sexta-feira, 30 de outubro de 2009

JORGE LUÍS BORGES: MOMENTO DE RUPTURA

Gerana Damulakis


Talvez se possa atribuir a Flaubert a inauguração de uma importância até então não corriqueira, ou seja, a importância da figura do escritor, haja vista Flaubert escrever e testemunhar tal ato num mesmo texto.
Talvez se possa atribuir a Proust a (re)criação de um mundo real com as palavras através de um perfeito equilíbrio com a própria ficção.
Agora não há talvez. Certamente se pode atribuir a Jorge Luís Borges um ponto de ruptura, dada sua narrativa ensaística: verdadeiro ato que tirou as algemas das possibilidades literárias, permitindo que alcançassem seus voos.
Eis o momento: as narrativas podem ser classificadas de ensaios, livros de viagem, memórias ou autobiografias, como sempre foram. A diferença está, enfim, em serem englobadas como grandes romances. Exemplos? Os textos de W. G. Sebald (1944-2001), de Claudio Magris (1939- ), para ficarmos apenas com dois escritores. Há outros. Muitos.


Ilustração: litografia "Relativity", de M. C. Escher, de 1953.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

AMANHÃ, DIA 30, NA ALB




A Academia de Letras da Bahia convida para o Colóquio Euclides
da Cunha, pelos cem anos de sua ausência, e pelos cinquenta anos
do confrade Aleilton Fonseca

17h - Mesa-Redonda:
Coordenação Edivaldo M. Boaventura (presidente da ALB)

O Parque de Canudos
Edivaldo M. Boaventura (ALB)

A formação intelectual de Euclides da Cunha
José Carlos Barreto (UEFS)

Aleilton Fonseca faz Canudos redivivo
Maria Lúcia Martins (ALJ)

18h - Sessão de autógrafos:
O PÊNDULO DE EUCLIDES, Romance de Aleilton Fonseca

Dia 30 de outubro de 2009, às 17h
Av. Joana Angélica, 198 / Nazaré - Salvador- BA

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

ESPAÇO CRÍTICO

O DEVER QUE NÃO NOS CHAMA
ou CADÊ A PARTE QUE ME CABE DESTE LATIFÚNDIO?

por Silvério Duque*

Construir uma Antologia, por mais hábil e capaz que uma pessoa seja, é uma das coisas mais complicadas e arriscadas que ela, em são juízo, se presta a fazer em sua vida; principalmente, pelo fato de essa tarefa, irrefutavelmente, despertar a indignação de alguém, seja por não ver o seu trabalho ali publicado, ou, por não achar, nesta publicação, um trabalho do qual ele goste e considere digno de ali se fazer presente. Seria simples dizer: “quem quiser uma boa antologia, que a faça?” Claro que não...! Eu que tenho pretensões – e somente pretensões, até agora – de me arriscar a tal tarefa, sei muito bem deste problema.
Mas me parece que o professor e poeta Marco Lucchesi esqueceu-se um pouquinho disto em Roteiro da Poesia Brasileira: volume anos 2000 (Global, 2009), de sua autoria. Digo isso por causa do enorme estardalhaço que esta antologia causou – pelo menos, no espaço destinado aos comentários no Blog Leitora Crítica (http://leitoracritica.blogspot.com), administrado pela autora Gerana Damulakis, aqui, da Bahia... de Salvador – fora isso, a antologia me parece que vai muito bem, obrigado! Gerana, que é autora, entre tantas coisas, da Antologia panorâmica do conto baiano, deveria, também, ficar temerosa, pois... nunca se sabe.
Pela qualidade de sua poesia, que conheço bem, e por seu trabalho como crítico, que muito pouco conheço, Marco Lucchesi é uma das pessoas mais capazes de construir uma antologia permeada de riqueza e de qualidade, mas como disse a pouco, quem o livrará de irrefutáveis indignações? Seu trabalho foi rechaçado por uma turba de leitores e autores indignados, e, a maioria com razão, de esta antologia não abarcar o real momento por que passa a produção literária baiana e se limitar a um grupo geograficamente e cooperativistamente incrustado em Salvador e pela mídia local.
Parece-me que a grande questão está na atuação destes poetas no círculo literário baiano, que, sem sombra de dúvidas, ou pelo menos em meu ver, é muito grande; é só conferir os cadernos culturais, os concursos literários, as raríssimas, mas existentes, entrevistas em rádio e TV, e veremos que há uma razão muito grande para que estes nomes se façam presentes; por isso, não vou, de forma alguma, atacar o trabalho de Lucchesi, nem os critérios pelos quais ele chegou a esta tão “famigerada” lista de autores baianos, mesmo que alguns desses, sequer tenham nascido na Bahia – mas alguém aqui diria que Clarice Lispector é uma dignatária da literatura ucraniana? Vanessa Buffone, por exemplo, tem uma poesia leve e expressiva, e, retirando-se alguns lugares-comuns do feminismo literário, é a autora mais talentosa presente entre os “novos baianos”. Já no que diz respeito a outros ali presentes... é melhor deixar pra lá.
Dado aos círculos de amizades que se fazem entre muitos escritores, que criam, promovem, participam e premiam-se mutuamente, com a ajuda cooperativista que tanto banaliza a política e a maioria dos negócios em nosso país, e que não se faz diferente nos meios literários de todo o Brasil, entre Academia, Cadernos Culturais e tapinhas nos ombros, temo que Marco Lucchesi tenha sido vítima das aparências muito mais do que muitos leigos e despercebidos que, sentados na poltrona de suas casas, de frente para algum programa sensacionalista de televisão ao meio-dia, dão tanta importância a assuntos ligados à Literatura quanto se dá a um mosquito que acabou de ser esmagado pelo jornal de ontem... aqueeeele que continha um certo caderninho, com uns poeminhas...?!
Pensando melhor... bem que Marco Lucchesi poderia ter dado uma olhadinha na Bahia para além de Salvador... ali, em Ilhéus, em Feira de Santana, em Cachoeira... Ele só não pode dizer que foi contagiado pela famosa “preguiçinha baiana”, pois, para alguém com tantos e merecidos títulos como Lucchesi, para um professor à altura de sua graduação e fama, faltou-lhe o elemento básico em sua antologia: uma boa, sincera e exaustiva pesquisa.

