quarta-feira, 13 de agosto de 2008

PENSA, WHITMAN

Nilson Galvão







Pensa, Whitman, a poesia triunfou.
O homem só pode viver do que sonha,
e de sonhos é composta toda a trama
que há em volta. Toda maravilha
do mundo.


Calcula, Whitman. Toda a extensão do teu amor
não abarca a extensão do que veio e virá
para além dos teus versos. Mas
o amor, Whitman, foi inventado pela poesia,
e a ela deve tudo. A poesia
triunfou.



Este poema está nos blogs Blag e Madame K, ambos com entrada nos meus "Favoritos".

A CONTRAMARCHA

Aramis Ribeiro Costa


para o poeta Cajazeira Ramos


É preciso deixar os deuses quietos
Que as caravanas passam e eles ficam
E os cães ladrando insanos, irrequietos
São meros animais — com tudo implicam.

É preciso deixar os deuses mansos
Que dos mortais há muito se fartaram
Deixar que esqueçam seus eternos ranços
E olvidem sobretudo que falharam.

É preciso que os deuses, no silêncio
Não impeçam as lentas caminhadas
Que vão do sonho louco à ponte pênsil
E renascem na luz de uma alvorada

A Lua se sumindo na neblina
O Sol iluminando o pó da estrada.




Este poema dialoga com o poema "A Marcha" de Luís Antonio Cajazeira Ramos.
Aramis Ribeiro Costa tem 17 títulos publicados, é ficcionista e poeta, autor de Espelho Partido (FUNCEB, 1996).

A MARCHA

Luís Antonio Cajazeira Ramos



É sempre madrugada, os deuses dormem,
o céu é longe, a caminhada insana,
e vai, antes que os vórtices se formem
no pó da estrada, a lenta caravana.

Nem o ganir do cão, rasgando as fardas
deixadas para trás, quebra o silêncio
dos deuses — não se envolvem nas jornadas.
...E o dia é logo ali, na ponte pênsil.


Só a neblina esconde leve a aurora
e vê (se é dado ver ao vento frio
que sabe quanto é morna qualquer hora)
a razão do vacilo e do arrepio


contra o salto no abismo: os desenganos.
Abandonem seus deuses, homens! Vamos!




Luís Antonio Cajazeira Ramos assina a antologia de seus poemas intitulada Mais que sempre (7Letras, 2007).

A CASA



Gláucia Lemos




Eu sou a tua casa, sou teu pouso.
Deita na rede que te dá meu colo.

Eu te amo como o rio que prossegue
no leito que não muda nem regressa.
Como a união das asas da gaivota
na sincronia firme do seu vôo.
Eu te quero como a dor que me persegue
pelo pão que me alimenta em teu abraço.

Vem ter comigo quando a noite é treva!
Pois é na nossa chama que se eleva,
que o universo se ilumina e aquece.



Gláucia Lemos é autora de Procissão e outros Contos (FUNCEB, 1996) e mais 20 títulos.

TÃO IMENSO


Kátia Borges





Tão pouco, este meu suado salário,
pelo qual agradeço, cada centavo,
cada moeda de dez, cada níquel
que sobra no bolso.


Tão pouco, este meu teto, abençoado,
sobre o qual se sustentam outros sete,
mesmo que ainda deva uns tostões à CEF,
e a vizinha de cima faça barulho.


Tão pouca, esta minha poesia,
pela qual agradeço, cada verbo,
cada palavra rimada, ritmada,
cada verso que escapa.


Tão pouca, esta minha vida,
pela qual agradeço, cada órgão
que funciona a contento. Cada um dos meus olhos,
caçando beleza, achando mistérios.

Tão pouco, este meu talento,
pelo qual agradeço, estas mãos,
que aprenderam cedo a ganhar o pão.
E esta língua, que não sabe de línguas, mas fala de amor.


E este amor, meu amor, este amor.
Tão pouco, este amor,
pelo qual agradeço.
E tão imenso.



Este poema de Kátia Borges está nos blogs Madame K e Blag. Kátia Borges é autora do volume de poemas De volta à caixa de abelhas (FUNCEB, 2001).