domingo, 21 de junho de 2009

O CONTO SERÁ SEMPRE O CONTO

Gerana Damulakis

A dinâmica da vida na era da tecnologia, com avanços dia a dia, já quer contaminar os conceitos na literatura. Talvez os conceitos precisem dessa contaminação. Apenas os conceitos, apenas as novas definições, apenas momentos, tudo apenas passageiro.

O conto ganha novas formas de se dizer que é conto. Dá até saudade daquela frase já tão batida de que conto é tudo aquilo que o autor chamar de conto. Atualmente ficou pior, a frase de outrora é uma frase inocente. Ficou pior, mas é passageiro. Passível de ser aceito mas, sabemos, não perdurará. Tudo na base do "agora é assim, agora já não é mais daquele jeito" é, na verdade, um instrumento facilitador para os menos hábeis.

O conto será sempre o conto: o grande conto, o texto que pega o leitor de jeito, não importa se a epifania ou a peripécia que surpreende. Como estou aqui escrevendo sobre o conto que será sempre O Conto, segue o final de um dos grandes contos do escritor Hélio Pólvora.

"Para onde vou? Perdi a minha última certeza. Sei apenas que é preciso remar. Devo estar no meio do rio, o medo vem de novo e me sufoca o peito. Ignoro qual a margem certa, não sei mais como voltar nem aonde ir. Estou remando para a noite definitiva ou para o lívido alvorecer?"

"Do Outro Lado do Rio" in Contos da Noite Fechada (Editus, 2004).