Gerana Damulakis
Os poemas do romantismo brasileiro não costumam me envolver, mas seria algo típico de juízos apressados generalizar e rapidamente engessar opiniões e colocar rótulos. Não costumam me envolver, pois que seus versos são derramados em demasia, contudo e ainda assim não me conformo e encontro valores: nada é apenas isto, ou apenas aquilo. O poema "Ilusões da vida", de Francisco Otaviano (1825-1889) vale ser decorado, citado e declamado. E vale ser lembrado, até para nosso uso cotidiano. Sem romantismo.
ILUSÕES DA VIDA
----------Francisco Otaviano
Quem passou pela vida em branca nuvem,
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu;
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.
Ilustração: Detail from The Dreaming Youths - Sleeping Girl, Oskar Kokoschka.
18 comentários:
Este é um poema do qual sempre gostei, sabe? Não sei, garimpando, garimpando... há ouro em toda parte. Boas lembranças este poema me traz, e você as trouxe nesta manhã.
Beijos
Vinícius, creio eu, dialoga com este poema no samba canção Como dizia o poeta. Ilusões da vida é um belo exemplar do romantismo. abraço
Sem ilusões, é isso.
Também gosto desse poema.
Beijo.
Concordo.
Um vigor, lírico com ventos e nuanças.Belo poema!!!Uma aprsentação convidativa.
Gerana: Quando eu andava pelos meus 10 anos, encontrei lá em casa um livro de capa dura, marron, letras doiradas e muitos arabescos doirados na capa, autor Francisco Otaviano, título Últimas poesias. Estes versos que hoje você publicou estavam nele. Passei vários dias andando com o livro embaixo do braço, para onde quer que fosse. Relendo-o, senti-me outra vez aquela menina, encantada com tanto romantismo.
ah! daí que vem aquela música:
"Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não..."
Vinicius de Moraes
Eu gosto muito. Gosto de derramações, se é que essa palavra existe :)
É verdade, Gerana, é um poema para lembrar sempre.
Os rótulos...são isso, rótulos.
Engraçado, me lembrou Vinícius de Moraes naquela canção, Como dizia o poeta.
Bj
Olá, Gerana,
Outro dia, li um texto incrível do Borges em que ele citava uma frase de Flaubert - "Quando um verso é bom, perde sua escola" -, e completava com suas próprias palavras: "quando um poeta acerta, acerta para sempre, e não interessa muito que estética professe, ou em que época tenha sido escrito: esse verso é bom, e é bom para sempre".
Eu sinto isso em alguns poemas da Antologia Palatina e do Cancioneiro Geral, que bem poderiam ter sido escritos na semana passada, assim como esse do Francisco Otaviano.
Abraço,
JR.
Ouvi primeiro esse poema dito por meu pai, durante uma reunião em família. Deve ter sido um recado, não lembro. Mas o poema ficou.
Este poema me faz voltar no tempo, Gerana. Acho impossivel um adolescente não se encantar com ele - até hoje. Tem uma força impressionante, soa como um alerta ou um presságio, talvez. beijo.
Querida Gerana:
Não conhecia o poema, mas encerra uma grande verdade e força significante, para lá do convencionalismo de corrente estética. Vou copiar, sem pudor, pois poderia ser um lema para a minha existência, assim fico a saber que, de facto, vivi.
Beijinho e feliz Domingo
Ah, Gerana, este poema é lindo!
Sem lamentações...!
...Intenso e ao mesmo tempo calmo o seu espaço...Legal...
No quilo!!!
Isso é uma jóia, eu me lembro da minha mãe declamando. Sabe Gerana, ontem ela fez aniversário, mas ela já morreu. Mas tudo bem. O que quero dizer, é que esse é o presente da minha mãe. Vou ler em voz alta....obrigada querida.
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