terça-feira, 22 de maio de 2012

CAJAZEIRA NA ALB

Ontem, 21 de maio de 2012, o poeta Luís Antonio Cajazeira Ramos foi eleito como membro efetivo da Academia de Letras da Bahia. Seu primeiro livro foi Fiat Breu (Edições Papel em Branco, 1996), daí vem Como se (FUNCEB, 1999), do qual retiro o soneto "Punhal", cortante (sem trocadilhos), que faz a platéia estremecer quando dito pelo autor em voz alta, tal como ocorreu numa Bienal do Livro, aqui em Salvador, no Café Literário que ali foi implantado. Em 2002, Luís Antonio publicou Temporal temporal, pela Relume Dumará, um livro que antes de ser editado já era um vencedor: ganhou o Prêmio Gregório de Mattos 2000 da Academia de Letras da Bahia e foi menção honrosa no Cruz e Sousa 1998 da Fundação Catarinense de Cultura. De 2007 é Mais que sempre, lançado pela 7Letras.
Há vários poemas de Luís que poderiam servir como amostra de sua poesia, seja pela força, seja pelo espanto que causam, seja pela beleza em si. Seguem o supracitado "Punhal" (pena que a voz dele não pode ir junto) e "Sonâmbula", dedicado a Gerana (diz ele que logo após a feitura, leu para mim pelo telefone - ele tem mania de fazer isso - e eu adorei; mas há tantos que eu admiro igualmente).


SONÂMBULA

A Gerana Damulakis

A vida passava, o amor não chegava.
Aguardava (a esperança a guardava)
o que não acontecia, quem não vinha.

Desenhava a felicidade na fumaça das horas,
debruçada sobre o parapeito dos sonhos,
vendo a todos transeuntes do deserto,
sob a sacada das emoções perdidas.

Improvável Penélope, tecia ilusões de partida
para confins imaginários sob o lençol diáfano,
manchado do sangue virgem de seus desejos,
satisfeitos na solidão de núpcias de nuvem.

A vida passava, a dor não chegava
ao pesar da vigília, a que o engano negava
acordar os galos e deitar os lampiões...
E beladormecia na eternidade em que se perdera.

E não se sabe que bruxa, que fada,
que fado a vida reservara a seu destino
de Cinderela das vertigens.


PUNHAL

Não quero ver, em teu olhar de vítima,
o viés de amor que me pretende algoz
de um sofrimento vão que ignoro. Atroz,
destruo teu desejo com desídia.

Meu dia tinge em negro a noite branca
do teu sonho, enlutando-o em solidão.
Ah esperança de que eu te fosse a pomba
que apazigua a dor... Tola ilusão.

Nego-te os arrepios de meus dedos
provocantes e táteis em teus pêlos
e não faço as carícias que precisas.

Não digo nada além de meu silêncio.
Nem ao menos desprezo teu tormento,
pois sigo estátua fria, sem desdita.

