terça-feira, 21 de abril de 2009

DA INDIGNIDADE DO POUCO


Gláucia Lemos


O que escolhes ser, que o sejas muito. Não te bastes com migalha da tua possibilidade. Não te envergonhes da tua ambição de ser e de sentir.
Se és bom, não te satisfaça apenas ser bom, sê generoso. Sê bom também contigo. Perdoa teus próprios erros e vacilações com igual grandeza tal aquela com a qual perdoas os erros dos teus semelhantes. Haja bondade na atmosfera de todo o teu percurso, despreocupado de retribuição, porque escolheste ser bom, muito bom, sem motivo, e hás de ser bom, tão bom quanto os melhores, para que não te humilhes à mediocridade. Somente porque é bom ser bom sem troco. Mas não aceites a mediocridade na tua escolha. Vê que pior do que não ser, é ser medíocre, ser perdido na insignificância da turba. Sê muito mais, em tudo aquilo que assumires.
Se és alegre, sê mais que alegre, sê contente, sê irradiante, sê feliz. Explora todo o teu potencial de alegria e gozo, engalana e badala sinos à tua festa, já que, quando fores triste, serás muito triste, irás a toda a profundidade da tua tristeza, escolheste a tristeza, deverás vivê-la total e plenamente, que não sobre espaço em ti que se negue a teu desalento. Nada fiques devendo à tua dor. Tudo o que fores, sê sempre muito. Não vivas nada pela metade.
Quando amares, ama inteiramente, ama com toda a alma e com as tuas entranhas. Supera todos os limites postos por Deus e pela humanidade para os teus sentimentos. Ama sem perguntas e sem cuidados, doa-te ao estado de amor e vive-o com toda a tua respiração. Com paixão e desespero, com ímpetos ridículos de subir ao Morro do Pai Inácio e bradar às galáxias que estás apaixonado, e seres capaz de beber sal e comeres erva daninha para provar o ter amor. Não ama simplesmente, é pouco, ama muito! Pois quando o amor deixar de ser, ou de estar, hás de chorar e substitui-lo em ti por uma saudade que precisarás sentir maiúscula. Entrega-te para que a saudade seja muita. Que te leve o sono, que te feche a boca, que te consuma as horas e as carnes e te faça escrever infinidade de versos horríveis e molhados. Chora todas as lágrimas que tiveres até sentires o cansaço da tua própria saudade e dores no osso frontal, mas chora muito, exageradamente, para não te deteres na metade da saudade que escolheste sentir. Sê muito, assim deves ser.
Quando precisares esquecer alguém, um amigo, um amor, um hipócrita, um traidor, faze-o como quem passa o aspirador no cantinho mais escondido, naquele cantinho atrás da estante mais pesada, onde as formigas costumam se esconder das vassouradas. Deixa-o limpo. Esquece muito e sempre. Esquece todas as borboletas e também esquece todos os escorpiões que recebeste. Não permitas fragmentos de lembranças que te façam sentir medíocre na tua assunção ao esquecimento. Esquece nomes, endereços, números, palavras, sons de vozes e melodias, gestos e gentilezas e mágoas, tudo. Nunca esqueças um pouquinho, ou lembres de vez em quando, é pouco, esquece muito e profundamente.
E até se preferires ser louco, sê completo, não te conformes com ser mero idiota. Os idiotas são enfadonhos. Escolheste a loucura, sê logo o rei dos loucos, não um simulacro. Nada de ser mais um Napoleão de manicômio, mais um faraó de carnaval. Sê logo Nero. Toca fogo no universo e sê aquele que escolheu as conseqüências da revolução dos tempos, e do final da sua própria existência, o resultado da tua escolha. Mas sê muito em tudo. No ser e no sentir. Pouco é indigno de ti. Pouco é um pedregulho que se atira ao rio, vai até o fundo e lá fica. Nem ao menos acompanha a viagem das águas para onde forem. Vai criar limo verde e lodo negro, e ter sempre a insignificância dos que se finam insignificantes.
Mas se escolhes ser santo, não sejas menos. Sê santo honestamente, impermeável à profanação e à hipocrisia. Muito santo. De jejuns e flagelações. Santo de castidade e morte em cruz. Sem mais-ou-menos. Completo e inteiro. Santo de penitência, vigília e adoração, de sono em catre e beijo em pestilentos, portanto, muito santo. Santo de humildade e de coragem de permanecer muito santo diante dos homens de punhais nas mãos e nas línguas. Muito santo, ainda quando tiveres no teu peito encravada uma bala perdida. Sê santo além dos comuns, acima dos medíocres.
Se possível, escolhe bem o que ser e o que sentir, escolhe muito, e sê, e sente, intensamente, nunca te confundas com o meio-termo. Cuida de escolher muito para que tua escolha não se volte contra ti. Mas não fiques devendo nada a ti mesmo, nem a teu coração, nem à tua vida. Cumpre tudo o que escolheste, inteiro e intensamente, e sem resquícios a te arrastar atrás.
Só os que se fazem muito, e riem muito e sofrem muito, vivem, e estarão prontos para o fim do seu próprio tempo sem a indignidade de se terem deixado ser pouco e sentir porções minguadas do que lhes cabia. Liberados das suas próprias cobranças. Quites consigo mesmos.



Gláucia Lemos é autora de 33 títulos. Seu livro de crônicas nascido aqui, no Leitora, começa a se tornar realidade.

Foto: Morro do Pai Inácio (Chapada Diamantina, Bahia), por Caetano Lacerda, retirada do Flickr.

21 DE ABRIL DE 1960: BRASIL, A CAPITAL É BRASÍLIA


Gerana Damulakis

Há várias belezas que podem representar Brasília, a capital da República Federativa do Brasil. O plano urbanístico, Plano Piloto, foi elaborado por Lúcio Costa, e hoje é Patrimônio Mundial da Unesco. O arquiteto Oscar Niemeyer projetou os principais prédios públicos da cidade. Escolhi, como referências, a Catedral de Brasília (as colunas lembram mãos postas em prece, lindo!) e o Palácio da Alvorada (ambas as fotos acima). Uma cidade planejada, com o traçado de um avião e endereços esquisitos, tais como Asa Norte e Asa Sul; tudo bem interessante.
Inaugurada em 21 de abril de 1960 pelo presidente Juscelino Kubitschek, JK, Brasília é a terceira capital do Brasil, após Salvador e Rio de Janeiro.
Quando eu era pequena e aprendi que um tal Marquês de Pombal mudou a capital do Brasil, de Salvador para o Rio de Janeiro, lembro que fiquei com muita raiva do primeiro-ministro português. E levei este "bairrismo" vida afora. Afinal, quando a Corte chegou em 1808, fez da então capital, o Rio de Janeiro, a capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Tivesse Salvador permanecido na sua condição, pensava eu, e teríamos as belezas e riquezas situadas no Rio, tais como: a Biblioteca Nacional, o Teatro Municipal, o Jardim Botânico...
Tudo por culpa do Marquês de Pombal!!! Quem souber a razão da briga entre o Marquês e o governador, a qual motivou a mudança da sede da administração colonial do Brasil, da Cidade do São Salvador da Bahia de Todos os Santos para o Rio, escreva um comentário.
Mas, vai longe o tempo de Salvador, capital do Brasil, e do Rio de Janeiro, capital do Brasil.
É aniversário da capital do Brasil. Parabéns para Brasília. Parabéns para os candangos.