sexta-feira, 20 de novembro de 2009

VASTAS EMOÇÕES

Gerana Damulakis

Cheguei da rua (do shopping, melhor dizendo, porque os baianos andam em shoppings – quantos, não é verdade? Alguém já parou para pensar a razão da existência de tantos em uma cidade tão bela, com um clima maravilhoso, céu azul, mar azul e nós, baianos, sempre andando dentro dos shoppings) com meu exemplar de O seminarista (Agir, 2009), pretendendo fazer minha postagem diária, a qual, como Kátia Borges já percebeu, é feita depois das 22, ou 23 horas. Muito bem, penso Vou apreciar o livro, pegar, cheirar... mas, sem resistir, acabei abrindo. Resultado: embora a pilha alta na cabeceira – Bolaño é o mais alto (vale atentar no duplo sentido) -, embora a hora adiantada, penso Lerei um capítulo, apenas um. Muito bem, de novo e de novo o resultado: não apareci aqui para fazer a postagem, preferi ficar com Zé.
Zé é sedutor. Não se começa a ler José Rubem Fonseca impunemente. O preço é ir até o fim. O personagem, o seminarista, Zé como seu autor – depois ele mudará para José Joaquim Kibir, homenagem aos avós portugueses e à batalha de Alcácer-Quibir -, seduz completamente.
Rubem Fonseca abriu um caminho na literatura brasileira ao trazer as ruas de uma forma diferente - com mais realidade?-, ruas por onde andam o tipo cruel e o tipo inocente, a mulher bondosa e a vadia. Fundamental, portanto.
Sua prosa é ágil, parece que está falando com o leitor. Zé é como todos nós; nós somos complexos, múltiplos, mas Zé tem a clareza que o faz distinguir entre o poder de suas ações “profissionais” e o poder das suas palavras e das palavras alheias (ele cita muito, geralmente em latim – foi seminarista).
Será sempre reducionista o juízo de valor que disser que O seminarista é apenas uma história policial, pulp, de bandido. A grande questão é o ser humano, a busca de salvação através do amor, a tentativa de emergir de um poço que já parece muito fundo.
Maria Muadiê escreveu um comentário para dizer o quanto gosta do título de um romance de Rubem Fonseca, Vastas emoções e pensamentos imperfeitos. Uma enorme coincidência! Assim como os versos dos meus poetas preferidos surgem do nada (do nada?) nos meus pensamentos, também os grandes títulos são lembrados. Sem mais nem menos, por alguma associação, digo Vastas emoções e pensamentos imperfeitos. Romance excelente, por sinal.
Qualquer livro de Rubem Fonseca nos traz vastas emoções.

Foto: divulgação/ Zeca Fonseca. Retirada do site http://www.oseminaristaolivro.com.br/