domingo, 25 de novembro de 2012

JOÃO UBALDO RIBEIRO NA ALB

Tomou posse na Academia de Letras da Bahia, no dia 22 de novembro, o escritor baiano João Ubaldo Ribeiro. A cadeira é a de número 9, que pertenceu ao professor e grande tradutor de poesia francesa, Claúdio Veiga.
O presidente da Academia de Letras da Bahia, o escritor Aramis Ribeiro Costa, empossou o autor de Sargento Getúlio, o qual adentrou o auditório acompanhado por seus agora confrades, a poeta Myriam Fraga, o poeta Ruy Espinheira Filho e o escritor João Carlos Teixeira Gomes.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A POSSIBILIDADE DE UMA ILHA

A luz é una, mas seus raios são incontáveis.
Michel Houellebeq, in A possibilidade de uma ilha

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

DE RUY ESPINHEIRA FILHO




Um poema de RUY ESPINHEIRA FILHO


UMA VISITA EM ABRIL

Não enviarei a você
a foto em que estou sentado
no túmulo de Marcel Proust
em manhã fria e úmida de primavera,
porque não teria como explicar-lhe
que lá estava para agradecer por nós,
por nossa história por ele contada
várias vezes e de muitas maneiras,
com nomes e lugares diferentes,
mas sempre a nossa história,
desde os primeiros tempos das moças em flor,
ou ainda antes,
do jeito que foi escrito:
no tempo da Criação,
como se ainda não existisse
o passado.

Não, você nunca soube,
nem saberá,
que viveu e vive também naquelas páginas,
com nomes e feições diversas,
mas sempre bela de sua própria beleza,
de sua própria alma
fulgurante do que eu próprio lhe concedi
de mim,
como hoje trago ainda na lembrança
e escrito
pelo que visito em seu túmulo simples
de mármore negro
(e peço licença para ali sentar-me, descansando
um pouco
de tanta vida),
na manhã chuvosa e fria,
ele,
que continua a se contar,
a nos contar,
de modo tão profundo
que é como se descesse ao tempo da Criação,
quando ainda não existia
o passado.      

sábado, 25 de agosto de 2012

O ESPÍRITO DA PROSA

Gerana Damulakis

Eu conheço Cristovão Tezza e por isso durante a leitura de O espírito da prosa senti como se estivéssemos conversando sobre uma paixão comum a ambos: a literatura. Só que, pensando melhor sobre a autobiografia literária de Tezza, creio que não é necessário conhecer o escritor para sentir, durante a leitura, que há uma perfeita comunicação com aquele que está lendo as duzentas e poucas páginas de uma narrativa que mergulha visceralmente no assunto literário.

E o que nos leva a escrever, o que leva alguém a escrever, é a pergunta situada no centro do mergulho. Súbito, o escritor sente-se inadequado, infeliz, porque a literatura surge do sentimento de inadequação e de um estado longe da felicidade, pois que a felicidade não é semente, não é germe, para a prosa. Tais reflexões, pertinentes e invariavelmente entendidas por escritores, testemunham o caminho do autor de tantos romances, entre eles o premiadíssimo O filho eterno; este, mais do que qualquer outro, fruto direto de um sofrimento que, felizmente, foi purgado e bem resolvido.

Logo nas primeiras páginas encontrei o escritor-professor e estranhei. Lidas as colocações, os conceitos, a reverência ao teórico russo Mikhail Bakhtin, centro de sua tese de doutorado, há, então, a liberdade do escritor apenas escritor, que é o estado atual de Tezza. Compreendi, enfim, que se fazia preciso aquele retorno às teorias, talvez para sentir mais intensamente o momento hodierno, quando já não existe a necessidade de cumprir horários e enfrentar as salas de aula. Engana-se, em leitura apressada, quem escreveu que há demonstrações teóricas como se o escritor não tivesse conseguido o desligamento total do professor. Engana-se, pois a autobiografia literária narra, na verdade, a prática do escritor ao longo dos anos até atingir o Ensaio da Paixão, quando Tezza considera que sua literatura começou de fato com este título. Contudo, antes do Ensaio da Paixão houve outros títulos e entre eles está A cidade inventada.

Eu tenho A cidade inventada, de 1980, pela COO Editora Ltda., e a ele voltei depois que li em O espírito da prosa que apenas em um momento do livro de outrora, no conto “A primeira noite de liberdade”, o autor avalia que chegou perto de si mesmo.

Enfatizo, pois, que a autobiografia conta o caminho, aquele caminho que se faz ao caminhar, como queria o poeta espanhol, na formação do escritor. Começando desde as páginas datilografadas no seu primeiro emprego, alcançado graças ao aprendizado autodidático da datilografia na máquina de seu pai, falecido precocemente, passando por Gran Circo das Américas e O terrorista lírico, o autor chega a Ensaio da Paixão.

Gran Circo das Américas e O terrorista lírico são os únicos livros de Tezza que não tenho e que não li, mas tenho Trapo, na edição de 1988, pela Brasiliense, e Aventuras Provisórias, de 1989, pela Mercado Aberto, Prêmio Petrobras de Literatura - Novela, além de outros títulos pela Record, tal como A suavidade do vento, outros pela Rocco, até os mais atuais pela mesma Record com o belo projeto gráfico de Regina Ferraz .

Cristovão Tezza evidencia o debate interno até chegar ao patamar que atingiu, ou seja, quando o escritor consegue criar o narrador e “ele está sempre no lado de lá, vendo-me criticamente”. A lucidez que Tezza alcançou é evidente e não só em relação ao que desejava quando esclarece sobre a prosa poética, sobre os modismos, incluindo a metaficção – que ele confessa ter entrado “de raspão” com o romance A suavidade do vento –; por sinal, foi A suavidade do vento o primeiro romance de Tezza que li e irremediavelmente tornei-me sua leitora, buscando tudo que havia antes de A suavidade... E para quem está atento aos romances de Tezza é fácil perceber que assim que ele alcançou a sua linguagem, ela tornou-se inerente, passou a “fazer parte” do escritor, a ponto de, talvez, saber mais sobre o que será escrito do que o próprio.

Consciente do processo de escrever, que está revisitado neste O espírito da prosa, as páginas finais pretendem deixar a obra aberta, embora já passada a limpo a história do menino em seu caminho até o escritor, que não deixa de ser seu processo de viver. Sem conclusão, o livro encerra com esta frase final: “A literatura será uma aproximação densa e silenciosa entre duas pessoas num terreno a que nenhuma outra voz consegue chegar”. O espírito da prosa é esse encontro, enfim.

sábado, 4 de agosto de 2012

HISTÓRIA DO PÉ E OUTRAS FANTASIAS

Gerana Damulakis

Em História do Pé e outras fantasias (Cosac Naify, 2012), de Le Clézio, com tradução de Leonardo Fróes, há 10 novelas marcantes. Marcantes no sentido de inesquecíveis. Lemos as narrativas e elas nos habitam. Nada há o que se assemelhe ao que está ao nosso lado, não é uma questão de identificação, mas de "pensamento universal". Sobre tal "pensamento universal" o escritor traz para o texto suas reflexões e chega a discutir sobre a história que já carregamos ao nascer. São muitas as histórias que foram traçadas, os pés sabem disso.

Escrever é igual ao metrô. Você já sabe aonde vai, não tem uma escolha infinita de destinações, há horários a respeitar, zonas obscuras e, além do mais, nem sempre é muito agradável. Mas há também tudo aquilo que você não pode prever, o que o transporta (sem querer brincar com as palavras) e expõe, o que o atinge momentânea ou permanentemente. Quero dizer as sacudidas, os ritmos, os encontros. Os olhares trocados, que às vezes deslizam pelo escudo das vidraças, as palavras captadas, os farrapos de frases, conversas, monólogos, instantâneos insensatos, fraturas fracionadas, opus incertum de cacos e de restos em todas as línguas, gestos parados, expressões isoladas de seu contexto, sorrisos extraídos de rostos, comissuras caídas, pálpebras fechadas, reflexos em lentes de óculos, suspiros, bocejos, arrotos. E as nucas, ah as nucas. Nunca se falará o bastante das nucas. Dobradas, oferecidas ao cutelo, ou fartas, musculosas, cortadas por rugas fundas. Nucas próximas ainda da infância, dois tendões pontiagudos escavando o cerebelo, ligados ao trapézio dos ombros. Melhor as nucas que as mãos, porque as mãos se escondem, as mãos se observam, elas já aprenderam a mentir como os rostos. E, melhor que tudo, os pés.

Trecho de "Quase Apólogo" em História do Pé.
Foto: Jean-Marie Gustave Le Clézio, Prêmio Nobel de Literatura 2008.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

DON SOLIDON, DE HÉLIO PÓLVORA: EM BUSCA DO QUE NÃO FOI DITO

Gerana Damulakis

- É a minha veia romântica.
- Não a sobrecarregues. Do contrário, estoura.
HP

Segunda vez que Hélio Pólvora, experimentado contista, incursiona pelo romance. Depois da publicação de Inúteis Luas Obscenas (Casarão do Verbo, 2010), a emoção enriquecida em Don Solidon (Casarão do verbo, 2011) é a grande condutora da narrativa.
Incluindo a literatura, as personagens são: Joaquim Pedro e Anabela, pais de João Pedro e mais outros filhos, além de Marbela, irmã de Anabela, e Severiano; todos carregam, cada um a seu modo, a solidão de todos nós em sugestivos 80 capítulos.
João Pedro revisita sua vida em busca do tempo de outrora: é o menino da Casa dos Limoeiros que abria trilhas na mata com o pai enquanto ia aprendendo o quanto há para resistir e como cortar os obstáculos do caminho. Na revisitação da sua vida, João Pedro desenterra os mortos: Marbela também é avaliada desde o começo de sua decadência quando volta para a casa da irmã para viver um último amor, os restos que Severiano, eterno apaixonado por Anabela, pode oferecer-lhe. A queda de Marbela é emblemática de uma queda maior: o desabamento da Casa dos Limoeiros.
Reviver é testemunhar destruições psicológicas como a de Marbela, fruto da solidão, mas há uma destruição que resistiu mais e conheceu a reconstrução no papel de Joaquim Pedro que, após perder tudo, vai, também emblematicamente, tornar-se oleiro.
Todo o tempo revisitado por João Pedro vem acompanhado da literatura. De mãos dadas com a literatura, Don Solidon suscita em cada episódio narrado um autor, uma obra, um verso que seja. Por vezes a música e o cinema também fazem parte da narrativa, mas ela, a literatura, se faz suprema. Há três mundos entre citações, revitalizando a literatura a cada vez que ela é trazida para o palco da trama.
O romance começa com Joaquim Pedro e Anabela, acompanhados do gato da casa, conversando à noite, sentados rente ao fogão, enquanto o gato está deitado na cinza que é varrida para um lado do fogão a lenha.
O romance termina também com Joaquim Pedro, desta vez recebendo a visita da “velha senhora de negro”, quando seu último pensamento vai para Charles Chaplin, “o mais patético dos palhaços”, mas das suas entranhas desdobra-se uma onda de fel que lhe sufoca o peito e inunda a boca. Mais do que ironia, há sarcasmo no momento em que o romance junta as pontas, seu início e seu fim, com Joaquim Pedro.
O ambiente levanta o tema, rege a personagem, transposta para a ficção as inquietações de João Pedro: as vidas de seu pai e de sua mãe, de sua tia Marbela. Ainda que em certos momentos João Pedro não esteja presente o romance é um romance de formação ou, como disse Ricardo Piglia, um romance policial, porque todo romance é policial. Piglia afirma que no fundo toda literatura é literatura policial, pois sempre existe algo que se quer averiguar, “pode ser um morto que está jogado aí, ou um elemento da vida de um indivíduo”, porque o que se busca é o que não se disse, e esse processo equivale a uma edição, pois é mais importante saber o que não se vai narrar. Os grandes narradores são aqueles que sabem deter um relato no momento em que a alusão, o não dito, ou, enfim, a elipse produz um efeito sobre o que se está dizendo. É o mesmo que dizer: quanto mais for possível manter sob controle o material ficcional e não se deixar entusiasmar com a abundância de informações, maior será a tensão da narrativa.
É Orhan Pamuk quem diz , de outra maneira, quase o mesmo que o argentino Piglia. Em O romancista ingênuo e o sentimental, Pamuk mostra que o leitor busca o centro do romance com extrema atenção e essa é a operação que a mente executa quando lemos um romance e que o distingue das outras narrativas literárias; “é exatamente o fato de que ele tem um centro secreto, longe da superfície do romance, que seguimos palavra por palavra.
Por causa de sua estrutura, adequada à busca e à descoberta de um significado oculto ou de valor perdido, o gênero mais condizente com o espírito e o forte da arte novelística é o que os alemães chamam de Bildungsroman, ou “romance de formação”, que fala da moldagem, da educação e do amadurecimento de jovens protagonistas, à medida que se familiarizam com o mundo. E, conclui Pamuk, “um romance é uma segunda vida”.
No capítulo 35, intitulado “A moça de organdi preto”, um terno capítulo, o leitor testemunha mais uma solidão: uma moça circula todos os dias pela cidade para arranjar marido, pois o tempo já começa a se apresentar implacável e urgente. Há uma marca tão polvoriana: a preocupação com o tempo em seu transcurso físico em oposição a sua experimentação psicológica do íntimo das personagens. E a preocupação vai além porque se apresenta de tal forma vinculada à transformação da sociedade na qual as personagens estão situadas, de modo que suas estruturas vão sendo também problematizadas.
Tudo isto pode ser traduzido pelo que vai sendo desmontado e pelos mecanismos psíquicos que vão sendo desmascarados. Para João Pedro talvez a literatura se faça tão presente por ser uma defesa que protege sua consciência, tal como um mundo onde ele se refugia desde menino quando em lugar de brincar com o caminhãozinho que acabara de ganhar, prefere a leitura, o que não deixa de ser, apesar de tímido, um protesto do menino frente à realidade. Se os livros citados evocam aventuras como as de Dom Quixote, ou se já chamam por cismas como as de Dom Casmurro, seguramente insinuam desde então o Don Solidon – de saída, título de uma música cantada por Amália Rodrigues.
E.M.Forster diz, em Aspectos do romance, que “o teste final de um romance será nosso afeto por ele”. Preciso dizer mais sobre a afeição que desenvolvi durante a leitura por Don Solidon?

Publicado em 04/06/2012, no Caderno 2, do jornal A TARDE.

domingo, 3 de junho de 2012

META: A SÍNTESE, A SÍNTESE

Desvario laborioso e empobrecedor o de compor vastos livros; o de espraiar em quinhentas páginas uma ideia cuja perfeita exposição oral cabe em poucos minutos. Melhor procedimento é simular que esses livros já existem e propor um resumo, um comentário.
Jorge Luis Borges
"Prólogo" de O jardim dos caminhos que se bifurcam in Ficções.
Tradução: Davi Arrigucci Jr. para a Companhia das Letras.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

MELANCOLIA

Gerana Damulakis
Atualmente ando utizando o blog para guardar frases, trechos de livros, um ou outro verso. Encontrei a frase abaixo no texto sobre a melancolia de meu amigo, o poeta Manuel Anastácio, do blog Da Condição Humana (http://literaturas.blogs.sapo.pt/):

A melancolia é o estado de alma que nos aproxima do peso e do número das coisas.
Manuel Anastácio

Ilustração: Edvard MUNCH, Melancolia (Laura), de 1899. Óleo sobre tela, 110 x 126 cm. Munch Museet – Oslo. Origem da imagem: www.hubin.org

terça-feira, 29 de maio de 2012

A CAPACIDADE PARA O ORNAMENTO

Até a ciência não pode existir sem a beleza...
Dostoiévski em Os demônios

terça-feira, 22 de maio de 2012

CAJAZEIRA NA ALB

Ontem, 21 de maio de 2012, o poeta Luís Antonio Cajazeira Ramos foi eleito como membro efetivo da Academia de Letras da Bahia. Seu primeiro livro foi Fiat Breu (Edições Papel em Branco, 1996), daí vem Como se (FUNCEB, 1999), do qual retiro o soneto "Punhal", cortante (sem trocadilhos), que faz a platéia estremecer quando dito pelo autor em voz alta, tal como ocorreu numa Bienal do Livro, aqui em Salvador, no Café Literário que ali foi implantado. Em 2002, Luís Antonio publicou Temporal temporal, pela Relume Dumará, um livro que antes de ser editado já era um vencedor: ganhou o Prêmio Gregório de Mattos 2000 da Academia de Letras da Bahia e foi menção honrosa no Cruz e Sousa 1998 da Fundação Catarinense de Cultura. De 2007 é Mais que sempre, lançado pela 7Letras.
Há vários poemas de Luís que poderiam servir como amostra de sua poesia, seja pela força, seja pelo espanto que causam, seja pela beleza em si. Seguem o supracitado "Punhal" (pena que a voz dele não pode ir junto) e "Sonâmbula", dedicado a Gerana (diz ele que logo após a feitura, leu para mim pelo telefone - ele tem mania de fazer isso - e eu adorei; mas há tantos que eu admiro igualmente).


