domingo, 13 de junho de 2010

"O AMOR É UMA CARTA"

Gerana Damulakis

Machado de Assis de A a X - Um Dicionário de Citações (Editora 34, 2001), de Lucia Leite Ribeiro Prado Lopes, com ilustrações extraídas da Revista Illustrada de Angelo Agostini, é um livro do tipo que eu elaboraria para as frases de José Saramago que, por sinal, já estão no meu lindo caderno com capa dourada e azul, presente de minha amiga da vida inteira.

Admiro o livro e nele releio os achados do Bruxo do Cosme Velho. A ironia elegante do nosso escritor maior é, além de cortante, sempre refinada, como ao comparar o amor com uma carta:

- O amor é uma carta, mais ou menos longa, escrita em papel velino, corte-dourado, muito cheiroso e catita; carta de parabéns quando se lê, carta de pêsames quando se acabou de ler. Machado de Assis in A mão e a luva, cap. I

Ilustração: A Carta, óleo sobre tela de Alfredo Keil, pintado em 1874. Museu do Chiado, Lisboa.

26 comentários:

Bípede Falante disse...

De fato, o amor cabe melhor nas palavras escritas do que nas ditas.

João Renato disse...

Oi, Gerana,

Gosto de Machado de Assis porque certos trechos dos romances e alguns contos são tão modernos que poderiam ter sido escritos na semana passada.

Sobre a pergunta que você deixou no meu blog:
Não. Nunca publiquei nada.
Há uns anos atrás, escrevi um romance e mandei para algumas das principais editoras, mas elas não tiveram interesse.
Depois, procurei editoras pequenas, mas não me interessei por desconfiar da capacidade delas distribuirem o livro de forma profissional.
Publicar livro é complicado, e distribuir o livro me pareceu mais complicado ainda.
Nunca tentei publicar poesia.
Um abraço,
JR.

silvia zappia disse...

es un deleite llegar hasta aquí y leerte, no me canso de decirlo.

besos*

glaucia lemos disse...

É uma carta e algumas coisas mais, como um bilhete azul mandando sumir da vida de alguém; um email com notícia rapidinha; um telefonema só para dizer: eu te amo, tou com saudade; uma mensagem cifrada em uma palavra simples com certa entonação sugestiva. O amor é tanta coisa, e às vezes é somente uma lembrança e uma saudade, saudade que é resto de amor que ainda não acabou.

nydia bonetti disse...

Gerana, sabe que tenho uma série de "poemas do caderno azul"? Os meus poemas adolescentes estão lá. E esta frase me Machado de Assis, que achado! Beijos, boa semana.

Jefferson Bessa disse...

Sempre um grande prazer ler Machado de Assis. Há uma singularidade e um requinte em sua obra que me impressiona. Gosto muito!
Abraços.
Jefferson.

Unknown disse...

a mais fina ironia deste gênio,


abraço

Anônimo disse...

Que saudade de uma carta!

Bípede Falante disse...

Gerana, estou a pensar sobre essa definição de o amor ser uma carta...

Muadiê Maria disse...

Nocaute.

aeronauta disse...

Marta, acima, disse o que queria dizer.

Ana Tapadas disse...

Grande autor...vá lá, um que conheço.
Aqui o povo diz: «O Amor/casamento é uma carta fechada.»
Um segredo: namorei cinco anos por carta. Ah pois!
Beijos

Tania regina Contreiras disse...

Sempre sensível na sua percepção, Gerana, heim? Ah, sim, o amor é uma carta assim desse jeitinho que diz o Machado: esse papel estilo pergaminho, e essa palavra que já não se usa mais, "catita"- tão bonitinha que é!

Beijos, Gerana

Marcantonio disse...

Fiquei pensando no soneto À CAROLINA, um dos mais belos da língua portuguesa, e dos poucos que decorei. Ele foi motivado por uma carta de parabéns, carta de pêsames, ou por alguma coisa que ficou a meio caminho na leitura dessa carta-amor?

Abraço, Gerana.

P.S. Há aqui a corrente contínua de um ar de distinção. