segunda-feira, 2 de novembro de 2009

ELIAS CANETTI: SOBRE OS ESCRITORES

Gerana Damulakis

Elias Canetti é o autor do romance Auto-de-fé, incluído na minha lista dos 100 romances que considero mais grandiosos. Não fica por aí, no entanto, a minha admiração por Canetti: os volumes A língua absolvida, Uma luz em meu ouvido e O jogo dos olhos merecem releitura e ainda os contos de Vozes de Marrakech e O todo-ouvidos - Cinquenta caracteres, os quais trataram de estabelecer certa intimidade com o autor de O outro processo- As cartas de Kafka a Felice quando, então, definitivamente eu coloquei Canetti em um lugar muito precioso nas minhas lembranças de leitura. Apenas Massa e poder (ensaio filosófico-etnológico), um livro importante e que chamou a atenção para Canetti, não encontrou em mim a capacidade necessária para o entendimento, pois foge da minha seara, sou assumidamente limitada.

Nobel de 1981, Canetti morreu em 1994 e deixou inéditos com ordem para publicação apenas 30 anos depois da sua ida. Todavia, estão aparecendo os inéditos de Canetti. Foi com grande expectativa que comprei meu exemplar de Sobre os escritores (José Olympio Editora, tradução de Kristina Michahelles) com apresentação do admirável Ivo Barroso. A erudição de Canetti é alicerce seguro para escrever sobre escritores. Contudo, há momentos em que certo desdém está misturado com admiração; de saída, isto também foi percebido por Ivo Barroso, o qual vai além, associando o desdém, não com a inveja, mas com a identificação e a autocrítica de Canetti. Seja lá qual for a explicação, o certo é que, em dadas passagens críticas, pensei que os textos de Sobre os escritores poderiam continuar inéditos. O melhor Canetti já foi publicado.