quarta-feira, 11 de junho de 2008

SONÂMBULA



Luís Antonio Cajazeira Ramos


A Gerana Damulakis


A vida passava, o amor não chegava.
Aguardava (a esperança a guardava)
o que não acontecia, quem não vinha.

Desenhava a felicidade na fumaça das horas,
debruçada sobre o parapeito dos sonhos,
vendo a todos transeuntes do deserto,
sob a sacada das emoções perdidas.

Improvável Penélope, tecia ilusões de partida
para confins imaginários sob o lençol diáfano,
manchado do sangue virgem dos seus desejos,
satisfeitos na solidão de núpcias de nuvem.

A vida passava, a dor não chegava
ao pesar da vigília, a que o engano negava
acordar os galos e deitar os lampiões...
E beladormecia na eternidade em que se perdera.

E não se sabe que bruxa, que fada,
que fado a vida reservara a seu destino
de Cinderela das vertigens.




Este poema de Cajazeira está em Mais que sempre (Editora 7Letras, 2007), acho que fui a primeira a opinar sobre ele, daí a dedicatória. Na foto, Cajazeira e eu em algum lançamento de livro, ambos estávamos olhando para o autor enquanto este autofotografava.