quarta-feira, 13 de agosto de 2008

TÃO IMENSO


Kátia Borges





Tão pouco, este meu suado salário,
pelo qual agradeço, cada centavo,
cada moeda de dez, cada níquel
que sobra no bolso.


Tão pouco, este meu teto, abençoado,
sobre o qual se sustentam outros sete,
mesmo que ainda deva uns tostões à CEF,
e a vizinha de cima faça barulho.


Tão pouca, esta minha poesia,
pela qual agradeço, cada verbo,
cada palavra rimada, ritmada,
cada verso que escapa.


Tão pouca, esta minha vida,
pela qual agradeço, cada órgão
que funciona a contento. Cada um dos meus olhos,
caçando beleza, achando mistérios.

Tão pouco, este meu talento,
pelo qual agradeço, estas mãos,
que aprenderam cedo a ganhar o pão.
E esta língua, que não sabe de línguas, mas fala de amor.


E este amor, meu amor, este amor.
Tão pouco, este amor,
pelo qual agradeço.
E tão imenso.



Este poema de Kátia Borges está nos blogs Madame K e Blag. Kátia Borges é autora do volume de poemas De volta à caixa de abelhas (FUNCEB, 2001).

4 comentários:

Kátia Borges disse...

Oi, Gerana, fiquei rindo sozinha ao lembrar de nossa pose pro retrato, e dos comentários que fizemos. BJ

Gerana Damulakis disse...

Kátia: peguei o poema antes da resposta sobre a autorização, mas estava demorando e eu queria postar com nossas fotos. Este seu poema e o de Nilson agora estão em três blogs. Eles vão rodar pelo mundo de língua portuguesa!

Anônimo disse...

Lindo, Kátia, isso de agradecer tudo o que se tem, e tão poético o seu agradecimento. E aquele final... Um beijo.

Anônimo disse...

Kátia, querida, fiquei comovido com o final do poema.. Gosto do seu lirismo e vejo uma clara escolha de uma fala bem personificada no seu estilo, contemplando, tal qual Bandeira e Manoel de Barros, ainda que tantos não apreciem, risos... O aparentemente pequeno, a pouca coisa... E também um Quintana, pelo tipo de humor e auto-ironia... Não sei se concorda, mas a mim me agrada muito. Bjs