***

E pior que o cooperativismo deliberado é o espírito cooperativista intrínseco, pelo que me parece existir no espírito sujo de muita gente, que, infelizmente, acha que uma pessoa que critica, por melhor e construtiva que seja a crítica, é uma invejosa e uma infeliz que não realizou seus sonhos e aspirações, e, mais interessante ainda, é se valer de críticas para criticar o uso da crítica propriamente dita... “faça-me uma garapa!”, como dizia o meu avô, esta não tem Freud que explique.
Digo isso, pois, dos muitos comentários que li o do poeta Gustavo Felicíssimo foi um dos melhores e mais coerentes, mas, por uma dessas ilógicas que só têm lógica nos meios literários brasileiros, e, conseqüentemente, no baiano, foi o mais atacado e acusado entre tantas coisas – até mesmo de fruto de uma inveja explícita e descabida... ai, minha carapuça!
Gustavo Felicíssimo, a quem aprendi facilmente a admirar como pessoa e como artista, é um defensor de idéias e filosofias e ver alguma inveja em seus comentários é o mesmo que enxergar a pedagogia de Piaget num programa da Xuxa. O que será de mim, então, após publicar este artigo? Miserere mei, Deus: secundum magnam misericordiam tuam...
Tão importante quanto o fato de defender uma idéia, e ainda mais uma filosofia, é vivê-la, é torná-la a essência de sua existência e nela construir uma vida singular, baseada naquilo que se tem como verdade ou missão, e, isso, cabe, também, e talvez mais (ou mais freqüentemente) aos poetas. É o caso, por exemplo, do Gustavo Felicíssimo, atualmente um dos melhores, mais promissores e ativos poetas da atual Literatura Baiana e Brasileira; atividade que vai além da poesia e se estende para um trabalho de divulgação das novas gerações poéticas e que, graças à qualidade tanto de sua poesia como de seu trabalho de crítico e de divulgador, tem sido reconhecido por muitos dos melhores poetas e críticos do país, a exemplo de Pedro Sette Câmara, Cláudia Cordeiro e Luis Dolhnikoff e, lógica e verdadeiramente, é atacado e invejado por uma leva considerável de nossos medíocres alguma-coisa.
Eu, particularmente, considero as micro-entrevistas da série Três perguntas para... (conferir: http://sopadepoesia.zip.net), uma das idéias mais bem boladas da Internet e, mais particularmente ainda, um dos melhores projetos dos quais participei. O fato de se fazer presente em várias revistas e sites de poesia, além de seu Blog, Sopa de poesia, ser reconhecidamente premiado, pela revista Veja, como um dos melhores Blogs do país, são exemplos concretos de que Gustavo Felicíssimo merece todos os elogios que, sem medo ou pudor, e, sim, com sinceridade e débito, venho prestar a ele nestas poucas e insuficientes palavras... Como podem ver, aceito a cruz que, deliberadamente, me adorna os ombros.

