terça-feira, 30 de dezembro de 2008

SPECTOR

Gerana Damulakis

O poeta Luís Antonio Cajazeira Ramos leu a postagem que Kátia Borges colocou no seu blog, Madame K (http://mmeka.wordpress.com/), no dia 29 de dezembro. Trata-se de um texto de Clarice Lispector com considerações em torno de "se eu fosse eu". Não foi preciso mais: Luís escreveu o soneto seguinte. Desfrutem verso a verso, leiam e releiam.


SPECTOR

Luís Antonio Cajazeira Ramos

Clarice, “se eu fosse eu” não faz sentido.
É como se eu pudesse ser alguém.
Pois nem ser eu sei ser, quanto mais quem
houvesse além de si haver havido.

Melhor deixar aquém o ser contido
e se deixar além de todo além.
Há muito que essa vida não faz bem
a quem vive pensando ou comovido.

Melhor não ser Clarice nem ser eu,
Clarice, nem ser eu a te dizer
o que é melhor – a ti, que já morreu

em mim o que queria conhecer
o que sentia, o que queria meu
um jeito, no sem jeito de viver.

5 comentários:

Anônimo disse...

Um jogo tremendo com as palavras, dando um soneto e tanto.

Anônimo disse...

Poeta Cajazeira, cadê você? Gostei do marabalismo com as palavras.DÊ o ar da graça.

Anônimo disse...

Digo: MALABARISMO não marabalismo, Essa digitação apressada me maltrata, desculpe.

Anônimo disse...

Que movimento do raciocínio! Desperta qualquer mente ociosa de leitor. Muito bem feito e cheio de significado.

Anônimo disse...

A propósito de se eu fosse eu, lembrei-me de uma vez que sonhei que me encontrava comigo mesma. Entrava numa sala onde Eu estava à Minha espera. Sorri quando me vi e falei: finalmente você chegou. então dei umas explicações ligeiras para a demora. Era uma casa muito limpa o piso brilhava de encerado e havia nas paredes uns quadros encostados que iriam ser arrumados para exposiçao. Nós, isto é, as 2 eus, nos abraçamos e estávamos muito contentes. Era eu com esta mesma minha cara que Deus me deu.Só que duas. ESquisofrenia? Uma psicóloga disse que temos muitos "eus" em nós e que provavelmente eu estava precisando reforçar um deles, mas que seria assunto para analisar mais demoradamente. PElo menos em um sonho eu me senti eu mesma e gostei. Acordada, a maior parte das vezes estou muito longe de ser eu mesma,porq a ética é castradora demais.