sexta-feira, 10 de outubro de 2008

AO CADÁVER DESCONHECIDO


Aramis Ribeiro Costa


Depositado sobre a lage fria
Álgido, exangue, rijo e dissecado
Guardas, no corpo teu, formolizado
Exaustivas lições de Anatomia.

Teus órgãos, veias, músculos que, um dia
Foram teu corpo vivo e respeitado
São peças de um cadáver retalhado
De alguém que mais ninguém conheceria.

Devias ter, no entanto, um monumento
Um dia consagrado, um pensamento
Do mundo contristado e agradecido.

Homem, mulher, criança, não importa!
Salvando vidas, tua carne morta
Revive, ó imortal desconhecido.

Aramis Ribeiro Costa tem 17 títulos publicados: romance, novelas, contos, poemas e histórias infantis. Este poema está em Espelho Partido (FUNCEB, 1996).