Se o Gustavo fez quaisquer comentários sobre seja lá o que for, ele deve ser julgado pela qualidade e veracidade dos comentários que fez e não porque, simplesmente, teve a coragem, o dever e a capacidade lúcida e bem fundada de fazê-lo e o mesmo vale para a antologia de Marco Lucchesi... o que ou quem se presta contra estas coisas, sim, é um invejoso ou um cooptado por ela.

Mas não é Freud que diz que dizia que “o instinto de amor em direção a um objeto exige um domínio para obtê-lo, e, se uma pessoa sente que não consegue controlar o objeto, ou se sente ameaçada por ela, passa a agir negativamente com relação a ele ...”?

Melhor deixar pra lá...


Feira de Santana, 28 de outubro de 2009.



________________________
Silvério Duque é poeta, professor, licenciado em Letras Vernáculas pela Universidade Estadual de Feira de Santana, músico. É autor dos livros de poesia: O crânio dos peixes (MAC, 2003) e Baladas e outros aportes de viagem (Ed. Pirapuama, 2006). Seu novo livro de poemas, Ciranda de sombras está no prelo.

IV BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DE ALAGOAS


Arriete Vilela na IV Bienal Internacional do Livro de Alagoas:
1. no dia 31 de outubro (sábado), no estande da SECULT/ Biblioteca Pública Estadual, com o livro OBRA POÉTICA REUNIDA;
2. no dia 4 de novembro (quarta-feira), no estande da Sobrames, com os livros GRANDE BAÚ, A INFÂNCIA e FANTASIA E AVESSO - 5ª edição -, e
3. no dia 4 de novembro (quarta-feira), no estande da FAA, com postais (poemas e fotografia).

terça-feira, 27 de outubro de 2009

10 ANOS SEM CABRAL

Gerana Damulakis


Dez anos da morte de João Cabral de Melo Neto, ocorrida no dia o9 de outubro de 1999. O dia já passou, o mês ainda segue e é um mês que tem cheiro de morte, nome de morte, traz a raiva da morte - obviamente se trata de algo pessoal, é assim que sinto outubro.
Levanto os olhos e na parede estão duas fotos emolduradas: uma de Clarice Lispector, a outra de João Cabral de Melo Neto. A de Cabral é belíssima, ele tem os olhos fechados, a mão direita segurando o queixo.
Cabral é um dos meus poetas brasileiros preferidos. Jamais esquecerei o dia em que li “Uma faca só lâmina”. No tempo em que me imaginei poeta e publiquei o justamente esquecido Guardador de Mitos, era notória a influência de Cabral, embora minha admiração total por Manuel Bandeira. Atualmente, já não vejo assim. Bandeira e Cabral estão no mesmo patamar de excelência (redundância proposital), apenas são diferentes e há a hora para ler um “Belo Belo” e há a hora para ler um poema tal como “A Mulher e a Casa”.
A poesia da razão de Cabral tem origem em sua sensibilidade. Parece um paradoxo? Vale reparar bem, vale verificar quanta sensibilidade é necessária para colocar a razão regendo as quadras. No exemplo abaixo, um erotismo singular.

A MULHER E A CASA
João Cabral de Melo Neto

Tua sedução é menos
de mulher do que de casa;
pois vem de como é por dentro
ou por detrás da fachada.

Mesmo quando ela possui
tua plácida elegância,
esse teu reboco claro,
riso franco de varandas,

uma casa não é nunca
só para ser contemplada;
melhor: somente por dentro
é possível contemplá-la.

Seduz pelo que é dentro,
ou será, quando se abra;
pelo que pode ser dentro
de suas paredes fechadas;

pelo que dentro fizeram
com seus vazios, com o nada;
pelos espaços de dentro,
não pelo que dentro guarda;

pelos espaços de dentro:
seus recintos, suas áreas,
organizando-se dentro
em corredores e salas,

os quais sugerindo ao homem
estâncias aconchegadas,
paredes bem revestidas
ou recessos bons de cavas,

exercem sobre esse homem
efeito igual ao que causas:
a vontade de corrê-la
por dentro, de visitá-la.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

