segunda-feira, 26 de maio de 2008

O PROFESSOR

Gerana Damulakis

A João Cabral de Melo Neto

Imagens procuradas por
imagens atropelam-se
como ondas em vagalhões
ou sinos num turbilhão.

No oposto da vegetação,
o esforço é para domar
o nada, deserto em canção,
excluída a magia da fada.

O que não encontro
no significado de uma
lâmina, faca sem cabo,
é o que entendi da lama.

Do homem da lama,
tirando, da lama mesma,
a luta oriunda da chama,
já essa lama não é só lama.

Que essa lama é emblema
da força que força a lutar
no silêncio que clama
vencer, da lama sair; voar.



De Guardador de mitos (Edição do autor, 1993).

POEMA DO MÊS


Eli Eli lama sabachthani?



Manuel Anastácio


Promete não dizeres mais nada

Entre os arcos desenhados pela minha voz.

De nós, nada mais deve restar agora

Que os dois num só, a sós.

Promete não dizeres mais nada

Enquanto durar a nossa constelação.

Promete manter o céu em silêncio

Até que venha a hora

Em que peçam explicação,

E remoam o espanto

Perante o silêncio de água e sangue

Que escorre dos meus flancos

– Depois de ter gritado a última acusação

Que ninguém compreenderá.

Porque, nessa hora, não me terás abandonado,

Mas aberto a porta

Para que, enfim, retorne, e entre de novo em mim.




Manuel Anastácio assina o blog Da Condição Humana (http://literaturas.blogs.sapo.pt/): há entrada para ele diretamente do leitoracritica.blogspot.com/, na coluna “Favoritos”.
Aqueduto de Pegões. Foto de Manuel Anastácio em Creative Commons