ao mesmo tempo em que dediquei o post de hoje a um poeta que foi poetizar noutra dimensão. Tudo nessa sincronicidade bonita, indício de que não caminhamos soltos, ao abandono, pois há sempre o SENTIDO MAIOR nos guiando.
Lindo post!
Beijos,
Tânia

Nilson disse...

Como não se emocionar com essa entrega a um amor que resiste, como não pensar, como Chorik, em tramas espirituais? Belo texto, Gerana!

Flamarion Silva disse...

Meu abraço.

silvia zappia disse...

me acordé de la niña que fui, y de mi padre,que aún vive, y que está a muchos kilómetros de mí
saudade...

un abrazo fuerte,Gerana*

Eleonora Marino Duarte disse...

querida,

que texto comovente.


um grande beijo para você!

Jairo Cerqueira disse...

Profundo. Também sinto esse gosto amargo na boca.
Um abraço.

claudio rodrigues disse...

Meu coração é todo lágrimas. Que lindo texto. Poesia fecunda. O amor puro nessas palavras. Que bonito, meu Deus.

Edu O. disse...

Tive que parar aqui. Fui me emocionando, adorando ler João Cabral, Saramago, você.

Voltei de viagem com uma saudade dos meus blogs amigos, das minhas madrugadas acompanhadas de palavras.

Fernando Campanella disse...

Outra bela homenagem. Os amados que partiram vivem conosco e viveremos nos que amam, eternamente.

Spartacus disse...

nossa muito bom esse texto poetico
profundo, ambiguo ...
parabéns