quinta-feira, 10 de setembro de 2009

HAVERÁ POR CERTO UM TEMPO

Gerana Damulakis

Houve um momento, há alguns meses, quando fiquei com vontade de não atualizar mais o blog. Deixei passar. Perto do aniversário de 2 anos, senti outra vez a vontade de parar. Chegou o dia 2 de setembro, o blog fez 2 anos e eu continuei. Todavia, às vezes sentimos as coisas de antemão e, realmente, ocorreu um fato que consolidou o que já vinha crescendo dentro de mim: a vontade de parar com as atualizações.
A finalidade do blog não foi colocar textos sobre meus sentimentos, minha visão do mundo, ou os fatos que aconteceram na minha vida (embora tenha feito isso em poucas ocasiões, que nem cabem nos dedos das minhas mãos). O próprio título (título? só penso em livros!), Leitora Crítica, aponta para o mundo dos livros e, de quebra, faz uma ponte com a coluna semanal que tive no Caderno 2, do jornal A Tarde, por 4 anos inteiros, chamada Leitura Crítica.
Depois de um intervalo fora do meio literário, por luto e tristeza imensos, fui retomando o contato. Primeiramente, graças a Ildásio Tavares, que me chamou para assinar a coluna Olho Crítico na Tribuna, em 2007. Iniciei o blog para reproduzir a coluna. Depois, Luís Antonio Cajazeira Ramos me chamou para uma reunião literária no primeiro semestre de 2008, a qual me tirou definitivamente da reclusão, pois que ela vem ocorrendo, desde então, mensalmente.
Voltei a frequentar a Academia de Letras da Bahia, onde as pessoas sempre me acolheram muito bem e onde recebo muito carinho, principalmente por parte dos que me conhecem há bastante tempo. Mas, o tempo — tempo, o implacável — não me deixou impune: vejo que tanta coisa mudou, ou ficou mais evidente. Não na Academia, mas no mundo literário.
Conversando com Hélio Pólvora sobre algo que temos em comum, o prazer imensurável pela leitura, concordamos que o melhor mesmo é ler. O mundo literário não me faz falta, os livros fazem. Com a parada das atualizações neste blog, quase que encerro parafraseando José Saramago, que se despediu do dele (O Caderno de José Saramago) faz pouco tempo, mas vou resistir. Não resisto, no entanto, a fazer os agradecimentos a todos que colaboraram no Leitora. Foi uma honra para mim todas as vezes que algum(a) escritor(a) enviou um texto para o blog.
Um agradecimento especial vai para Gláucia Lemos, a escritora que mais esteve presente e que aqui fez nascer um livro de crônicas, o seu 34º título.


And indeed there will be time...
T. S. Eliot, in The Love Song of J. Alfred Prufrock

30 comentários:

Kátia Borges disse...

Oi, Gerana, diante de seu texto, o primeiro impulso é fazer um apelo para que não pare. Mas vou apenas e tão somente agradecer. Pelo apoio, pela amizade, pelas ideias e leituras compartilhadas, pelas risadas, pelas lembranças e saudades, igualmente divididas, pela sinceridade. Quando quiser, retome seus posts. Se não quiser, deixe assim. Que a vida e a literura são maiores. Um beijo

Anônimo disse...

Pois, marromeno assim. Deixa aberto. Se o prazer da leitura é o prazer da leitura, para uma leitora crítica a crítica, imagino, deve ser prazerosa. Deixa aberto, em aberto. Se der vontade... não custa.

aeronauta disse...

É uma pena realmente. Você foi mais corajosa do que eu: tentei diversas vezes e não consegui.
Espero que tenha recaídas.
Um abraço.

glaucia lemos disse...

GErana, estou emocionada pelas suas palavras de agradecimento e lhe afirmo que se alguém ficou sempre muito feliz por participar do seu blog tão seleto, tão criterioso, essa fui eu. Lamento que você interrompa o Leitora crítica, por outro lado, respeito tudo o que alguém resolve fazer por lhe parecer conveniente. Sempre digo que o mais importante é que uma pessoa sinta que está exercitando sua independência e seu direito de ser e de querer. Tenho por você sincero afeto.

karina rabinovitz disse...

e eu que cheguei por aqui a tão pouco tempo...

nem girei nessa roda com você.

sigamos então e nos encontramos pelos caminhos.

Luiz Britto disse...

Gerana,

lastimo o encerramento do seu blog. Faço a leitura diária do mesmo, verifico sempre as novas entradas. Vai haver uma lacuna. Jovens poetas, aprendizes, gente que gosta de literatura, todos ficam sem um importante veículo, ponto de encontro, etc.

Entendo que deva dar trabalho manter um blog, estar constantemente atualizando-o, inserindo novos textos --- mas o trabalho compensa, se é feito com gosto.

