terça-feira, 25 de novembro de 2008

BRINCADEIRA


Gláucia Lemos


Eu brinco de te amar, de madrugada,
resguardo no meu colo os teus segredos,
e te amo o dia inteiro às escondidas.

Brinco de te esquecer no fim da tarde,
quando se mata o dia no letárgio
do infausto aguardo, e do inacontecido.

À noite brinco que és tu quem me guarda.
Sou a “rainha da cocada preta,”
sou nau onde navegas teus delírios.

A mão direita sem saber da esquerda...
Um olho crê e o outro ainda duvida...
- Ah! eu só brinco para agüentar viver.



Gláucia Lemos é ficcionista e poeta, tem 33 títulos publicados. Seu mais recente romance (foto da capa) é Bichos de Conchas (Scortecci, 2008).

5 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Gostei muito. Voltei para reler.

Anônimo disse...

Um poema singelo como deve ser você. Andei desaparecido, cheio de problemas. Passo neste blog, quando encontro um texto seu ou poema, sempre leio. A vida está difícil, ler ajuda um pouco.

Anônimo disse...

Não vejo Gláucia há anos, mas sua literatura continuo acompanhando. Irei na Saraiva hoje e procurarei este livro, já decorei como é a capa, prefiro ler romances e contos, não sou muito poética, só às vezes, poesia tem hora para bater certo dentro da gente, mas o poema é sonoro e bonito.

Anônimo disse...

Este seu poema me lembrou o enigma da cruel cantora, aquela do Édipo Rei. Sei que não é bem isso mas lembrei. Ele traz uma alegria infantil e uma dolorosa angústia de existir, mais tarde. Achei que nesse ponto, quando se sabe que a vida é meio amarga, a alegria é bem próxima da loucura.
Beijos, Gláucia. Adorei seu poema.

Anônimo disse...

AGErana, Anna, Pereira, Flamarion, muito obrigada. Beijo os quatro, alguns fiéis e desaparecidos. Feliz retorno!