Lygia Fagundes Telles fecha com Conspiração de nuvens uma trilogia iniciada em 2000 com Invenção e memória, que teve seguimento com Durante aquele estranho chá, em 2002. Tanto o livro de 2002 quanto este lançado na Bienal do Livro do Rio 2007, foram organizados por Suênio Campos de Lucena, e todos os três saíram pela Rocco. Mas o que define os volumes como uma trilogia está justamente no título do primeiro livro: uma mistura de memória e invenção; o que, de saída, garante o prazer da leitura, haja vista a qualidade da narrativa lygiana inquestionável. Lygia Fagundes Telles é escritora para quem se tira o chapéu, estende-se o tapete vermelho e se pede para passar — figura tomada de empréstimo, pois foi emitida por Hélio Pólvora em conversa sobre a escritora.
Conspiração de nuvens traz 19 histórias curtas que contam viagens, fatos da infância, observações e casos sobre intelectuais amigos da escritora, sem deixar de lembrar a cidade de São Paulo e as cidades do interior que fizeram parte da sua vida. O belo título vem da história passada nos anos 70, de um momento de censura acirrada aos textos dos escritores, quando mais de quatrocentos livros de autores brasileiros e estrangeiros estavam proibidos. Por intermédio de Rubem Fonseca, cujo livro Feliz ano novo fora vetado por conta da violência que incentivaria mais violência, Lygia integrou uma comitiva que rumou para Brasília com O Manifesto dos Mil Contra a Censura, mil assinaturas, para entregar ao ministro da justiça Armando Falcão. Mas, no avião, sentada entre o historiador Hélio Silva e um anônimo que lia o jornal, Lygia leu a notícia sobre a ida da comissão, em negrito. O que era para ser surpresa tinha vazado! Ao olhar para fora, as nuvens se aglomeravam: uma conspiração de nuvens! O resto é história para ler, não vale antecipar o sabor da leitura.
Jósif Bródski dizia que a biografia de um escritor está nos meandros de seu estilo. Lygia vem fazendo isto com afinco. E com perfeição estilística, temperando a memória com a criação literária. Tapete vermelho para ela.
Gerana Damulakis
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