ANTOLOGIA DO CONTO HÚNGARO

Gerana Damulakis


Quando escrevi uma postagem sobre o conto de James Joyce, “Os Mortos”, por conta deste ter sido escolhido como o melhor conto de século XX, meu amigo, o escritor Fred Matos, comentou sobre um conto imperdível. Trata-se de “Médicos”, do húngaro Biró Lajos, nascido em 1880 e morto em 1948. Fred leu o conto na Antologia do Conto Húngaro, com seleção, tradução, introdução e notas de Paulo Rónai, revisão de Aurélio Buarque de Hollanda e prefácio de João Guimarães Rosa: uma jóia!
Por coincidência também tenho tal antologia, com a assinatura do dono do exemplar na folha de rosto, ou seja, a assinatura de meu tio, o jornalista Flávio Costa, irmão de minha mãe, e que foi amicíssimo do pai de Fred, Ariovaldo Matos. Penso que ambos compraram seus exemplares juntos, pois que eram escritores e leitores, além de amigos.
Acho muito interessante que, passado tanto tempo, o filho de Ariovaldo Matos e a sobrinha e afilhada de Flávio Costa recorram aos livros herdados, recorram à leitura de determinado conto. É como se eles, Ariovaldo e Flávio, permanecessem um tanto através da Antologia do Conto Húngaro, editada pela Civilização Brasileira, em 1957, ano em que os dois familiares nossos, tão queridos, todavia desfrutavam da juventude intensa que tiveram. O meu exemplar herdado está perfeito, coloquei capa dura.
O conto “Médicos”, de Biró Lajos é bastante elaborado ao modo de Maupassant. Leitura prazerosa, narrativa com fluência em cima de um episódio. Leio que o autor foi famoso por romances e peças. E, buscando imagens para ilustrar esta postagem, descubro que a antologia teve reedição pela Topbooks, em 1998 (foto).

domingo, 25 de outubro de 2009

UMA BIOGRAFIA DE CLARICE LISPECTOR

Gerana Damulakis

Uma biografia de Clarice Lispector foi lançada recentemente nos Estados Unidos. O título é Why This World: A Biography of Clarice Lispector, de Benjamin Moser, editado pela Oxford University Press, com 480 páginas.
O autor é colaborador de The New York Review of Books, Harper’s e Conde Nast Traveler. Benjamin Moser, americano radicado na Holanda, é admirador da obra de Clarice. Ele conheceu os textos de Lispector num curso de português na Universidade de Brown. Sua pesquisa se deu através de um programa de intercâmbio na PUC do Rio. Além disso, durante cinco anos, ele realizou entrevistas e fez viagens, indo até a Ucrânia, terra natal de Clarice.
O livro terá lançamento no Brasil em novembro pela Cosac & Naify.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

COMO UMA DISPUTA QUALQUER

Gerana Damulakis

A minha cabeceira tem qualquer coisa de uma corrida,um concurso, uma disputa. Faço uma seleção de tempos em tempos, mas logo volta a pilha de livros. Os que perdem o lugar na cabeceira, todavia não foram descartados, apenas vão para a mesa da minha biblioteca, onde outra pilha vai se formando. Geralmente ocorre a volta para a cabeceira. Tenho um péssimo hábito de ler muitos livros ao mesmo tempo, só que invariavelmente um deles toma a dianteira e faz com que eu não abra os demais até terminá-lo. Quando algum livro de José Saramago é retirado da sacola e ganha seu lugar na cabeceira, nenhuma chance haverá para os que ali já estiverem. Apenas O Evangelho Segundo Jesus Cristo conseguiu ficar uma semana sendo lido; os outros – todos os outros títulos de JS – foram consumidos com voracidade. Resultado: até meus sonhos acontecem com a linguagem de Saramago, passo a pensar com o estilo dele, é uma empatia incrível. Com Caim, estou experimentando o mesmo que se deu com O Evangelho. Os temas relacionados com Deus, Jesus Cristo, me afastam. Penso que seja porque, diferentemente de Saramago, eu tenho muita fé católica (sou bisneta de padre - ordoxo grego -, a fé está em mim por herança). Leio, no entanto. Leio porque não perco a oportunidade de saborear o estilo de Saramago.
É isto, estou lendo Caim. Vagarosamente. Na corrida da minha cabeceira, Herta Müller – com O Compromisso - está ganhando de Saramago, de Junichiro Tanizaki ( autor fascinante, já li vários títulos, mas menos envolvente neste A Vida Secreta do Senhor Musashi), de Marguerite Duras (sempre encantadora, porém Cadernos da Guerra e Outros Textos, embora conservem o vigor narrativo dos romances, não deixam de ser documentos de arquivo; menos sedutores, por consequência).
Vou começar agora A Autobiografia de Alice B. Toklas, por G. Stein, na belíssima edição da Cosac Naify, com tradução de José Rubens Siqueira e posfácio de Silviano Santiago. Vale registrar que a L&PM já editava este título desde os anos 80.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

ROTEIRO DA POESIA BRASILEIRA - ANOS 2000


Acaba de sair mais um volume da coleção ROTEIRO DA POESIA BRASILEIRA (Global, 2009). Trata-se do volume ANOS 2000, organizado por Marco Lucchesi.

