domingo, 18 de outubro de 2009

A BOLAÑO-MANIA

Gerana Damulakis

Na Folha de São Paulo, em dezembro do ano passado, li este parágrafo:
"Os Estados Unidos vivem hoje duas manias. A Obama-mania e a Bolaño-mania." A frase é de ninguém menos que Andrew Wylie, um dos mais importantes agentes literários do mundo. O representante de autores como Philip Roth, Saul Bellow e Norman Mailer declarou à Folha que, em 30 anos de atuação no mercado editorial, jamais havia observado um fenômeno de vendas como o que está sendo alcançado pelo chileno Roberto Bolaño (1953-2003).
Para nós, abaixo da linha do Equador, o sucesso de Bolaño não é novidade.
Tive que retomar Putas Assassinas (Companhia das Letras, 2008) porque Bolaño inscreveu em mim a imagem do poeta francês Gui Rosey, que o rapaz chamado B está lendo, no conto "Últimos entardeceres na terra", e ela insistia em voltar, assim como era uma imagem recorrente para o personagem B. Voltando, concluo que a habilidade narrativa de Bolaño é algo fascinante e envolvente. Lembrei de Noturno do Chile (Companhia das Letras, 2004) com seus 2 parágrafos, sendo o último composto por poucas palavras. É cortante. É único.
Comentei com Rute Oliveira do blog À volta das letras (http://avoltadasletras.blogspot.com/, ou entrada pelos meus favoritos) que a leitura dos textos de Bolaño me causam uma certa melancolia. O prazer estético supera a melancolia, mas tenho que ser sincera e assumir a tristeza que me toma. Por vezes, sinto que ele traz a completa falta de sentido da vida e coloca isto na frente do leitor. O que importa, porém, o que sinto? A leitora abandona os sentimentos para colocar a mirada na literatura, só que Roberto Bolaño é tão estupendo que a manobra fica difícil.

Daí lembro da exclamação que José Mário Silva colocou no seu blog Bibliotecário de Babel (http://bibliotecariodebabel.com/, ou entrada pelos meus favoritos) quando terminou a leitura do livro 2666. E com ele, José Mário, aconteceu o que estou tentando dizer: o sentimento do leitor foi maior, mais pungente. É o que ocorre: o sentimento chega com uma incrível força, capaz de colocar o crítico, o observador da literatura, em segundo plano, pois apenas mais tarde, na tranquilidade da emoção já no passado ( isso lembra Wordworth) é que se torna viável uma análise.
Em tempo: na ocasião, a exclamação de José Mário Silva foi a crítica mais perfeita que alguém poderia ter feito a um livro: a expressão verdadeira, a autenticidade do sentimento. Ao fim e ao cabo, literatura não se ensina, se sente.

9 comentários:

Muadiê Maria disse...

pôxa, nunca li Bolaño.

Totoia disse...

Quando iniciei o 2666 não percebi de imediato esta excitação à volta de Bolãno. Mas à medida que fui avançado nesta leitura, fui invadida por vários sentimentos. A tristeza, a sensação de decadência e algum horror na forma como é descrito os homidicios das mulheres. A escrita é dura, de tal forma que interrompo a leitura por não aguentar, mas como um vicio incontrolável rapidamente volto lá...

Ana Tapadas disse...

Nunca li,confesso. Aqui do outro lado do mar é mal conhecido.
Obrigada pelo post. Já fiquei mais rica e tenho que conhecer.
bj

anna disse...

Li Noturno do Chile. Resumo: um exagero de talento.

pereira disse...

Houve a Saramago-mania, a Roth-mania, a Kadaré-mania. Parece que precisamos disso.
Bolaño tem um estilo que suscita a vontade de não parar a leitura, é o escritor que pega o leitor pela mão. A hora é (já há algum tempo, diga-se), portanto de Roberto Bolaño.

João Filho disse...

Gerana, a recuperação é lenta, mas gradual. Estou cada vez melhor, já posso andar e dormir deitado. Obrigado pela preocupação. E vc como está?

Lima disse...

uau!!! eu também não li o bolaño, mas adorei seu texto, gerana, senti urgência da prosa do chileno, de parar tudo, mergulhar.

Lidi disse...

Fiquei morrendo de vontade de ler algo dele.

Caio Rudá de Oliveira disse...

Bolaño é um narrador como poucos mesmo. Para mim, autor de um dos melhores contos que já li, O Retorno.