quarta-feira, 6 de outubro de 2010

MAÇÃ


Gerana Damulakis

Manuel Bandeira (1886-1968) foi o poeta que me despertou para a apreciação da poesia. Li e fiquei tomada, assim como quem descobre o que faltava e diz É isso, é isso que me encanta. Abaixo, segue um poema pleno de ironia, sarcasmo e humor, recursos poéticos que estão em sua poesia com total consciência de como e do quanto podem ser usados. Completo Bandeira, um poeta completo.


MAÇÃ
-------------Manuel Bandeira

Por um lado te vejo como um seio murcho
pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende ainda o cordão
-----------------------------------------------------[placentário
És vermelha como o amor divino

Dentro de ti em pequenas pevides
Palpita a vida prodigiosa
Infinitamente

E quedas tão simples
Ao lado de um talher
Num quarto pobre de hotel.

in Lira dos Cinquent'Anos

Ilustração: Natureza morta com maçãs, xícara e copo, de Paul Cezanne (1839-1906).