Residentes na Bahia são cinco: Cleberton do Santos, José Inácio Vieira de Melo, Kátia Borges Marcus Vinícius Rodrigues e Vanessa Buffone. Nascidos na Bahia: Kátia Borges e Marcus Vinícius Rodrigues.

O livro contempla os poetas que lançaram a partir do ano 2000. O organizador se valeu de indicações de escritores espalhados pelo país para conhecer os poetas.

Eis a divisão pelo Brasil

45 poetas dos seguintes estados

Rio de Janeiro: 16 (Vanessa Buffone)
São Paulo: 9
Pernambuco: 4
Minas Gerais: 3
Paraná: 3
Rio Grande do Sul: 3
Bahia: 2 (Kátia Borges e Marcus Vinícius Rodrigues)
Alagoas: 1 (José Inácio Vieira de Melo)
Sergipe: 1 (Cleberton Santos)
Ceará: 1
Piauí: 1
Brasília: 1Pará: 1

POESIA GRAPIÚNA


domingo, 18 de outubro de 2009

A BOLAÑO-MANIA

Gerana Damulakis

Na Folha de São Paulo, em dezembro do ano passado, li este parágrafo:
"Os Estados Unidos vivem hoje duas manias. A Obama-mania e a Bolaño-mania." A frase é de ninguém menos que Andrew Wylie, um dos mais importantes agentes literários do mundo. O representante de autores como Philip Roth, Saul Bellow e Norman Mailer declarou à Folha que, em 30 anos de atuação no mercado editorial, jamais havia observado um fenômeno de vendas como o que está sendo alcançado pelo chileno Roberto Bolaño (1953-2003).
Para nós, abaixo da linha do Equador, o sucesso de Bolaño não é novidade.
Tive que retomar Putas Assassinas (Companhia das Letras, 2008) porque Bolaño inscreveu em mim a imagem do poeta francês Gui Rosey, que o rapaz chamado B está lendo, no conto "Últimos entardeceres na terra", e ela insistia em voltar, assim como era uma imagem recorrente para o personagem B. Voltando, concluo que a habilidade narrativa de Bolaño é algo fascinante e envolvente. Lembrei de Noturno do Chile (Companhia das Letras, 2004) com seus 2 parágrafos, sendo o último composto por poucas palavras. É cortante. É único.
Comentei com Rute Oliveira do blog À volta das letras (http://avoltadasletras.blogspot.com/, ou entrada pelos meus favoritos) que a leitura dos textos de Bolaño me causam uma certa melancolia. O prazer estético supera a melancolia, mas tenho que ser sincera e assumir a tristeza que me toma. Por vezes, sinto que ele traz a completa falta de sentido da vida e coloca isto na frente do leitor. O que importa, porém, o que sinto? A leitora abandona os sentimentos para colocar a mirada na literatura, só que Roberto Bolaño é tão estupendo que a manobra fica difícil.

Daí lembro da exclamação que José Mário Silva colocou no seu blog Bibliotecário de Babel (http://bibliotecariodebabel.com/, ou entrada pelos meus favoritos) quando terminou a leitura do livro 2666. E com ele, José Mário, aconteceu o que estou tentando dizer: o sentimento do leitor foi maior, mais pungente. É o que ocorre: o sentimento chega com uma incrível força, capaz de colocar o crítico, o observador da literatura, em segundo plano, pois apenas mais tarde, na tranquilidade da emoção já no passado ( isso lembra Wordworth) é que se torna viável uma análise.
Em tempo: na ocasião, a exclamação de José Mário Silva foi a crítica mais perfeita que alguém poderia ter feito a um livro: a expressão verdadeira, a autenticidade do sentimento. Ao fim e ao cabo, literatura não se ensina, se sente.

sábado, 17 de outubro de 2009

A POESIA ANTES DE TUDO


Gerana Damulakis


De la musique avant toute chose — é o verso clássico de Paul Verlaine (Metz, 1844 — Paris, 1896), que conquista o lugar de chef d’école quando publica na Paris Moderne, em 1874, o poema “Art Poétique”. Escrito oito anos antes, Verlaine lança o credo de uma estética no momento em que os jovens estavam ávidos por uma, digamos, receita para exprimir o movimento simbolista: o que não quer dizer que Verlaine tenha se comportado como filósofo ou teórico-mor de uma revolução poética.

ARTE POÉTICA
-------------------A Charles Morice

Antes de tudo, a Música. Preza
Portanto o Ímpar. Só cabe usar
O que é mais vago e solúvel no ar,
Sem nada em si que pousa ou que pesa.

Pesar as palavras será preciso,
Mas com algum desdém pela pinça:
Nada melhor do que a canção cinza
Onde o Indeciso se une ao Preciso.

