quarta-feira, 22 de abril de 2009

A CAÇA É DO CAÇADOR

Gerana Damulakis

Saia justa, decote em V na blusinha fina, que deixava evidente os bicos dos seios, sapatos com saltos altos porque não há coisa mais sem sal do que mulher de sandálias de dedo rasteiras, e um bonito batom para realçar seus lábios. Pronta! Pronta para caçar, literalmente. Os homens são caçados e não percebem isto, pensam o contrário, coitados. Perigosa e enganada. Ela, quando resolve, ataca, e não há santo que resista. O melhor de tudo é a conquista, atrair a caça pelo perfume sensual, pelos gestos sedutores e pelo olhar. O olhar diz tanto: “Venha, pode vir, prometo o céu”.
E ela foi para a balada. Quando chegava, todos iam dizer um oi, trocar uma idéia, elogiar o visual, quanta leveza. A alegria é leve, é? Ela dizia que sim. Madonna e seu tic tac tic tac em "4 minutes", o corpo embalado, a cabeça no ritmo do corpo, a vida é uma festa, não apenas Paris. Que garota bacana, ele pensou. Só que ele não era do bem, a cabeça não acompanhava o ritmo do corpo, a leveza só chegava depois de muita birita e outras “cositas” mais. Um cara assim destrói. Tocaram "Closer", gostava de Ne-Yo. Pegou a bela da noite e fez charme, com chapéu maneiro na cabeça. Ela ficou encantada. A galera avisou, ele é do mal. Que beijo, que pegada, os dois juntos a noite inteira, valia tudo, depois 4 paredes, sabe como é. Quem era o caçador agora?
Cadê? Na noite seguinte, ela procurava por ele. Está em outra, não veio. Não ia ficar triste, sua maneira de viver levava em conta o inesperado e não o repetitivo, então... Será? Será que não esqueceria aquele beijo que tocava a alma e o par de olhos da cor do mar, ou do céu de verão. Olhos de Daniel Craig. É amanhã, com certeza! A noite é para dançar, o vestido está brilhante, ela parece uma bonequinha de luxo e de madrugada comerá pletzel e segurará um café em frente aos valiosos diamantes da joalheria. Prefere a cravação inglesa e não admira a lapidação brilhante, tem gente que pensa que diamante é uma pedra e brilhante é outra. Queria um diamante do tamanho do Ritz. Eu sei tudo, eu sou do bem, eu sou fashion e mereço o mundo aos meus pés.
De dia, o caçador tinha apenas os próprios pés no chão, amanhecia metamorfoseado e partia on the road.

5 comentários:

Katia Borges disse...

Poxa, amei os dois personagens. Acho que não acaba aí, não. Queria que você fosse adiante. Acho que dá jogo para um romance. BJ

Lima Trindade disse...

Gerana, gostei muito do conto, das personagens, da linguagem, da sonoridade e ritmo das frases, principalmente a sinuosidade do início e o charme reflexivo do final. Penso que talvez pudesse ser ainda mais curto, talvez, na minha opinião, não explicar que é a menina que caça (tá no título), mas deixar apenas as ações e tudo mais o que está no contorno, na superfície, falar por ela. Ele era do mal, mas ela, do bem, se saiu numa boa, e estava pronta para não repetir.

Gerana Damulakis disse...

Está certíssimo. Vc foi eleito por mim para ser o leitor.

Lima Trindade disse...

Uau! Fico honradíssimo. E grato. Beijos.

A.Pedro disse...

Hummm. assumo a minha vil ignorância em assumir que não sou lá um entusiasta do fluxo de consciência. Mas gosto de muitas coisas aqui. Pirncipalmente da contemporaneidade da coisa (ainda que não seja mais exatamente 4 minutes que toca hoje na dancefloor. essas coisas vooooam!), da constante marca do presente. E de todo o luxo da personagem.