SONÂMBULA

A Gerana Damulakis

A vida passava, o amor não chegava.
Aguardava (a esperança a guardava)
o que não acontecia, quem não vinha.

Desenhava a felicidade na fumaça das horas,
debruçada sobre o parapeito dos sonhos,
vendo a todos transeuntes do deserto,
sob a sacada das emoções perdidas.

Improvável Penélope, tecia ilusões de partida
para confins imaginários sob o lençol diáfano,
manchado do sangue virgem de seus desejos,
satisfeitos na solidão de núpcias de nuvem.

A vida passava, a dor não chegava
ao pesar da vigília, a que o engano negava
acordar os galos e deitar os lampiões...
E beladormecia na eternidade em que se perdera.

E não se sabe que bruxa, que fada,
que fado a vida reservara a seu destino
de Cinderela das vertigens.


PUNHAL

Não quero ver, em teu olhar de vítima,
o viés de amor que me pretende algoz
de um sofrimento vão que ignoro. Atroz,
destruo teu desejo com desídia.

Meu dia tinge em negro a noite branca
do teu sonho, enlutando-o em solidão.
Ah esperança de que eu te fosse a pomba
que apazigua a dor... Tola ilusão.

Nego-te os arrepios de meus dedos
provocantes e táteis em teus pêlos
e não faço as carícias que precisas.

Não digo nada além de meu silêncio.
Nem ao menos desprezo teu tormento,
pois sigo estátua fria, sem desdita.

CAJAZEIRA NA ALB

Seu primeiro livro foi Fiat Breu (Edições Papel em Branco, 1996), daí vem Como se (FUNCEB, 1999), do qual retiro o soneto "Punhal", cortante (sem trocadilhos), que faz a platéia estremecer quando dito pelo autor em voz alta, tal como ocorreu numa Bienal do Livro, aqui em Salvador, no Café Literário que ali foi implantado. Em 2002, Luís Antonio publicou Temporal temporal, pela Relume Dumará, um livro que antes de ser editado já era um vencedor: ganhou o Prêmio Gregório de Mattos 2000 da Academia de Letras da Bahia e foi menção honrosa no Cruz e Sousa 1998 da Fundação Catarinense de Cultura. Há vários poemas de Luís que poderiam servir como amostra de sua poesia, seja pela força, seja pelo espanto que causam, seja pela beleza em si. Seguem o supracitado "Punhal" (pena que a voz dele não pode ir junto) e "Sonâmbula", dedicado a Gerana (diz ele que logo após a feitura, leu para mim pelo telefone - ele tem mania de fazer isso - e eu adorei; mas há tantos que eu admiro igualmente). SONÂMBULA A Gerana Damulakis A vida passava, o amor não chegava. Aguardava (a esperança a guardava) o que não acontecia, quem não vinha. Desenhava a felicidade na fumaça das horas, debruçada sobre o parapeito dos sonhos, vendo a todos transeuntes do deserto, sob a sacada das emoções perdidas. Improvável Penélope, tecia ilusões de partida para confins imaginários sob o lençol diáfano, manchado do sangue virgem de seus desejos, satisfeitos na solidão de núpcias de nuvem. A vida passava, a dor não chegava ao pesar da vigília, a que o engano negava acordar os galos e deitar os lampiões... E beladormecia na eternidade em que se perdera. E não se sabe que bruxa, que fada, que fado a vida reservara a seu destino de Cinderela das vertigens. PUNHAL Não quero ver, em teu olhar de vítima, o viés de amor que me pretende algoz de um sofrimento vão que ignoro. Atroz, destruo teu desejo com desídia. Meu dia tinge em negro a noite branca do teu sonho, enlutando-o em solidão. Ah esperança de que eu te fosse a pomba que apazigua a dor... Tola ilusão. Nego-te os arrepios de meus dedos provocantes e táteis em teus pêlos e não faço as carícias que precisas. Não digo nada além de meu silêncio. Nem ao menos desprezo teu tormento, pois sigo estátua fria, sem desdita.

