quarta-feira, 19 de setembro de 2007

OS ANJOS CAIADOS DE ARIOVALDO MATOS

Com data, na ficha catalográfica, registrada em 2005, mas impresso em 2006, o romance Anjos Caiados, de Ariovaldo Matos, foi publicado mediante convênio entre a Assembléia Legislativa do Estado da Bahia e a Academia de Letras da Bahia. A edição, muito bem cuidada, vem trazendo textos importantes, além da cronologia da vida do escritor, seja o jornalista, seja o ficcionista. Encontramos testemunhos tal como o de Othon Jambeiro, assinando “Ari, um jornalista”, enquanto Jorge Amado assina “Um ficcionista baiano”. Já o saudoso Guido Guerra, que foi responsável pela reunião dos contos de Ariovaldo Matos, organizando e selecionando os textos do volume intitulado A Ostra Azul, publicado em 1998, comparece com “Trajetória”. Ariovaldo dedica o romance à memória, entre outros nomes que lhe foram caros, do jornalista Flávio Costa. E agradece a paciência dos que “suportaram suas fantasias de repórter”, entre os quais, primeiramente está Joaci Góes.
Mas, vamos ao romance. São três partes, construídas com uma dose de experimentalismo digna do Cortázar de Rayuela (O Jogo da Amarelinha), como bem notou Guido Guerra, por conta da estrutura multifacetada que recorre ao diálogo teatral, que usa cartas e poemas, que insere, enfim, narrativas várias. O romance teve origem no conto “A construção do sonho” e, por isso, Guido deixou justamente este conto fora da antologia A Ostra Azul, respeitando seu desdobramento, ou o fato do conto ter atingido outro gênero, que lhe seria mais próprio. Muito rico, portanto, é Anjos Caiados. Porém, muitos gostariam de conhecer o conto citado por Guido, daí que seria interessante que Fred Matos, filho de Ariovaldo, também contista e já com livro publicado, em 2006, pelo selo Letras da Bahia, da Fundação Cultural do Estado/ Secretaria da Cultura e Turismo, intitulado Melhor que a encomenda, trouxesse o texto para o público de hoje.
A linguagem é prioridade em se tratando de Ariovaldo, ela é senhora e dona do começo ao fim de qualquer narrativa escrita por ele, porque não se faz a leitura sem sentir admiração, sem deslumbrar-se com o seu fluir livre de obstáculos, ainda que num romance elaborado com tanta complexidade, que lança mão de tantos recursos e de muitos personagens. O tema vem revestido da mistura de religiosidade e sensualidade, da cultura judaico-cristã e dos pecados da carne. A personagem Liúba é bela e sensual. O Padre Eugênio é padre e é homem, e o resultado é a transgressão.
Jornalista, dramaturgo, contista, romancista, muito premiado, traduzido inclusive, Ariovaldo Matos fixou seu nome na literatura baiana. Em 2008 sua morte fará 20 anos. Há contos que ficaram de fora quando Guido fez a seleção. É tempo para organizar outra reunião com tal material.
Gerana Damulakis

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