Acho que assim vai se reduzindo o ambiente cultural, literário da terra. Fecham-se as livrarias, abrem-se mais botecos, blogs culturais têm vida curta, blogs de fofocas & pipocas têm vida longa. Ninguém gosta de pensar ou de sentir, interiorizar-se, conscientizar-se. Todo mundo gosta é da farra. Não pensar em nada.

Uma capitulação, portanto. Nosso lado está perdendo. Vou sentir a falta de suas matérias, crônicas, fotos, toda sua sensibilidade e interesse pela literatura&artes.

Um abraço grande, B R I T T O

Anônimo disse...

GERANA,

É isso mesmo. A leitura enfeitiça e ilumina; o mundinho sociopolítico e literário embolora e emburrece.
O forte abraço do admirador
e amigo
SIDNEY WANDERLEY

M. disse...

Gerana, Kátia tem razão, o primeiro impulso é para pedir que você continue, porque nós queremos continuar te lendo e descobrindo junto com você, cada vez mais, a beleza da literatura. Mas, claro, você deve fazer o que sua alma e corpo precisam. Sempre. Beijos, e obrigada. M.

Flamarion Silva disse...

Estou desolado. Mas quero te parabenizar pela vida que deu a este blog. E estou triste, pois ele nos fará falta. Como é que pode isto agora, todos os dias, sempre que entrava na Net, passava por aqui. E agora? Triste. Mas compreendo sua decisão. A amiga continua, que é o que mais importa.
Beijos. E não fique triste não, pois eu sei que a decisão é dolorosa.
Obrigado por ter publicado meus contos aqui.

anna disse...

Que pena, é tão raro um blog que traga literatura, só encontro gente que pensa que é o umbigo do mundo escrevendo bobagens e postagens fotos de si mesma, escrevendo três linhas e achando que fez uma obra-prima.
Não encontrei um espaço com o seu na blosfera: total generosidade, aberto para os que escrevem, divulgação dos eventos dos outros.

João Filho disse...

Como Karina, cheguei tarde por aqui, acasos eletrônicos? Uma pena vc "fechar" seu blog, pois é um dos poucos em que realmente não há censura, sempre na tentativa de apreender o fenômeno literário em seus mais variados matizes. Contudo, entendo o fechamento. Um grande abraço e vida longa.

Carlos Barbosa disse...

Pois é, Gerana, também dei uma parada no meu blogue faz duas semanas. Portanto, compreendo bem tudo isso. Meus abraços, e que nos encontremos por aí mais vezes. Inté, (carlos)

Lima Trindade disse...

Poxa, senti a mesma coisa que a Kátia, a vontade inicial era a de pedir para você continuar, mas, antes de tudo o respeito pela sua escolha, pelo seu sentimento.. Então, querida, reforço o coro de agradecimentos, da saudade já nos calcanhares... a alegria de tantas descobertas, as leituras inteiramente novas e outras retomadas sob um novo olhar... Fará falta. E não se esqueça do carinho e amizade que tenho por você.

Eliana Mara Chiossi disse...

Gerana, todos falaram de forma tão lúcida e delicada, nos comentários.
O principal me parece é o reconhecimento do papel que seu blog tem... E que é tão raro.
Agradeço por tudo que encontrei aqui e pelo espaço que você me concedeu.
Concordo com algo que você diz: a leitura é o melhor lugar para quem ama a literatura. E o "mundinho" literário nos afasta deste lugar recôndito, mundo mágico que entrega mais do que cobra...
Acho que tem tempos de ressaca, nesta vivência de ter blog... Na hora certa, você volta...
E a gente fica sentindo falta, que isso também é da vida...
Um abraço

Carlos Vilarinho disse...

Pois é... O que dizer? Essa ideia me perseguia há tempos e coloquei o poema DESPEDIDA, que nem meu é, para tirar o blog do ar... Encontrei você, Gerana, na Academia que me perguntou sobre a ausência e pensei novamente... Postei "O MELHOR COLÉGIO DA BAHIA" texto novíssimo, mas resistia a meus impulsos... Também encerrei meu blog... O melhor mesmo é ler...
Só tenho a agradecer a você, tive a honra de ser publicado em seu espaço...
MUITO OBRIGADO!!!!

Pedro disse...

Era o "não há bem que perdure" que você iria parafrasear do Saramago? Este seu blog era um blog do bem mesmo, só literatura, divulgação de eventos, com seu critério de postar quem escreve bem, independente do grupo ao qual pertença. Não há outra pessoa assim aqui na Bahia.
Vou para casa encerrar o meu também. Isto é lição que se passe? Continue, não deixe os tiranos jogarem soltos.

Nílson disse...

Oi, Gerana, aqui do fim da fila quero dizer, primeiro, que sou grato pelas menções carinhosas, pelo papel importante que você teve, tem tido, nesse meu caminho literário. Segundo, que o seu blogue tem sido isso pra muita gente: é uma página vital em nosso cenário tão carente de leituras críticas. Terceiro, que respeito a sua decisão: a blogosfera, afinal, é um território de livre-arbítrio! Em quarto lugar, por outro lado, que torço pra que vc reconsidere, na linha do livre-arbítrio, e volte! Mas enfim: por ora, gratíssimo - e que não percamos o contato!!!

