segunda-feira, 20 de julho de 2009

A MOÇA DOS PÃEZINHOS DE QUEIJO

Gerana Damulakis

Um dos contos mais interessantes, para não dizer um dos melhores contos nem um dos maiores contos, da literatura baiana tem o belíssimo título: "A moça dos pãezinhos de queijo". E é mesmo um senhor conto, que consta do livro O Largo da Palma, de Adonias Filho. O livro traz ainda outro conto de peso, "Os enforcados", mas foi "Um corpo sem nome", ainda do mesmo volume, que selecionei para integrar a Antologia Panorâmica do Conto Baiano - Século XX, por ser menos conhecido e, portanto, uma escolha menos óbvia. Os seis contos deste livro estão no mesmo patamar de excelência. Talvez os três agora citados sejam mais instigantes. Afunilando mais ainda, creio que, se o leitor todavia não teve a oportunidade de conhecer a literatura de Adonias Filho, a opção pelo conto "A moça dos pãezinhos de queijo" será a experiência mais gratificante. Garanto, jamais esquecerá.
O ficcionista Adonias Filho, dos romances celebrados Corpo Vivo e Luanda Beira Bahia, escreveu novelas e contos do mesmo nível de sua ficção longa. Ainda ensaísta e crítico, membro da Academia Brasileira de Letras, foi diretor da Biblioteca Nacional e seu prestígio até hoje ressoa. Reuniu as novelas e contos nos volumes Léguas da Promissão (1968) e o supracitado O Largo da Palma (1981).
Dos textos de Adonias, seu admirador, o também contista Hélio Pólvora, chama a atenção para a “tragicidade” impingida ao regionalismo moderno. As histórias têm sempre uma sustentação em estruturas equilibradas, numa linguagem sóbria e numa sintaxe original, além de uma nota poética imprevista. Para Pólvora a prosa ficcional de Adonias Filho demonstra a fusão emotiva do autor com os seus temas: "E que melhor esperar de um exímio e complexo contador de histórias, em cuja obra ressoam as vozes de toda a comunidade sul baiana?" (Pólvora, Hélio: "Adonias Filho e a Tragicidade", in O Espaço Interior. Ilhéus: Editora da Universidade Livre do Mar e da Mata, 1999).
Hélio e eu, já está visto, somos leitores de Adonias Filho. Ouso dizer que é a tal "tragicidade" que suscita nossa admiração.