quarta-feira, 3 de março de 2010

NORTE-AMERICANOS GENIAIS: HOPPER E FROST

Gerana Damulakis

Tenho paixões. Duas paixões norte-americanas são: o pintor Edward Hopper, cujo exemplo acima, Noctívagos, tenho uma reprodução, ou melhor, tenho duas reproduções pela casa, e o Poet Laureate Robert Frost (1875-1963). Há um poema de Frost, cuja beleza é impar, que nada se perde na tradução de Jorge Wanderley, inclusive a música dos dois últimos versos - na verdade, um mesmo verso repetido por necessidade do poeta; de saída, uma necessidade que sinto, como leitora.

PERTO DO BOSQUE, NUMA NOITE DE NEVE
-------------------Robert Frost

O dono dos bosques conheço, creio.
No entanto, mora na cidade, alheio,
E não verá que me detenho aqui
Olhando a neve que de noite veio.

A meu cavalo parece um engano
Que eu pare nestes ermos, sem um plano,
Entre bosques e lagos congelados
No entardecer mais sombrio do ano.

Agita a rédea, sinto seu chamado
Que me pergunta se está algo errado.
Além dele, ouço apenas a passagem
Da brisa leve e os flocos repousados.

O bosque escuro e fundo é bom de ver,
Mas eu tenho promessas a manter,
E há que andar muito, antes de adormecer,
E há que andar muito, antes de adormecer.

Ilustração: Edward Hopper (1882-1967), Nighthawks, 1942. Art Institute of Chicago

24 comentários:

Caio Rudá de Oliveira disse...

Hopper é incrível! Adoro suas pinturas. Uma pena que o máximo que chego perto delas é um livro sobre sua obra que adquiri recentemente inclusive.

Um dia também terei reproduções ou quem sabe originais seus, por que não? :D

Kátia Borges disse...

Lindo, Gerana. De quem é a tradução? Beijos

Anônimo disse...

Venho te visitar e te ler todo dia, mesmo quando não postas, inda que nem sempre comente. Nunca me arrependi, sempre valeu a vinda. Obrigado por alimentar minha sede de cultura e de admiração pela beleza das palavras e do pensamento humano.

Unknown disse...

Belo dueto. O poema é bem musical, as palavras dançam ao sabor do vento e do tempo. Abraço.

p.s. a grafia de bosque saiu truncada

BAR DO BARDO disse...

Exponenciais.

João Renato disse...

Oi, Gerana,
Também gosto muito de Hopper.
Nele,a solidão é tão marcante que, além da humana, ele também pinta a solidão das coisas; uma casa, um farol, um vagão de trem, um posto de gasolina, uma ponte ...
Acho que ele é um pintor marcadamente norte-americano, que manteve sua singularidade à margem das escolas da sua época.
Tem um quadro dele que gosto tanto que o recolhi num blog que tenho, porque raramente é encontrado na rede:
Mulher na Penteadeira".
http://leiovejoeescuto.blogspot.com/search/label/Hopper

Abraço,
JR

Jefferson Bessa disse...

Que belo o poema de Frost! Só tenho a agradecer a leitura.

O poema no eterno instante de andar a olhar o mundo/a poesia. Lindo!

Grande abraço.

Jefferson.

Sueli Maia (Mai) disse...

Eu estive escrevendo algo assim, sobre bosques, invernos e o sombrio.
Aqui em teu blog, Gerana, leio o inusitado e me encanto.

abraços de admiração

Ana Tapadas disse...

Excelentes escolhas de uma leitora crítica e muito cosmopolita! Gosto da tua abertura mental.
Beijinhooo

Daiane Oliveira disse...

Inquietantes...
Gerana, poema e pintura.

Gerana Damulakis disse...

Caio: as reproduções que tenho foram compradas em livraria, onde estão os livros de arte sempre há várias vendendo, basta colocar molduras.

Kátia: o tradutor foi Jorge Wanderley, está no corpo do texto.

Assis: mais uma vez, obrigada pelo olhar atento.

Pena disse...

É linda e é Lindo o que escreve.
Sabe, todos os dias me sento na mesma cadeira. Todos os dias olho os mesmos livros. Todos os dias penso o que faço aqui?
Só sei que olho. Sinto. Penso. Sou.


