Em 13 de agosto de 1999 morreu Herberto Sales. Autor de um clássico da literatura brasileira do século XX, o romance Cascalho, Herberto deixou uma obra aplaudida. Dos contos, tantos são antológicos, no sentido que a palavra grega encerra, inesquecíveis. Dos romances, mais de uma dezena, destacam-se o já citado Cascalho, Einstein, O Minigênio, Os Pareceres do Tempo. Ainda: três volumes de memórias, vários de literatura infantil, um volume de literatura infanto-juvenil e um de viagem.
Conheci Herberto Sales na Academia de Letras da Bahia. Ele contou casos engraçados, inclusive um deles ficou na minha memória: ele estava com pneumonia, muito febril e certo de que não passava daquela noite; acendeu, então, uma vela e, com o restante do quarto na escuridão, ficou mirando a vela com olhos pregados, esperando com certo deleite ela - a morte - chegar, assim que a vela apagasse, mas ela não apareceu. Ruy Espinheira Filho seguramente lembrará deste episódio narrado naquele fim de tarde.
Meu texto preferido, escrito por Herberto, é o conto “O Automóvel”. Em texto para palestra na ALB, que depois passou a integrar o volume da Revista da Academia de Letras da Bahia, nº 44, de novembro de 2000, o acadêmico Aramis Ribeiro Costa atenta para uma curiosidade: Maupassant condenava o recurso do acaso na ficção, dizia que não se deve deixar cair uma telha na cabeça de um personagem central. Escreve Aramis: “Herberto, neste 'O Automóvel', ousando contrariar o mestre francês, deixa caírem duas telhas seguidas na cabeça do personagem”.
Realmente o Herberto contista preza na ficção curta o prazer de contar, acima das receitas já confirmadas ou não. Para encontrar o contista Herberto Sales, e dobrar este prazer, vale ler e adentrar tal universo com Ângela Vilma e seu ensaio A Tessitura Humana da Palavra — Herberto Sales, contista. Este volume, que tem o Selo Editorial Letras da Bahia, foi aprovado por Hélio Pólvora, quando fazíamos parte da comissão editorial da FUNCEB, daí que posso testemunhar como todos nós, responsáveis pelas aprovações da Coleção, ficamos encantados com o desenvolvimento do texto ensaístico. Originalmente foi a dissertação de mestrado de Ângela Vilma, mas em livro o que ela apresenta, com sua linguagem sensível para escrever sobre a arte literária, é um texto que suscita imediatamente a vontade de ler e reler Herberto Sales. Ainda agora, reli os capítulos preferidos por Hélio. Conversamos, Aramis e eu, sobre como Ângela Vilma compara os contos “Teoria do Medalhão”, de Machado de Assis e “Teoria do Executivo”, de Herberto Sales. Garanto, o leitor fica tão envolvido, busca os dois contos, e procura compartilhar este prazer acompanhado do livro da ensaísta.
É isso, Herberto, um dia a vela apaga e ela chega mesmo, precisa nos levar. Para alguns, como você, ela não chega completamente (como queria Bandeira naquele poema em que pede para morrer completamente sem sequer deixar um nome). Está escrito na história da literatura brasileira o nome do baiano, imortal da Academia Brasileira de Letras, Herberto Sales.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
10 ANOS SEM HERBERTO SALES
Gerana Damulakis
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6 comentários:
Oi, Gerana, são dez anos sem Herberto. Dói bastante. Mas, acordar hoje, dia 13 de agosto, sempre triste pra mim, e ler sua homenagem, é reconfortante.
Ah, "O automóvel", conto magistral, e que não se faz presente, diretamente, nesses estudos, justamente por achá-lo além, muito além de minhas análises.
Agradeço demais por você ter me colocado aqui, junto a Herberto (passional e lindo Herberto) nesse seu maravilhoso post. Bjos.
Para Ângela Vilma:
não se pode escrever sobre Herberto Sales sem incluir seu livro, dadas a importância do estudo e a paixão literária que vc coloca na análise.
De resto, foi uma oportunidade para contar uma lembrança exatamente sobre o momento, na reunião da comissão editorial, quando todos aplaudiram seu livro. As coisas boas devem ser contadas.
Gerana,
Acompanho muitos blogues, mas, do seu sou, mais que acompanhante, leitor fiel, conquanto nem sempre deixe comentário. Hoje, além deste registro, comento porque não podia deixar de aplaudir uma homenagem ao Herberto Sales. Não conheço o livro de Ângela, mas já cuido das providências para tê-lo.
Beijos
Fred: realmente o livro de Ângela é uma delícia.
Tenho tentado entrar no seu blog. Ainda hoje fiz isto pela manhã, deu e sempre dá uma loucura no computador, passa para página em branco, manda fechar guias etc. Posso até dizer o q está lá: homenagem a mario Cravo, só isto eu sei, nem 1 minuto mais e logo ocorre o "erro".
Gosto muito de ensaio. Com a linguagem livre e a sensibilidade comentada, tenho acesso à EGBA, irei lá por A Tessitura Humana. Herberto é escritor para a Bahia se orgulhar.
Ainda não li o conto "Teoria do executivo." Penso que seja maquiavélico, que nem o ótimo "Teoria do medalhão." Vou procurar Ângela Vilma.
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