sexta-feira, 2 de novembro de 2007

RECEBIDOS E LIDOS

Livros, “livros à mão cheia...” dizia Castro Alves. São tantos que chegam. Devidamente recebidos e lidos foram os seguintes títulos: Todo sol mais o Espírito Santo (Ateliê Editorial, 2005), de Lima Trindade, reunião de 13 contos; As borboletas são assim (As borboletas, 2007), de Tatiane de Oliveira Gonçalves, coletânea com 18 contos; Andarilhos (Bagaço, 2007), de Maurício Melo Júnior, composto por duas novelas e, por fim, Ávidas paixões, áridos amores (Grafmarques, 2007), de Arriete Vilela.
A produção da alagoana Arriete Vilela, mestra em Literatura e com mais de uma dezena de títulos publicados, incluindo romance, contos e poesia, vem sendo muito aplaudida dentro e fora do meio acadêmico. No mais recente volume, Ávidas paixões, áridos amores, qualquer exemplo que dali seja retirado mostrará, tal a ordenação e a harmonia das peças poéticas, a busca incessante pelas palavras, guiada por um intenso sentimento: paixão ou amor, não; paixão e amor guiam o desejo de decifrar de vez o enigma através de questões assim formuladas: “Como pude escrever/ que os relhos da paixão não me deveriam esporear/ a alma, se é isto exatamente o que mais quero,/ pondo-lhes à disposição o próprio dorso/ da minha poesia?”.
As novelas que compõem Andarilhos, do jornalista da TV Senado Maurício Melo, são “Caminho só de ida” e “Volta à seca”. Ambas, ao misturar história e invenção, resultaram instigantes e, como estão acompanhadas do estilo do escritor, desde logo aliciador, não há como pensar em deixar a leitura antes do fim. Merece destaque a impecável narrativa sobre um cangaceiro de Lampião que, após cumprir 18 anos de cadeia, vai tentar uma vida decente no Rio de Janeiro, mas acaba envolvido num incidente, digamos, político. Está presente um toque inusitado, que talvez esteja na esperança que permeia a narrativa e que, com a aproximação do final, vira pó, ilusão, palavra “que a vida não alcança”, como escreveu Drummond no poema “Viver”, de As impurezas do branco (J. Olympio, INL, 1973).
As borboletas são assim, de Tatiane Gonçalves, vem trazendo o aval indiscutível de Maria da Conceição Paranhos que percebeu, de saída, o insólito emergindo da banalidade e as surpresas que concorrem para o desvio de rota nas narrativas de casos corriqueiros. “Meninice” é exemplo disto, uma história bem amarrada, que surpreende. Por vezes aproximando-se do fantástico (ou usa o fantástico como alegoria?), há textos com pitadas de magia e ilusão, como “Revirando”, “Um homem no tempo”, “Receita fúnebre”. Outros mostram a nossa complexidade, como as coisas nos afligem e como criamos escapatórias para a opressão da rotina, como os carimbos no conto “Os carimbos de Amélia”. Conceição aponta o talento para a ficção, notório em Tatiane. Está apontado!
E ainda na casa do conto, Lima Trindade também deixa evidente seu talento. Desta feita é Állex Leilla quem assina as orelhas e abarca o universo do autor neste livro Todo sol mais o Espírito Santo: “O universo de Lima Trindade é amplo, vai da infância possível, passando pela que jamais teve,criando divertidos suspenses ou uma história delicada de meninas, navegando em mares Gideanos ou num bonde meio Borges, meio Julio Cortázar”. As construções de Lima Trindade são maduras, mostram que o ofício é dominado pelo escritor, tanto na montagem do espaço, quanto na alegoria elaborada para vestir a história. Vale apontar o conto que dá título ao livro “Todo sol mais o Espírito Santo”, como um texto que merece ser antológico e, dentre outros bem logrados, vale citar “O pecado de Santa Helena”, “Calças de pintor”, “Luz mortiça” e a homenagem ao conto “Ônibus”, do volume Bestiário, de Cortázar, intitulado “Fim de linha”. Muito se pode esperar da literatura de Lima Trindade.
Aí estão os livros recebidos e lidos.

Gerana Damulakis

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