Uns belos olhos atrás do véu,
o lusco-fusco no meio-dia,
a turba azul de estrelas que estria
O outono agônico pelo céu!

Pois a nuance é que leva a palma,
Nada de Cor, somente a nuance!
Nuance, só, que nos afiance
O sonho ao sonho e a flauta na alma!

Foge do Chiste, a Farpa mesquinha,
Frase de espírito, Riso alvar,
Que o olho do Azul faz lacrimejar,
Alho plebeu de baixa cozinha!

A eloqüência? Torce-lhe o pescoço!
E convêm empregar de uma vez
A rima com certa sensatez
Ou vamos todos parar no fosso!

Quem nos dirá dos males da rima!
Que surdo absurdo ou que negro louco
Forjou em jóia este toco oco
Que soa falso e vil sob a lima?

Música ainda, e eternamente!
Que teu verso seja vôo alto
Que se desprende da alma no salto
para outros céus e para outra mente.

Que teu verso seja a aventura
Esparsa ao árdego ar da manhã
Que enchem de aroma o timo e a hortelã...
E todo o resto é literatura.

Traduzido por Augusto de Campos

O verso inicial, “A música antes de tudo”, influencia o mundo inteiro com sua receita: há que se procurar o verso ímpar, pois “só cabe usar o que é mais vago e solúvel no ar”. E vamos em busca de uma “canção cinza” porque, no total, é “onde o indeciso se une ao preciso”. Depois de todos os versos em defesa da nuance, do ato de velar, da coisa voejante, tudo em nome da musicalidade, vemos o quanto Verlaine está longe do cerebrismo de Baudelaire, ou da pregação de Mallamé visando o enigma como objetivo da literatura, ou mesmo e também, longe do espírito perturbado do “menino partidário de Satã “, seu companheiro Rimbaud. Diferente destes, Verlaine visa a emoção imediata criada pela fantasia musical.
Hoje, na França e fora dela, Verlaine é visto pela crítica como o simbolista puro, o poeta da emoção imediata com um calculado tom ingênuo que beneficia a aderência ao instantâneo da sensibilidade. É essa feição mais simples de seu lirismo que influencia na técnica simbolista: o Verlaine mais natural, mais voluntário e mais íntimo.
No Brasil, foi a música de Verlaine que Cruz e Souza levou para seus versos. Com Alphonsus de Guimarães, a admiração por Verlaine chegou à sujeição de sua própria poesia. Cecília Meireles fez uma verdadeira declaração ao poeta francês nos versos: “ó Verlaine, te amamos/ Lerás nos troncos. Até hoje”.
A gama de tradutores é imensa, indo de Onestaldo de Pennafort, o mais assíduo entre nós, passando por Herculano de Carvalho, Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira, Dante Milano, Jamil Almansur Haddad, até Augusto de Campos, Cláudio Veiga, José Lino Grunewald.
Vale ressaltar que a crítica biográfica que Verlaine intitulou Les Poètes Maudits, em 1884, inclui Rimbaud e Mallamé, mas, na verdade, o único ponto em comum entre os três é a contemporaneidade, porque Verlaine, sem dúvida, é quem tem um maior alcance e reverberação na poesia, então já simbolista, do final do século passado. Talvez seja a maneira mais “fácil” de ler os poemas de Verlaine, que embriaga o leitor, ou, talvez seja porque não lhe ocorre interpretar, solucionar nem adivinhar os enigmas do universo; ele tão-somente se deixa envolver em sua totalidade de sensações com aquele “sentimento oceânico” freudiano.
Quando Verlaine sentiu o excessivo entusiasmo dos jovens diante dos versos de "Arte Poética", ele disse em 1890: “Não tomeis ao pé da letra minha ‘Art Poètique’ que, afinal, não é senão uma canção”. É certamente apenas uma canção verlainiana: "Et tout le rest est littérature".


Trecho do texto "A poesia antes de tudo (sobre o poema quase receita de Paul Verlaine)" in O rio e a ponte - À margem de leituras escolhidas. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo, FUNCEB, EGBA, 1999.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

AS PEÇAS COM ORIGEM NOS CONTOS



Li a introdução do próprio Tennessee Williams; na verdade, uma declaração de amor ao pai, mas um texto pleno de literatura, haja vista a poltrona do pai atuando como um símbolo enriquecedor no texto. Gore Vidal conta um tanto de seu relacionamento com Tennessee Williams, chega a rotulá-lo como um autor envolvente. E enxerga nos contos a origem das peças do dramaturgo.
Li o conto “Grand”, autobiográfico, trazendo a figura da avó materna, já mencionada na introdução.
Momento Tennesse Williams.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

