sexta-feira, 23 de maio de 2008

PERDA


Gláucia Lemos


Palavras se foram
e ainda se enramam como fios
nos saltos dos meus sapatos.
O que é meu e tenho dentro
em mim, delas se plasma
como o sumo branco da uva branca
no meu copo
a alimentar meu corpo.
Elas sou eu
com o rigor da minha febre.

Neste início de noite
eu as tenho mudas
e a míngua habita o fosso
que ficou.



Gláucia Lemos é ficcionista premiada e aplaudida, com mais de 20 títulos. No entanto, a poesia também habita em seu talento e sabe mostrar sua presença.

Foto de Lu Arte, retirada do Flickr.

3 comentários:

Carlos Vilarinho disse...

Fiquei com a imagem do sumo da uva a escorrer, Gláucia. E depois pensei nas palavras que você começa o poema. Palavras e sumo de uva branca.

Anônimo disse...

Vilarinho: Uma das boas coisas do poema é a interpretação subjetiva de cada leitor, por isso que, como toda arte, não se explica. A mim, porém, parece que aquelas palavras que se foram,mas permanecem como fios embaraçando os passos, são como o sumo da uva branca que alimenta o corpo, por isso que sua ausência deixa a míngua no fosso que ficou.Pode nem ser isso, quem sabe?
Obrigada pelo comentário.

Anônimo disse...

Vamos passo a passo pensando e perdendo palavras ao longo da caminhada. Porque as palavras sabem ir embora como as horas dos nossos dias que passam. Belas imagens as suas. Elas despertam outras imagens em nossas mentes, em seus leitores.