domingo, 1 de junho de 2008

Sobre o ROMANCE D'A PEDRA DO REINO




Goulart Gomes



“Nobres senhores e belas damas de peitos brandos”:


Fiquei espantado ao terminar a leitura do livro ROMANCE d’A PEDRA DO REINO E O PRÍNCIPE DO SANGUE DO VAI-E-VOLTA, de Ariano Suassuna José Olympio Editora, 9ª. ed, 2007). Imediatamente assisti o DVD da mini-série produzida pela Rede Globo (incluindo os extras), e meu assombro duplicou. Quando recebi, das mãos de Ariano, o meu exemplar autografado, em Recife, no dia 10 de dezembro de 2007, não fazia idéia da preciosidade que me era entregue, o verdadeiro prêmio literário que me foi concedido, naquele dia.

A partir de experiências pessoais: o assassinato de seu pai, o convívio com os tios, que inspiraram os personagens Samuel e Clemente (no filme, interpretados pelos atores baianos Frank Menezes e Jackson Costa); referências históricas: as conturbadas lutas e revoluções da década de 30; míticas: a volta do rei Dom Sebastião, as profecias de Antonio Conselheiro e culturais: toda a riqueza da literatura e música nordestina e ibérica, Ariano escreveu uma das obras magistrais da Literatura Brasileira, como ele diria, um romance de “fé, sangue, estro, ciência e planeta”.

O fantástico Dom Pedro Dinis Quaderna – Imperador do Brasil, nascido a 16 de junho de 1897, mesma data de nascimento de Ariano, 30 anos antes - misto de doido, bufão, visionário, malandro brasileiro, “Poeta-escrivão, bibliotecário, jornalista, Astrólogo, literato oficial de banca aberta, consultor sentimental, Rapsodo e diascevasta do Brasil”, magnificamente interpretado nas telas pelo ator Irandhir Santos, é um dos mais instigantes personagens da Literatura Brasileira e, consequentemente, Universal, sempre envolvido em verdadeiras intrigas palacianas, loucuras e devaneios.

Obra que demorou 13 anos para ser concluída, o “romance armorial brasileiro”, publicado em 1971, ficou vários anos sem ter reedição, devido a problemas com a editora, sendo os exemplares da primeira edição disputados a ferro e fogo por admiradores e colecionadores, nos diversos sebos. Com a maravilhosa releitura do diretor Luiz Fernando Carvalho, em 2007 ganhou as telas, conquistando mais uma legião de fãs.

Mas, qualquer coisa que se diga sobre a obra é pouco. É fundamental lê-la, com todo o carinho e atenção que merece, aprendendo a verdadeiramente amar esse Dom Quaderna, que não tem medo nem vergonha de acreditar nos seus sonhos, por mais absurdos que pareçam. Ele, que sonha ser o “Gênio da Raça Brasileira”, tem um grande adversário: o seu pai e criador, Ariano Suassuna, não apenas um dos maiores intelectuais brasileiros, mas também um ser humano admirável, por sua alegria e simplicidade, admirado e respeitado por todos que o conhecem.

“Viver é decifrar enigmas.”

(as frases entre aspas são da obra de Ariano)


Salvador, 1 de Junho de 2008.