6 ESTATUETAS PARA A EDITORA COSAC NAIFY NO PRÊMIO JABUTI 2009



Moby Dick,de Herman Melville. Melhor capa [1º lugar], projeto gráfico de Luciana Fachinni


O livro amarelo do Terminal,de Vanessa Barbara. Melhor reportagem [1º lugar]


O santo sujo: a vida de Jayme Ovalle,de Humberto Werneck. Melhor biografia [3º lugar]


Satíricon,de Petrônio. Melhor tradução [2º lugar], com tradução de Cláudio Aquati


O Fazedor de Velhos,de Rodrigo Lacerda. Melhor juvenil [1º lugar]


Cidade dos deitados,de Heloisa Prieto (texto) e Elisabeth Tognato (ilustrações). Melhor juvenil [2º lugar]. Coedição: Edições SESC-SP

PRÊMIO JABUTI 2009 - CONTOS E CRÔNICAS: CARPINEJAR


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O MELHOR CONTO DO SÉCULO XX: "OS MORTOS", DE JOYCE

Gerana Damulakis

Os norte-americanos adoram listas. Elaboram listas sobre tudo. Em lista que enumerava os melhores contos do século XX, o conto escolhido como o melhor foi “Os mortos”, de James Joyce.
O conto “The Dead” (“Os Mortos”) é o último do volume Dublinenses e difere dos demais contos, tanto pela maior extensão, quanto pela intensidade poética e pelo simbolismo que encerra. O melhor conto do livro, é também o conto que ilumina as narrativas que o antecedem.
Seu enredo é simples: depois de uma festa de Natal na casa das tias, o protagonista, Gabriel Conroy, retorna ao hotel, acompanhado de sua mulher Gretta. Ele está ansioso para saber a razão pela qual ela esteve tão afastada. Gretta confessa que uma das músicas trouxe-lhe à lembrança um jovem de Galway (terra de Nora Barnacle, esposa de Joyce) que “morrera por ela”. O jovem sofria de tuberculose e enfrentou a neve para vê-la. Gabriel a consola, apesar de sentir-se em segundo plano, ao constatar o choro de Gretta pelo morto. Os mortos, ainda que mortos, continuam conosco.
O simbolismo é patente quando se trata da neve. A neve, tida como algo do qual urge se proteger, depois será atrativa, quando olhada pela janela por Gabriel, passando, então, a ser reconfortante. Vale reproduzir o belo final de “Os mortos”, na tradução de Hamilton Trevisan para a Civilização Brasileira: “A neve cobria toda a Irlanda. Caía em todas as partes da sombria planície central, nas montanhas sem árvores, tombando mansa sobre o Bog of Allen e, mais para o oeste, nas ondas escuras do cemitério abandonado”.
Os contos de Joyce suscitam a busca por suas epifanias. Há, inclusive, uma explicação do que são as epifanias, no capítulo XXV de Stephen hero, versão primitiva do Um retrato do artista quando jovem: “Por epifania ele [Stephen Dedalus] entendia uma súbita manifestação espiritual, que pode decorrer de uma conversa corriqueira, de um gesto ou de uma passagem memorável do pensamento. Ele achava que os escritores deviam registrar com todo o cuidado essas epifanias, percebendo-as como momentos mais delicados e evanescentes”.
A epifania em “Os mortos” é experimentada por Gretta, quando ela escuta a música que traz seu passado. O literal e o metafórico, no caso da neve, juntam-se à riqueza lingüística e humana da obra ficcional. “Os mortos” é o melhor conto do século XX?

Ilustração: James Joyce, em osmium, retirada do Flickr.

ADEUS, COLUMBUS

Gerana Damulakis



Para quem gosta da leitura dos livros de Philip Roth, o fato de haver muitos títulos traduzidos é uma sorte. Sim, porque o autor vicia. Mesmo seu livro de estréia Adeus, Columbus, é um show do autor já pronto. A coletânea de narrativas curtas foi responsável pelo surgimento do escritor norte-americano no cenário literário. Em nenhum momento é o livro de um estreante, no sentido mais costumeiro, ou, talvez, no sentido previamente considerado pela maioria. Sim, porque o autor, em total domínio de seu estilo, já traz suas marcas, tanto nos recursos utilizados para a sedução, quanto nos temas que serão explorados vida literária afora. A novela-título persiste como um de seus textos mais memoráveis. Há dois dos contos antológicos: ”A conversão dos judeus” e “Eli, o fanático”. Presentes o humor algo mordaz, com o qual mira a sociedade da época, e a visão realista, com a qual tece seus personagens tão palpáveis. Enfim, a leitura prazerosa e admirativa não é por isto ou por aquilo, mas produto do todo construído por Philip Roth.
Assumo ser viciada na literatura de Philip Roth e assumo ter feito o caminho ao contrário, pois só li Adeus, Columbus este ano. Após o título mais recente, Indignação, a vontade de continuar com o autor me levou a procurar o que todavia não conhecia de uma obra que já é tão íntima.

