sexta-feira, 23 de outubro de 2009

COMO UMA DISPUTA QUALQUER

Gerana Damulakis

A minha cabeceira tem qualquer coisa de uma corrida,um concurso, uma disputa. Faço uma seleção de tempos em tempos, mas logo volta a pilha de livros. Os que perdem o lugar na cabeceira, todavia não foram descartados, apenas vão para a mesa da minha biblioteca, onde outra pilha vai se formando. Geralmente ocorre a volta para a cabeceira. Tenho um péssimo hábito de ler muitos livros ao mesmo tempo, só que invariavelmente um deles toma a dianteira e faz com que eu não abra os demais até terminá-lo. Quando algum livro de José Saramago é retirado da sacola e ganha seu lugar na cabeceira, nenhuma chance haverá para os que ali já estiverem. Apenas O Evangelho Segundo Jesus Cristo conseguiu ficar uma semana sendo lido; os outros – todos os outros títulos de JS – foram consumidos com voracidade. Resultado: até meus sonhos acontecem com a linguagem de Saramago, passo a pensar com o estilo dele, é uma empatia incrível. Com Caim, estou experimentando o mesmo que se deu com O Evangelho. Os temas relacionados com Deus, Jesus Cristo, me afastam. Penso que seja porque, diferentemente de Saramago, eu tenho muita fé católica (sou bisneta de padre - ordoxo grego -, a fé está em mim por herança). Leio, no entanto. Leio porque não perco a oportunidade de saborear o estilo de Saramago.
É isto, estou lendo Caim. Vagarosamente. Na corrida da minha cabeceira, Herta Müller – com O Compromisso - está ganhando de Saramago, de Junichiro Tanizaki ( autor fascinante, já li vários títulos, mas menos envolvente neste A Vida Secreta do Senhor Musashi), de Marguerite Duras (sempre encantadora, porém Cadernos da Guerra e Outros Textos, embora conservem o vigor narrativo dos romances, não deixam de ser documentos de arquivo; menos sedutores, por consequência).
Vou começar agora A Autobiografia de Alice B. Toklas, por G. Stein, na belíssima edição da Cosac Naify, com tradução de José Rubens Siqueira e posfácio de Silviano Santiago. Vale registrar que a L&PM já editava este título desde os anos 80.