quarta-feira, 30 de julho de 2008

HOMEM


Kátia Borges



Meu homem chega cansado,
o suor grudado na pele.
E eu, que o imagino calmo, me deito,
rosto contra o travesseiro
e aguardo.
Ele deita seu peso sobre meu corpo,
e seu cheiro é forte,
como o de um cavalo.
Sinto seu hálito no pescoço,
suas pernas forçando passagem
entre minhas pernas.
O amor não tem rosto, penso,
é essa pressão — pele contra pele
— esse atrito de pêlos.
Quero dormir e sonhar que nos amamos,
e que antes de me possuir, ele me despe, delicado.
Quero dormir e sonhar que ele chega,
só em sonho posso tê-lo sem essa fúria.

(poema do livro “De Volta à Caixa de Abelhas”). Ilustração de Adriano Fujinaga, retirada do Flickr.

3 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Kátia:não resisti, só isso.

Anônimo disse...

Poema viril e delicado. Boa conjugação. Sinestésico. Belo.

Anônimo disse...

Belíssimo poema.
Parabéns, Kátia, e parabéns também para Gerana por o publicar.
Beijo-as
Fred Matos