domingo, 14 de junho de 2009

ANA CRISTINA CESAR, PARA SEMPRE

Gerana Damulakis


Ana Cristina Cesar talvez seja a poeta brasileira com mais seguidores (ultrapassando, inclusive, Cecília). Creio que, neste tocante, ela está para a poesia, assim como Clarice Lispector está para a prosa. Ambas influenciam muito quem começa a escrever, até mesmo quem já está escrevendo, já tem livros publicados. Nada contra a influência, os escritores carregam a tradição literária, ao mesmo tempo em que a continuidade pede certa transformação. Aí a arte acontece.
Tanto T. S. Eliot, quanto Jorge Luis Borges e Harold Bloom trataram do tema da influência. É uma delícia mergulhar nesta área, quando nos certificamos de que tudo já foi escrito. Mas - ora, ora - abrimos um livro e outra constatação vem gritar mais forte e diz sobre o quanto a literatura é inesgotável.
Ana Cristina Cesar teve que existir e criou uma obra para ser lida, ser copiada, ser transformada. Abaixo, um exemplo da sua poesia.

Acreditei que se amasse de novo
esqueceria outros
pelo menos três ou quatro rostos que amei
Num delírio de arquivística
organizei a memória em alfabetos
como quem conta carneiros e amansa
no entanto flanco aberto não esqueço
e amo em ti os outros rostos


(em Contagem regressiva - Inéditos e Dispersos)