domingo, 3 de agosto de 2008

CAMPO DE EROS

Ruy Espinheira Filho



Amor: esta palavra acende uma
lua no peito, e tudo mais se esfuma.

E testemunho: eis que Amor deixou
ferida cada coisa que tocou.

E tudo dele fala: a mesa, a cama
(como abrasa este hálito de chama!),

o bar, cadeiras, livros e paredes
vivem, revivem: de fomes e sedes

a corpos saciados. Tudo fala,
tudo conta. Só a boca é que se cala.

Amor. Do extinto pássaro, o vôo
prossegue, inexorável. Mas perdôo,

eu, essa lâmina que me escalavra,
revolve em mim, em sua funda lavra,

amor, restos de amor, gestos quebrados,
enganos, mais amor, olhos magoados,

e fúria, e canto, e riso, e dança, e dor.
E a Quimera. E amor, amor, amor

por toda parte trucidado e em flor.


De Poesia Reunida e Inéditos (Record, 1998).

7 comentários:

Anônimo disse...

Comentar o quê? Pelo amor de Deus, Ruy Espinheira é para ser sentido em cada verso. Sua poesia abusa do direito de espalhar emoção.

Kátia Borges disse...

Lindo poema, Gerana. BJ

Gerana Damulakis disse...

Uma leitura é pouco. Precisamos sempre um tanto de Ruy por aqui.
"Campo de Eros": estupendo!

Anônimo disse...

Ruy, quando era meu professor na UFBA, presentou-nos, a mim e aos meus colegas, com um CD que contém 48 poemas, todos muito belos. De vez em quando eu ouço, e isto faz muito bem para o ouvido e para o coração, e para a alma.

Alexandre Core disse...

Belíssimo poema!
Gosto dos poemas, assim, cadenciados, cheios de vírgulas que acrescentam figuras e mais dramaticidade à narração.

Anônimo disse...

Gerana: compreendo agora o que me dizia no mail... ;)

Gosto do estilo, da emoção, do rigor estético, da riqueza de imagens... Muito bom. Tenho de ler mais do Ruy Esinheira, sem dúvida.

Anônimo disse...

Espinheira - queria eu dizer!