domingo, 17 de outubro de 2010

SILÊNCIOS




Gerana Damulakis

Silêncios (Via Litterarum, 2010), de Gustavo Felicíssimo, é o belo volume que traz as formas poéticas: haikai, senryu, tanka, haibun, devidamente explicadas no começo de cada capítulo. Mas, há também, encerrando o volume, o ensaio “Flores de Cerejeira – Aspectos do Haikai no Brasil”, que adianta um pouco o futuro livro Dendê no Haikai, sobre o haikai na Bahia.

Particularmente, encantou-me o haibun de Gustavo para sua filhinha Flora. O haibun, como Felicíssimo explica, “contém um texto em prosa, seguido por um ou mais haikai. Escreve-se a prosa de forma simples e direta, compacta. O objetivo do haikai que acompanha a prosa é dar uma nova dimensão, provocar uma mudança de cena, tal como as duas partes de uma tanka. Um haibun também inclui um título e deve ser escrito no tempo presente”.

De Gustavo Felicíssimo:

HAIBUN PARA FLORA

A flor desprendida do galho é uma tentativa de voo, e cada voo é sempre maior que a sua distância. Há no ar, levado pelo vento, um jardim de flores múltiplas aprendendo a voar.

borboletas são flores
que afinal foram voar —
voa, minha flor!

-----------------------------------------------uma flor pousou
------------------------------------na minha vida de poeta —
-----------------------------------------------eu sorri para ela.


Ilustração: Hibiscos e pardal, de Katsushika Hokusai (1760-1849).

9 comentários:

Sueli Maia (Mai) disse...

Admiro quem escreve haikais, porque são belos é porque grande a minha dificuldade em criá-los.

E esta obra parece ser bem didática. O haibun também me encantou.

beijos

Eleonora Marino Duarte disse...

gerana,

são flores delicadas...

que bonito!


um beijo.

João Renato disse...

Gerana,
Acho que haikais e senryus são a forma poética mais fácil de fazer mal feita.
Não dá para consertar, precisa de uma pontaria exata, o mínimo erro acaba com ele.
Gosta de alguns que a Alice Ruiz fez, p.ex:

mosquito morto
sobre poemas
asas e penas

Abraço,
JR.

Anônimo disse...

O mais difícil no haikai é evitar as figuras de linguagem, tão presentes na poesia ocidental.

Sérgio Kawakami disse...

belíssimo! sim, é fácil confundir o haicai com um terceto qualquer, mas esse não é o caso de Felicíssimo, haicaísta, crítico e estudioso respeitado do assunto.

Andrea de Godoy Neto disse...

que lindo! gostei muito do haibun, vou estudar sobre esta forma.

beijos

Fernando Campanella disse...

Lindo demais, adoro a poesia japonesa, chinesa... Coincidência, comprei um livro há umas duas semanas, 'Saigyo - Poemas da Cabana Montanhesa' (desculpe, não consegui encontrar no teclado o acento para o 'o'). E, sabe, estou pensando em fazer uma postagem sobre ele em meu blog assim que terminar a leitura da introdução do livro, que trata da história e da evolução da arte no Japão.

Envio-te um poema do livro:

Por que meu coração
Ainda abriga
Esta paixão por flores de cerejeira-
Eu que pensava
Tivesse tudo isso deixado para trás.
(Saigyo)

E aproveito pra te enviar um poemeto que fiz, com o espírito da alma japonesa bem junto de mim:

Inútil toda palavra
à tua súbita aparição,
cerejeira em flor.
(Fernando Campanella)

Grande abraço, minha amiga.

Unknown disse...

Obrigado pela dica. Vou procurar, ler e depois comentar. Beijos.

Gisele Freire disse...

Ge
Tão delicado, tão bonito!
Adoro tuas escolhas, são sempre tão boas!
Obrigada
bejin
Gi