CAJAZEIRA NA ALB

Seu primeiro livro foi Fiat Breu (Edições Papel em Branco, 1996), daí vem Como se (FUNCEB, 1999), do qual retiro o soneto "Punhal", cortante (sem trocadilhos), que faz a platéia estremecer quando dito pelo autor em voz alta, tal como ocorreu numa Bienal do Livro, aqui em Salvador, no Café Literário que ali foi implantado. Em 2002, Luís Antonio publicou Temporal temporal, pela Relume Dumará, um livro que antes de ser editado já era um vencedor: ganhou o Prêmio Gregório de Mattos 2000 da Academia de Letras da Bahia e foi menção honrosa no Cruz e Sousa 1998 da Fundação Catarinense de Cultura. Há vários poemas de Luís que poderiam servir como amostra de sua poesia, seja pela força, seja pelo espanto que causam, seja pela beleza em si. Seguem o supracitado "Punhal" (pena que a voz dele não pode ir junto) e "Sonâmbula", dedicado a Gerana (diz ele que logo após a feitura, leu para mim pelo telefone - ele tem mania de fazer isso - e eu adorei; mas há tantos que eu admiro igualmente). SONÂMBULA A Gerana Damulakis A vida passava, o amor não chegava. Aguardava (a esperança a guardava) o que não acontecia, quem não vinha. Desenhava a felicidade na fumaça das horas, debruçada sobre o parapeito dos sonhos, vendo a todos transeuntes do deserto, sob a sacada das emoções perdidas. Improvável Penélope, tecia ilusões de partida para confins imaginários sob o lençol diáfano, manchado do sangue virgem de seus desejos, satisfeitos na solidão de núpcias de nuvem. A vida passava, a dor não chegava ao pesar da vigília, a que o engano negava acordar os galos e deitar os lampiões... E beladormecia na eternidade em que se perdera. E não se sabe que bruxa, que fada, que fado a vida reservara a seu destino de Cinderela das vertigens. PUNHAL Não quero ver, em teu olhar de vítima, o viés de amor que me pretende algoz de um sofrimento vão que ignoro. Atroz, destruo teu desejo com desídia. Meu dia tinge em negro a noite branca do teu sonho, enlutando-o em solidão. Ah esperança de que eu te fosse a pomba que apazigua a dor... Tola ilusão. Nego-te os arrepios de meus dedos provocantes e táteis em teus pêlos e não faço as carícias que precisas. Não digo nada além de meu silêncio. Nem ao menos desprezo teu tormento, pois sigo estátua fria, sem desdita.

CAJAZEIRA NA ALB

Ontem, 21 de maio de 2012, foi eleito como membro efetivo da Academia de Letras da Bahia o poeta Luis Antonio Cajazeira Ramos.

Seu primeiro livro foi Fiat Breu (Edições Papel em Branco, 1996), daí vem Como se (FUNCEB, 1999), do qual retiro o soneto "Punhal", cortante (sem trocadilhos), que faz a platéia estremecer quando dito pelo autor em voz alta, tal como ocorreu numa Bienal do Livro, aqui em Salvador, no Café Literário que ali foi implantado. Em 2002, Luís Antonio publicou Temporal temporal, pela Relume Dumará, um livro que antes de ser editado já era um vencedor: ganhou o Prêmio Gregório de Mattos 2000 da Academia de Letras da Bahia e foi menção honrosa no Cruz e Sousa 1998 da Fundação Catarinense de Cultura. Há vários poemas de Luís que poderiam servir como amostra de sua poesia, seja pela força, seja pelo espanto que causam, seja pela beleza em si. Seguem o supracitado "Punhal" (pena que a voz dele não pode ir junto) e "Sonâmbula", dedicado a Gerana (diz ele que logo após a feitura, leu para mim pelo telefone - ele tem mania de fazer isso - e eu adorei; mas há tantos que eu admiro igualmente). SONÂMBULA A Gerana Damulakis A vida passava, o amor não chegava. Aguardava (a esperança a guardava) o que não acontecia, quem não vinha. Desenhava a felicidade na fumaça das horas, debruçada sobre o parapeito dos sonhos, vendo a todos transeuntes do deserto, sob a sacada das emoções perdidas. Improvável Penélope, tecia ilusões de partida para confins imaginários sob o lençol diáfano, manchado do sangue virgem de seus desejos, satisfeitos na solidão de núpcias de nuvem. A vida passava, a dor não chegava ao pesar da vigília, a que o engano negava acordar os galos e deitar os lampiões... E beladormecia na eternidade em que se perdera. E não se sabe que bruxa, que fada, que fado a vida reservara a seu destino de Cinderela das vertigens. PUNHAL Não quero ver, em teu olhar de vítima, o viés de amor que me pretende algoz de um sofrimento vão que ignoro. Atroz, destruo teu desejo com desídia. Meu dia tinge em negro a noite branca do teu sonho, enlutando-o em solidão. Ah esperança de que eu te fosse a pomba que apazigua a dor... Tola ilusão. Nego-te os arrepios de meus dedos provocantes e táteis em teus pêlos e não faço as carícias que precisas. Não digo nada além de meu silêncio. Nem ao menos desprezo teu tormento, pois sigo estátua fria, sem desdita.