sábado, 13 de setembro de 2008

METADES



Gláucia Lemos


Há os que passam
e passam como os trens
que não deixam senão o eco fugidio
do seu grito sem memória.
Além, no entroncamento das estradas
nada são.
São menos que ninguém.

Há os que, passada após passada
com que marcam
a saga passageira,
deixam sinais,
deixam mãos, deixam palavras.
E levam de quem fica o menor toque
e o recado do encontro.

Levou de mim, assim,
em cada movimento
do corpo, das mãos, dos olhos,
a minha pele, o meu tato,
e tudo o que os meus olhos puderam ver,
levou de mim, consigo.

E ficou
nos meus ouvidos, em todo o som
que puderem guardar,
de todo som em que o mundo se esparrama,
ficou a sua voz .
E assim vamos, metades repartidas.


Gláucia Lemos, ficcionista premiada, está organizando um livro de poemas. Foto "Metades", de Nika Fadul.

UM POEMA DE LAU SIQUEIRA


razão
nenhuma


o que escrevo
é apenas parte
do que sinto

a outra parte
finjo que minto
e acredito


Lau Siqueira tem 4 livros de poemas: O Comício das Veias (Ed. Idéia-PB, 1993), O Guardador de Sorrisos (Ed. Trema-PB, 1998), Sem Meias Palavras (Ed. Idéia-PB, 2002) e Texto Sentido (Bagaço-PE, 2007).