Gerana Damulakis
Levei um certo tempo para encontrar o rápido diálogo, no qual Platão mostra Sócrates interrogando um personagem chamado Laches sobre a natureza da coragem. Tal texto me deixou extasiada desde a adolescência e, ao longo da vida, retornei a ele.
SÓCRATES: Tenho certeza, Laches, de que consideras a coragem uma qualidade muito nobre.
LACHES: Muito nobre, decerto.
SÓCRATES: E julgas que uma persistência sensata seja também boa e nobre?
LACHES: Muito nobre.
SÓCRATES: Mas, que dirias de uma persistência insensata? Não deve ser considerada, ao contrário, má e prejudicial?
LACHES: É verdade.
SÓCRATES: Olha então o caso de um homem que persiste na guerra, está disposto a lutar, e sensatamente calcula e sabe que outros o ajudarão. Sabe também que haverá contra ele menos homens, e inferiores aos que estão ao lado dele, e supõe que tem ainda a vantagem da posição. Dirias de tal homem... que ele ou algum homem no exército contrário, que está em circunstâncias opostas a estas, e que apesar disso persiste e fica no seu posto, qual é o mais bravo dos dois?
LACHES: Acho... que é o segundo, Sócrates.
SÓCRATES: Mas isso não é decerto uma peristência insensata?
LACHES: É verdade.
Ilustração: A Morte de Sócrates, por Jacques-Louis David.
18 comentários:
A persistência, a coragem, a sensatez. Onde está o limite da virtude?
abraço
Esse diálogo é para ser lido a vida inteira mesmo. Que grandes verdades contém!
E então, fico como Laches, sem saber ao certo se a coragem é uma virtude ou não.
Viva a dialética!
Nossa, um diálogo desses era para não esquecer nunca mesmo! Também eu não esquecerei...
Abraços
Menina, você, quer dizer, Sócrates me encalacrou... Persistir, mas saber a hora de desistir também, não é? Beijo, ótimo final de semana.
Estou quase me sentindo assim...
Belo Fragmentando...recortado de maneira sútil em meio ao "excesso" que nos encontramos...
Bela imagem
Bela colagem
Belo post
E agredecido pela visita ao Rembrandt!
Os diálogos platónicos são uma contínua fonte de asombros e de vías para chegar ao conhecimiento das coisas.É oportuno lembrá-os.
Incrível diálogo.
Fico extasiada com suas leituras.
Dizem que cágado tira olhados, energias ruins, sei também que é o animal de Xangô, o orixá da justiça. Acabei de saber que há também um dizer que casa onde tem cágado, filho fica agarrado na saia da mãe.
Gerana,obrigadíssima pelo encantadíssima. Eu tive que ler três vezes.
Um beijo,
Martha
Quem sou eu para meter minha colher no caldeirão de Sócrates com Laches? Modestamente, acho que a coragem é uma virtude a depender da situação. Tanto pode ser nobre quanto pode ser imprudente, as circunstâncias definirão. Valeu muito a reprodução do texto.
Maria Mudiaê, sobre cágados também dizem que em casa na qual há cágados ninguém sofrerá de erisipela.
Sócrates não nos deixa escapula. Mas por que será que penso em Kafka?
Um grande abraço.
Gerana,
Quem traz à luz as dúvidas escondidas sob certezas torna-se leve por sabedoria e justiça, e arrisca-se ao peso da solidão e da tristeza.
Abraço, e bom domingo.
JR.
Não sei por que ao ler esse trecho pensei na persistência nuclear do Irã. Eles demonstram tanta coragem, desafiam o mundo, persistem, persistem... e pensei também na Coreia do Norte. Não seria uma insensatez persistir em uma coragem à custa de tanta repressão nos países onde vivem? E a resistência Palestina não teria outros meios , digo, pela educação, de se fazer ouvir? Gandhi nos provou que sim.
Grande abraço.
Obrigado por nos presentear com mais um dos importantes momentos da maiêutica socrática.
Visitei e fiquei.
Um abraço!
A insensatez move o mundo. Custe o que custar!!!
A insensatez move o mundo. Custe o que custar!!!
muito significativo!
Concordo com um comentário anterior: é a insensatez que move o mundo. O sacrifício dos insensatos é necessário ao progresso. E Sócrates (este aqui, não o da minha terrinha) é um exemplo bem elucidativo quanto a isso - a sua morte não foi uma insensatez? Claro que sim. Mas não terá sido, em grande parte, o seu sacrifício que deu às suas ideias o ímpeto imparável que se arrasta por toda a história da humanidade após ele?
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