terça-feira, 28 de julho de 2009

CHUVA E NÃO

Gerana Damulakis


Reencontrei o poeta Sidney Wanderley nos comentários às postagens do blog de Janaína Amado: http://acreditandonotruque.blogspot.com/

Nas "orelhas" do volume de poemas Desde Sempre, de Sidney Wanderley, exclamei a surpresa por encontrar um poeta como ele. Era o ano 2000. Ressaltei o poema "Contra Berkeley" para exemplificar a característica da poesia de Sidney: aquela coisa do sentir-se vários, sentir-se tantos. Na penúltima estrofe, os versos dizem: "Custa-me tanto: o não ser tudo,/ o não ser todos/ e, entretanto, saber-me tantos,/ e mais que tudo, saber-me um/ - o singular criador dum mundo/ que gira e fulge alheio a mim".

Recebo agora o livro Chuva e Não, de 2009, e ficou evidente a capacidade do poeta para sintonizar, no que contempla, o que confere a essas coisas a existência e o sopro essencial.

LIÇÃO DA ÁGUA
Sidney Wanderley

Evaporar-se,
condensar-se,
precipitar-se:

não só a água,
o amor também,
só que em ordem
um tanto diversa:

precipitar-se,
condensar-se,
evaporar-se.


Tenho vontade de colocar vários exemplos: "Gavetas" ("-Pois as gavetas que por certo eu perseguia,/ repletas de memórias, e de poesia,/ era em mim que se fechavam e se abriam."), "O Borges que escolhi", "Um beijo"...; o livro é... poesia!

Obrigada, Sidney.