sexta-feira, 30 de novembro de 2007

NORMAN MAILER ( * New Jersey, 31/01/1923 - + Nova York, 10/11/2007 )



Gerana Damulakis


Na Antiguidade, quando os gregos iam fazer o obituário de alguém, perguntavam aos que conheceram muito bem o morto: “Ele viveu com paixão?”. Esta era a única questão importante. A morte de Norman Mailer levanta imediatamente uma associação com a pergunta dos gregos porque a resposta sobre ele é, sem dúvida: sim, viveu com muita paixão. Participou como sargento do exército americano no Pacífico sul, nas Filipinas, na Segunda Grande Guerra, foi preso por protestar na frente do Pentágono contra a Guerra do Vietnã, formou-se em engenharia aeronáutica em Harvard, estudou na Sorbonne, foi boxeador, foi roteirista em Hollywood, ganhou prêmios como o George Polk, por reportagens, e como o Pulitzer, duas vezes, em 1969 e em 1980, com Os exércitos da noite (Record, esgotado) e com Canto do carrasco (Portugal: Editora Europa-América, 1983) e, ainda, o National Book Award. Gostava de briga, deu uma cabeçada em Gore Vidal por conta de uma crítica, deu duas facadas na segunda de suas seis mulheres, tentou eleger-se prefeito de Nova York pelo Partido Democrático, em 1969, opinou sobre tudo e sempre, até sobre a invasão do Iraque, o que fazia dele um escritor influente nas muitas polêmicas travadas.
Mais de 30 títulos compõem uma obra iniciada aos 25 anos de idade com Os Nus e os Mortos (Record, 1976), que o consagrou de imediato. Encontram-se na obra estereótipos da sociedade americana; os diálogos, algumas vezes, ao modo de Hemingway; a fragmentação do texto nos moldes do precursor John Dos Passos; o conteúdo pleno de debates sobre as conseqüências da guerra e, enfim, uma teoria: a teoria do hipsterismo, que está no artigo “The white negro: superficial reflection on the hipster”, de 1957, incorporado ao livro de ensaios Advertisements for myself (1959). Este ensaio é um panegírico ao tipo “inadaptado aos valores vigentes”; o que, de saída, estabelece a simpatia com os beats. Em Parque dos cervos (Record, 2001), Mailer leva o leitor para Hollywood no tempo do macartismo e das desilusões quanto à esperança por um futuro diferente: ou seja, no tempo em que o sujeito já não sabe como escapar e se vê entregue às prerrogativas sociais. Um sonho americano (L&PM Editores, 2007), de 1965, trabalha a dialética entre o hipster e o engessado pelas regras sociais.
A crítica encontra Mailer mais bem sucedido quando mescla ficção e realidade. Com o talento jornalístico, que o marcou como aquele que fez a imprensa alternativa, com a fundação do jornal The Villag Voice e com a fama que alçou seu nome a expoente do new journalism, chega ao “romance não ficcional”, segundo a expressão cunhada por Truman Capote. Um bom exemplo é Canto do carrasco, quando é contada a história verdadeira de um assassino condenado à morte. Mailer não utiliza apenas ocorrências históricas, mas também figuras reais dramáticas como em Marilyn, a biography, de 1973; em A luta (Companhia das Letras, 1998), de 1975, narrando a luta entre os boxeadores Muhammad Ali e George Foreman em 1974, ou em Evangelho segundo o filho (Best Seller, 2007). O último título, The castle in the Forest, de 2007, trata da primeira parte da vida do jovem Adolf Hitler, é mais um exemplo. Para finalizar, uma sugestão que garante trazer o clima norte-americano, aquele “american way of life”, é Homem que é homem não dança (Record, 2002): vale conferir.



Este texto é a coluna Olho Crítico do jornal Tribuna da Bahia, 01/12/2007.

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