quinta-feira, 30 de setembro de 2010

SENSAÇÃO DE LEITURA

Gerana Damulakis

Acabei de ler o volume de contos do norte-americano Charles D'Ambrosio, O museu do peixe morto (Grua, 2010), e fiquei fascinada com as narrativas, com todas elas. A atmosfera que o escritor cria nas suas histórias impregna o leitor, a ponto de ser difícil separar a dita sensação do mundo real. Mas, não se pense que são contos à la Tchekhov (pouco enredo, pouca peripécia, muito conflito existencial), pois que a atmosfera vem de outra forma - e isso é o que surpreende: há um outro modo de envolver o leitor em uma sensação - talvez através do personagem e, exclusivamente, através do personagem, estando, tal personagem, a vivenciar uma peripécia; portanto, com muito enredo. Sinto que ainda preciso pensar melhor sobre o assunto.

Separei um trecho que tem afinidade comigo, sem, no entanto, ser muito significativo do que coloquei acima.

Gosto de ler, de ficar sentado quieto na mesma cadeira, com o abajur num certo ângulo, sozinho, e de vez em quando, se tiver sorte, encontro uma bela frase ou sentimento, levanto os olhos do meu livro, sinto a harmonia e a justeza daquela ideia, e sei que já está tudo lá. Isso para mim é a vida, esses momentos de descoberta solitária. Não me contentaria com menos, mas também não espero muito mais que isso.
Do conto"Bênção", de Charles D'Ambrosio

Ilustração: Uma leitura silenciosa, de Kay Blacklock (1872-1924).