CAJAZEIRA NA ALB

Ontem, 21 de maio de 2012, foi eleito como membro efetivo da Academia de Letras da Bahia o poeta Luis Antonio Cajazeira Ramos.

Seu primeiro livro foi Fiat Breu (Edições Papel em Branco, 1996), daí vem Como se (FUNCEB, 1999), do qual retiro o soneto "Punhal", cortante (sem trocadilhos), que faz a platéia estremecer quando dito pelo autor em voz alta, tal como ocorreu numa Bienal do Livro, aqui em Salvador, no Café Literário que ali foi implantado. Em 2002, Luís Antonio publicou Temporal temporal, pela Relume Dumará, um livro que antes de ser editado já era um vencedor: ganhou o Prêmio Gregório de Mattos 2000 da Academia de Letras da Bahia e foi menção honrosa no Cruz e Sousa 1998 da Fundação Catarinense de Cultura. Há vários poemas de Luís que poderiam servir como amostra de sua poesia, seja pela força, seja pelo espanto que causam, seja pela beleza em si. Seguem o supracitado "Punhal" (pena que a voz dele não pode ir junto) e "Sonâmbula", dedicado a Gerana (diz ele que logo após a feitura, leu para mim pelo telefone - ele tem mania de fazer isso - e eu adorei; mas há tantos que eu admiro igualmente). SONÂMBULA A Gerana Damulakis A vida passava, o amor não chegava. Aguardava (a esperança a guardava) o que não acontecia, quem não vinha. Desenhava a felicidade na fumaça das horas, debruçada sobre o parapeito dos sonhos, vendo a todos transeuntes do deserto, sob a sacada das emoções perdidas. Improvável Penélope, tecia ilusões de partida para confins imaginários sob o lençol diáfano, manchado do sangue virgem de seus desejos, satisfeitos na solidão de núpcias de nuvem. A vida passava, a dor não chegava ao pesar da vigília, a que o engano negava acordar os galos e deitar os lampiões... E beladormecia na eternidade em que se perdera. E não se sabe que bruxa, que fada, que fado a vida reservara a seu destino de Cinderela das vertigens. PUNHAL Não quero ver, em teu olhar de vítima, o viés de amor que me pretende algoz de um sofrimento vão que ignoro. Atroz, destruo teu desejo com desídia. Meu dia tinge em negro a noite branca do teu sonho, enlutando-o em solidão. Ah esperança de que eu te fosse a pomba que apazigua a dor... Tola ilusão. Nego-te os arrepios de meus dedos provocantes e táteis em teus pêlos e não faço as carícias que precisas. Não digo nada além de meu silêncio. Nem ao menos desprezo teu tormento, pois sigo estátua fria, sem desdita.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

CARLOS FUENTES (11/11/1928 - 15/05/2012)

Un artista sabe que no hay belleza sin forma pero también que la forma de la belleza depende del ideal de una cultura. El artista trasciende, parcial y momentáneamente, el dilema, añadiendo un factor: no hay belleza sin mirada. Es natural que un artista privilegie a la mirada. Pero un gran artista nos invita no sólo a mirar sino a imaginar.
Carlos Fuentes

sábado, 21 de abril de 2012

A VISÃO DE PIGLIA

"Un estudioso del lenguaje debe creer en lo que a simple vista no se ve. La mirada del cazador solitario que rastrea en la costra reseca de la estepa la pisada liviana del fénix."

Ricardo Piglia- Encuentro en Saint- Nazaire

Postagem graças a um e-mail de minha querida poeta Silvia Zappia, do blog En Zigurat, que me mandou a maravilhosa frase de Ricardo Piglia.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A CRÍTICA

Depois do direito de criar, o direito de criticar é o bem mais precioso que a liberdade de pensamento pode ofertar.
Vladimir Nabokov