sábado, 26 de junho de 2010

AS JOIAS DE MAUPASSANT II


Gerana Damulakis

No outro conto de Maupassant, "As Joias", que está no volume Ao Luar, há uma inversão em relação ao conto da postagem anterior: se em "O Colar" uma imitação foi tomada por um colar de diamantes, agora as joias tidas como falsas são realmente verdadeiras. A arte do contista em questão está, para Somerset Maugham (seguimos com ele e sua análise), em não copiar a vida, mas dispor da vida com o intuito de "mais nos interessar, excitar e surpreender"; portanto, não procuremos indagar sobre a plausibilidade das histórias, vamos ficar com seus efeitos . "As Joias" é outra narrativa engenhosa, embora simples em suas linhas gerais.

Resumo de "As Joias": o Sr. Lantin ficou viuvo, um viuvo inconsolável. Empregado do Ministérior do Interior, perdeu sua mulher subitamente, graças a um edema pulmonar. O casal era feliz. A mulher teria sido perfeita se não tivesse a mania de colecionar imitações de joias; quando reprovada pelo marido, ela dizia ser esta sua única fraqueza: "Custam tão pouco!", exclamava. Com a morte da esposa, o Sr. Lantin esvaziou as gavetas cheias de anéis, broches e colares e levou um dos colares ao joalheiro. Ficou sabendo, então, que o colar valia 18 mil francos. O joalheiro assegurou, ainda, que o vendera para Madame Lantin por 20 mil. Chocado, o Sr. Lantin voltou ao joalheiro com outras joias e constatou que todas eram autênticas: os anéis valiam 16 mil, um conjunto de pedras preciosas valia 14 mil, uma corrente de ouro com um solitário valia 40 mil e, no total, as joias renderam 143 mil, verdadeira fortuna. Abalado, certo da desonestidade da esposa, ele voltou a se erguer ao lembrar que se tornou um homem rico. Pediu demissão do Ministério, disse que ganhou uma herança e jantou fartamente no Café Des Anglais. Meio ano depois, casou novamente. Ao contrário da doçura da primeira esposa, a nova mulher, apesar de ser corretíssima, era geniosa, explodia por tudo... a vida do casal foi um inferno!

Ilustração: Alfred Sisley e sua esposa, de Renoir.

14 comentários:

silvia zappia disse...

situaciones inversas en los dos cuentos, siguiendo la opinión de Maugham, pero el efecto que producen en el lector,pienso, es el mismo.
Los dos cuentos semejan espejos.


besos,Gerana*

Zélia Guardiano disse...

Outra belíssima indicação, Gerana! E ainda com um brinde: Café des Anglais lembrou-me A Festa de Babette...
Grande abraço

Unknown disse...

a vida nunca se repete - quem disse isso - a não ser como farsa ou tragédia,

abraço

- Luli Facciolla - disse...

Agora pronto! Lá vou pra livraria mais uma vez...
Obrigada pela dica!

Beijo

Anônimo disse...

Somerset Maugham acabou comigo, mas tudo bem.

Ana Tapadas disse...

Muito interessante minha amiga. O conto, enquanto narrativa breve, contém sempre essa possibilidade especular.
Beijinho

glaucia lemos disse...

Este conto eu nao me lembrava mais. Para que ele foi casar-se outra vez? Minha mãe que enviuvou cedo de um casamento -dizia ela- perfeito,com meu pai, não quis casar-se outra vez porque achava que por melhor que fosse o segundo ela sempre estaria a compará-lo com o primeiro e haveria de ser em desvantagem para o segundo. Sábia decisão, no caso dela.

João Renato disse...

Oi, Gerana,
O que eu acho interessante na literatura feita até o século XIX é que muitas vezes existe uma certa pregação moral, uma "moral da história".
Acho que na literatura moderna a moral fica mais nas entrelinhas.
Abraço,
JR.

Lisarda disse...

As segundas partes...já se sabe...

Juan Moravagine Carneiro disse...

Sempre tive dificuldade em adentrar em certos contos...

E este é um deles...

abraço

glaucia lemos disse...

Olhe João Renato,permita-me entrar na sua convera com GErana para dizer que mesmo na literatura infantil, há muita gente que ainda procura livros que contenham a moral da história. O autor então tem que explicar a essas pessoas que uma história tem finalildade literária, é leitura de lazer e cultura, não tem finalidade pedagógica. Com referência a livros para adultos, deixo a observação a cargo de Gerana que a ela foi a pergunta dirigida.

Anônimo disse...

Guy de Maupassant fez uma obra para ser lida por quem usufrui da literatura como fonte de prazer, o que é, na realidade, a "função" da arte.
João Prado

Unknown disse...

A sua escolha é muito apropriada. Ele é um contista genial. Creio que é um dos maiores mestres do Conto. Existe uma coletânea editada pela Companhia das Letras em que encontraremos os inesquecíveis.
Ele adora os paradoxos e nos encanta com eles. Sempre uma supresa no final, sempre. Bela escolha, de alta qualidade, aliás como sempre. Beijos.

Anônimo disse...

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