sábado, 30 de agosto de 2008

SONETO DA CELEBRAÇÃO


Gláucia Lemos










Hoje em nenhum momento te celebro.
Queimei-te a mirra da ternura extinta.
Renego enfim a crença que foi minha,
e não remanesceu à vã entrega.

Celebras tudo que és: não mais que penas
de cauda de pavão em cores tinta.
Resgato minha luz, eis que ela é minha,
inútil para ungir almas pequenas.

Não sou mais que uma luz de lamparina,
mas afugento a treva, a dor e o luto.
Eu sou o canto de uma cavatina!

Fecho o painel no qual louvei teu vulto,
e abro a janela. A brisa matutina
vai apagando os círios do teu culto.

1997 Salvador.


Descobri que Gláucia Lemos tem sonetos engavetados. Garanto que vou conseguir que ela prometa a postagem deles aqui. Adianto que são da década de 90, é apenas o que sei. Foto "4 Círios", de Oswilio, retirada do Flickr.

4 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Um senhor soneto, com fecho de ouro e tudo. Parabéns! E vamos desengavetar os sonetos.

Anônimo disse...

Gláucia sempre surpreendendo. Soneto excelente. Será que teremos um livro de sonetos?

Carlos Vilarinho disse...

Sim, Gerana, desegavetemos os sonetos

Anônimo disse...

Não, Pereira, não pretendo um livro de sonetos.Quem sabe, talvez reuna os poemas que vao saindo no blog, junte aos sonetos e organize um livro. Quem sabe? Vc e Gerana já sugeriram. Obrigada a ambos e tb a Vilarinho.Um beijo.