sábado, 1 de maio de 2010

A PERSISTÊNCIA


Gerana Damulakis


Levei um certo tempo para encontrar o rápido diálogo, no qual Platão mostra Sócrates interrogando um personagem chamado Laches sobre a natureza da coragem. Tal texto me deixou extasiada desde a adolescência e, ao longo da vida, retornei a ele.


SÓCRATES: Tenho certeza, Laches, de que consideras a coragem uma qualidade muito nobre.

LACHES: Muito nobre, decerto.

SÓCRATES: E julgas que uma persistência sensata seja também boa e nobre?

LACHES: Muito nobre.

SÓCRATES: Mas, que dirias de uma persistência insensata? Não deve ser considerada, ao contrário, má e prejudicial?

LACHES: É verdade.

SÓCRATES: Olha então o caso de um homem que persiste na guerra, está disposto a lutar, e sensatamente calcula e sabe que outros o ajudarão. Sabe também que haverá contra ele menos homens, e inferiores aos que estão ao lado dele, e supõe que tem ainda a vantagem da posição. Dirias de tal homem... que ele ou algum homem no exército contrário, que está em circunstâncias opostas a estas, e que apesar disso persiste e fica no seu posto, qual é o mais bravo dos dois?

LACHES: Acho... que é o segundo, Sócrates.

SÓCRATES: Mas isso não é decerto uma peristência insensata?

LACHES: É verdade.


Ilustração: A Morte de Sócrates, por Jacques-Louis David.