quarta-feira, 7 de novembro de 2007

OS SERTÕES


Quando se questionou neste espaço a expressão indevida “qual a maior obra-prima da literatura brasileira?”, que abria um debate na internet, o texto pretendia apenas defender a existência de muitas obras de qualidade no mesmo patamar de excelência. Tendo em vista tão somente passear pela literatura brasileira e citar algumas obras com juízos de valor garantidos pelo tempo, ficou claro que não era pretensão o levantamento de cânone algum. Inclusive porque todo cânone é ditado pelo gosto pessoal de quem faz a listagem. O espaço aqui não alcançaria a enumeração das obras brasileiras de forma a satisfazer todos os títulos que possivelmente surgiriam na lembrança.
Vale enfatizar que, mesmo sendo como as considerações supracitadas deixam evidente, principalmente no que tange ao gosto pessoal, os autores mencionados no texto “Não há maior obra-prima”, sem dúvida, foram de uma importância capital para a história literária do Brasil. Por exemplo: José de Alencar foi prejudicado pelo romantismo exacerbado, mas como não reconhecer o escritor? Se Peri e Ceci incomodam o leitor de hoje, é provável que o romance Senhora produza encantamento. Outro exemplo: Jorge Amado, que tanto seduziu os leitores, que foi o precursor de uma literatura que chegou a impulsionar um Gabriel García Marquez, não pode ficar de fora de um passeio literário pelas letras brasileiras, bastando, para confirmar, uma leitura de A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água. Mas faz pouco tempo que Jorge Amado se foi, restam muitos ressentidos ainda fazendo o discurso do contra.
Por outro lado, voltando à ocasião da feitura da “lista” que não se queria como lista, ali não se leu o título de Euclides da Cunha, Os Sertões, obra monumental. É inesquecível e pungente o final, quando Canudos deixa de existir. Segundo Antônio Cândido: “livro posto entre a literatura e a sociologia naturalista, Os Sertões assinalam um fim e um começo: o fim do imperialismo literário, o começo da análise científica aplicada aos aspectos mais importantes da sociedade brasileira”. Alicerçada pelas palavras do maior crítico literário do Brasil, vale lembrar que a coluna “Olho Crítico” frisou que, no rápido passeio pela literatura brasileira, havia limites: o olhar estava restrito ao “romance ficcional”, não aos afluentes como romance reportagem ou romance histórico, os autores citados estavam mortos, o tempo abrangia do final do século XIX até o século XX. A leitura atenta desta coluna comprova tais requisitos cuidadosamente postos. O resto é questão de gosto, não de verdade absoluta.

Gerana Damulakis

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