quinta-feira, 25 de setembro de 2008

"por isso escrevo - conto/ como nasci do delírio alheio"


Gerana Damulakis


Meu amigo, o contista Lima Trindade, chega com presentes nas nossas reuniões mensais. Já me deu um CD muito bacana (ele sabe que gosto de rock, música pop, e assumo...), já me deu o ótimo livro de contos de Gustavo Rios, O amor é uma coisa feia (7Letras, 2007), ao qual apresentei aqui minha impressão de leitura e, por fim, me deu Trabalhos do corpo e outros poemas físicos (Letra Capital, 2007), de Sandro Ornellas.
Li. Foi um livro que pediu duas leituras. A poesia é assim, ela pede leituras. O livro de Sandro Ornellas vai ganhando com isso de ler e reler e reler. Houve poemas que pediram três, quatro, cinco leituras. Quando li pela primeira vez, ficou muito evidente (e causando certa estranheza) o fato de que, se há poemas de versos tão curtos, como encontramos logo a seguir versos caudalosos, quando o poeta é o mesmo (ou não é?).
Na releitura, a estranheza some. Se o verso longo, às vezes maravilhosamente derramado, me conquistou imediatamente, foi o verso curto e rápido que me flechou na segunda leitura.
Primeira seleção: "Quase", "A plenitude o vazio a vida", são dois exemplos de um fôlego só. Lerei ambos na próxima reunião (adoro ler poemas em voz alta; Cabral torceria o nariz, ele que dizia que poesia é para ser lida sussurrando e, no entanto, escreveu "Morte e vida severina").
Nós somos vários. É certo. Meu outro lado, selecionou os poemas: "Laranjas", "Serpentário","Ao meu verme privado". Será que cabe aqui essa história de não ser um, de ser 300, 350? Não cabe, não. O que se diria uma falta de "organicidade", na verdade, é o que vai construindo o livro, um livro rico.
O poema que clamou por mais leituras foi "Laranjas". Posso fazer muitas leituras. Posso conduzir tal leitura para o significado que desejo. Eu leio, chamo pela ambigüidade se assim ansiar, e completo o texto e "especulo":
ah! estas são as minhas grandes laranjas
"Laranjas", um poema essencial.