Choro. Rio. Emociono-me. Entrego a minha Alma sonhadora. Irreal ou Real. Sei lá?
Poderia fazer outras coisas. Poderia deixar de me sentar, de me comover, de me sentir e de me ser.
Todos os dias toco, aprazivelmente, as mesmas pessoas. Aprendo com elas. Revejo-me nelas. Entendo-as ou penso que as entendo. Se calhar não as entendo? Nada mesmo. “Visto” uma “capa de sentimento” de fazer por entender o Mundo que me envolve e delícia.
Beijinhos doces.
Maravilhado por si.
Com respeito.


pena


Espero que me entenda, sim?

claudio rodrigues disse...

Gerana, que poema bacana! As sonoridades, sugestões dos sentidos: o frio, a travessia, o cavalo que insiste em parar no bosque. Sim, Há que andar muito, antes que venha o sono. Obrigado por nos presentear com leituras como essa, sempre regadas com suas interpretações. Amo!

Fernando Campanella disse...

Frost é uma identidade em mim. Esse poema, belíssimo, é como guia, uma estrela do norte para mim. Abraços.

nydia bonetti disse...

Gosto demais de Robert Frost, Gerana, aliás, amo a poesia americana. Hopper também, magnífico. Geniais, sem dúvida.

beijoos

Nilson disse...

Grande dupla! Hopper é um dos meus prediletos. E o poema de Frost é uma bela canção!!!

Nilson disse...

Grande dupla! Hopper é um dos meus prediletos. E o poema de Frost é uma bela canção!!!

Anônimo disse...

BREVE RECADO AOS INSENTATOS:

Na Bahia quem trabalha com à luz aspergida da obra de Hopper em peças e quem me mostrou a luminosidade deste gênio americano nos palcos da província foi meu amigo e irmão Eduardo Tudella, cujo mestrado em Iluminação se deu na terra do Presidente OBAMA. De antemão, eu lhe parabenizo pela escolha do precioso achado. Agora, nesta Baía ter na sala uma tela de Hopper só se falsificada. Quem gosta dos seus ama, e americano não é besta. João Alves, simples engraxate de Cosme de Farias,já falecido, com sua tenda ao lado do Elevador Lacerda poderia com seu talento e luminosidade ter sua obra plástica impressa e divulgada pelo mundo á fora. Parabéns, pela postagem da reflexão de dois gênios americanos. No Brasil necessitaria de uma enciclopédia para writt tantos gênios esquecidos. Meu abraço, Miguel Carneiro.

Caio Rudá de Oliveira disse...

Gerana, você mora em Salvador, certo? Bem, tive na Saraiva do Iguatemi hoje e não vi nada por lá. Teria sido na do Salvador? Desculpa a curiosidade, mas é que quero adquirir uma...

Ah, quanto ao livro, avisarei com o maior prazer. Obrigado!

Gerana Damulakis disse...

Miguel Carneiro:também não conheço quem tenha um Hopper na sala. A leitura atenta do texto deixa claro que tenho reproduções e, na verdade, não são duas como escrevi, mas três, pois tenho uma menor em cima da mesa. Basta comprar a reprodução e emoldurar. É baratinho.

Gerana Damulakis disse...

Caio: na época comprei na Civilização (que infelizmente não existe mais). Você pode tentar nas lojas de molduras dos shoppings. Sabe aquelas reproduções que vendem lá? Aquelas que nós passamos uma a uma, tal como se fossem páginas de um livro grande? Creio que já vi na do Iguatemi, no setor de serviços, aquele corredor no 3º piso.

dade amorim disse...

Um belíssimo poema, Gerana. E me emociono quando vejo o nome de Jorge Wanderley, durante dois semestres meu professor de poesia no mestrado.

O Rio e a Ponte já estão aqui.
:D
Começo a ler logo, logo.

Edu O. disse...

O que dizer diante de tamanha beleza de Hopper (sempre) e deste poema?

TARDE disse...

Obrigado por me apresentar. Confesso que não conhecia. Confesso també, não ser muito dado às coisas dos norte-americanos, com algumas excessões. Fui buscar o original e o encontrei nesta página, juntamente com outros belos poemas. Página favoritada. Mais uma vez: obrigado e feliz dia internacional da mulher e abraço a Salvador.