domingo, 27 de novembro de 2011

JANE AUSTEN E SHAKESPEARE

Gerana Damulakis

Não sou fanática por cinema; melhor, não tenho paciência para assistir o que está pronto, o que não me proporciona margens para a minha imaginação. Mas os filmes em cima da obra de Jane Austen são espetaculares. Se estou zapeando pelos mais de cem canais e encontro os filmes Orgulho e Preconceito, ou Razão e Sensibilidade, então paro tudo e assisto de novo. Acabei de rever Razão e Sensibilidade. É antológico aquele instante quando Marianne e Willoughby descobrem que o "Soneto 116", de William Shakespeare, é o preferido de ambos. Começam a declamar. No livro, esse momento está no capítulo X, quando também somos informados sobre o quanto o casal gosta de falar sobre literatura.                                      


SONETO 116
                          William Shakespeare

De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfanje não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma, para a eternidade.
     Se isto é falso, e que é falso alguém provou,
     Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.

Tradução de Bárbara Heliodora
Ilustração: O Baile da cidade, obra de Auguste Renoir. Óleo sobre tela, 1883. Museu D'orsay, Paris.