domingo, 11 de outubro de 2009

A TESSITURA DA SEDA (OUTRA VEZ)



Gerana Damulakis
Senti vontade de reler Seda, e aproveitei para colocar aqui uma resenha do tempo em que eu escrevia a coluna Olho Crítico, no jornal Tribuna da Bahia. (Não deixa de ser um treino para voltar a escrever aqui).

Seda (Rocco, 1997) não é apenas o título de um dos volumes de Alessandro Baricco com tradução no Brasil, é a palavra indicadora para definir um estilo original, suave como o toque do tecido. Antes de adentrar o universo deste italiano de Turim, é importante lembrar a existência, na língua portuguesa BR, de outro título de Baricco que foi o ganhador do Prêmio Viareggio e que teve edição pela Iluminuras, em 1997, Oceano Mar. É quase garantido: quem leu o primeiro seguramente não deixou de acompanhar as demais traduções.
Em 1999, a Rocco, que já havia editado Seda, trouxe o escritor ao Brasil para o lançamento de Mundos de vidro. Pela Rocco, ainda saíram os seguintes volumes: Novecentos — Um monólogo, em 2000, e City, em 2002. Em 2007, a Companhia das Letras preparou a nova edição de Seda e o lançamento de Esta história. Em 2008, a edição da novela Sem sangue.
Em Roma, em um teatro, houve a leitura pública de Seda, assistida por mais de 300 pessoas. Pensa-se logo em um silêncio sepulcral e um deleite ímpar, pois que há tanta melodia no ritmo de Baricco, há uma emoção de tal intensidade levantada pela bela história do livro e há, ainda, o choque plasmado no antagonismo de culturas pelo qual passa o protagonista. Seda conta como uma epidemia, em 1861, atingiu a criação dos fiadores europeus e por isso Hervé Joncour, comerciante de ovos de bichos-da-seda se vê obrigado a procurar a mercadoria no Japão. A acompanhante do fornecedor dos ovos, em certa feita, entrega-lhe um bilhete, mas Hervé não entende os caracteres e tem que contratar uma prostituta para saber o que ali está contido: era uma declaração de amor! Mas Hervé é casado e ama a mulher. Na última viagem ao Japão ele recebe uma carta com sete páginas, carta esta que só será decifrada depois que sua esposa morre.
Às vezes alguém escreve primeiro justamente o que se pensava colocar na resenha. Na revista EntreLivros, Paulo Bentancur é igualmente aficcionado pela obra de Baricco e deixa isso muito evidente, inclusive porque vê na reedição de Seda, dez anos depois, uma segunda chance para o “leitor brasileiro acordar”, pois que Alessandro Baricco “é um escritor que precisamos ler com urgência”. Mais adiante ele aponta a construção “meticulosa, o pudor e a exigência formal e estilística”. E atesta sobre a destreza do escritor: “E desliza, linha a linha, com seu ritmo verbal quase doce não fosse tão visceralmente tocante, melancólico — amargo em seus desfechos”.
Também já não é em primeira mão qualquer testemunho sobre a capacidade de Seda de nos levar, durante a leitura, a um estado de suspensão. Indo um pouco mais longe, este estado é o que se espera sempre de um bom livro. Se a literatura é uma escapatória, então, escapamos para o mundo de Seda, para confirmar que a revelação da leitura pode ser de tal ordem avassaladora, que nos surpreenda em demasia, mais do que possamos suportar.
Recomendo: Oceano Mar, Seda, Mundos de Vidro, Sem Sangue. Não recomendo começar Baricco por Esta História.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

DUETO DE REALIDADE E FICÇÃO

Resenha para O pêndulo de Euclides, romance de Aleilton Fonseca, por GD, na Revista eletrônica Verbo 21:
http://www.verbo21.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=544&Itemid=174

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

PRÊMIO NOBEL DE LITERATURA 2009: HERTA MÜLLER















Foto: Pierre Franck Colombier/AFP
A tradução de O compromisso foi feita por Lya Luft para a Editora Globo (2004).

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

PRÊMIO JABUTI POESIA: ALICE RUIZ COM DOIS EM UM




Foto de Alice Ruiz, por Vilma Slomp, retirada do site oficial da poeta: http://www.aliceruiz.mpbnet.com.br/

sexta-feira, 2 de outubro de 2009