Fred Matos disse...

Gerana,
Torço para que você desista de desistir.
Como disse a Maria: "Deixa aberto, em aberto. Se der vontade... não custa."
Independente de qualquer coisa, meus agradecimentos por tudo, sobretudo pelos espaços que me concedeu.
Beijos

pereira disse...

O Leitora foi uma delícia para mim, reencontrei Gláucia Lemos e sua literatura em contos, poemas e crônicas.
Duvido que sua generosidade consiga ficar sem encontrar outra forma de se expressar. Já sei, vai organizar mais e mais antologias. Você, Gerana, sente especial alegria em divulgar os escritores, em descobrir talentos. Alguma você vai inventar.

Muadiê Maria disse...

oh, que pena!

não vai mais conversar coma gente pelos blogues?
Fico feliz quando vc gosta de um texto meu.
um beijo,
Martha

Vladimir Queiroz disse...

Oi! Gerana: também gostaria de agradecer a oportunidade de compartilhar, participar, ver, sentir a literatura em toda a sua plenitude que esse blog proporcionou. Haverá por certo um tempo para novos encontros...

glaucia lemos (de novo) disse...

Tá vendo, Gerana? A voz do leitor é a voz de Deus. Já que você nunca volta, por princípio, que tal dar a VOLTA por cima? (e cair no blog novamente) Não é a mesma coisa! A gente sempre ganha com o recomeço, é como o escritor que sempre ganha com a releitura. Pense nisso.
Pereira: Você nunca disse mas estou bem desconfiada de que voce é Orlando, meu velho amigo de literatura, de tantos anos. Falar em reencontro quem se chama Pereira, só pode ser Orlando. Acertei? Seu malandro, por que não se identificou logo?

Tati Gonçalves disse...

Linda e meiga Gerana
não mais suas flores no jardim
um voo novo
coberto de brisa
brando e doce
um tempo ou outro
Gerana meiga e linda
Obrigada pelas letras
tão finamente bordadas
nestes tecidos virtuais.

Janaina Amado disse...

Gerana querida, só há pouco li seu texto, pois ando muito ocupada ultimamente. Vou morrer de pena de não poder voltar mais aqui, gosto tanto do que você escreve e dos assuntos de que trata. E afinal foi via blogs, seu e meu, que nos aproximamos, não é mesmo? Mas sempre respeito a decisão dos outros. Um abraço muito carinhoso.

José Mário Silva disse...

É uma pena. Este blogue era, para mim, uma janela aberta para a literatura do Brasil e, em particular, da Bahia. Gosto muito de ler Gerana, da sua atenção, generosidade e olhar aberto a tudo, até ao que se vai passando aqui por Portugal.
Compreeendo as razões do afastamento, mas fico também à espera do possível regresso.
Obrigado por tudo.

cduxa disse...

Olá Gerana, nem deu tempo para aprofundar este conhecimento, desejo -lhe as maiores felicidades.
Um abraço
Canduxa

Manuel Anastácio disse...

Gerana: imerso em mil afazeres, suspendendo o meu blogue, descubro que o seu está encerrado. Porquê? Porque todos temos a impressão que blogue é uma obrigação. E não deve ser. Faça como o Saramago que, tal como deixa suspenso numa paráfrase não concretizada, não deixou o caderno calar-se, mesmo calando-se. Prefiro citar As Intermitências: "No dia seguinte, ninguém morreu". Nada morreu. Tudo está aberto. Como no poema "ouvindo Beethoven" do mesmo nosso autor de eleição:

Venham leis e homens de balanças,
mandamentos d'aquém e d'além mundo.
Venham ordens, decretos e vinganças,
desça em nós o juízo até ao fundo.

Nos cruzamentos todos da cidade
a luz vermelha brilhe inquisidora,
risquem no chão os dentes da vaidade
e mandem que os lavemos a vassoura.

A quantas mãos existam peçam dedos
para sujar nas fichas dos arquivos.
Não respeitem mistérios nem segredos
que é natural os homens serem esquivos.

Ponham livros de ponto em toda a parte,
relógios a marcar a hora exacta.
Não aceitem nem queiram outra arte
que a prosa de registo, o verso acta.

Mas quando nos julgarem bem seguros,
cercados de bastões e fortalezas,
hão-de ruir em estrondo os altos muros
e chegará o dia das surpresas.

Cara Gerana: reserve-nos alguns dias de surpresas. É apenas o que peço.

Bernardo Guimarães disse...

e agora, o que faço?

Anônimo disse...

Lamento, Gerana, mas entendo, pois concordo com o que escreveu. De qualquer modo, foi um prazer. Sandro

Lidi disse...

Oi, Gerana, deixa o blogue aí, quietinho, mas não cancela não. Quando bater a saudade, você volta. A gente fica te esperando, o tempo que for preciso. Um beijo.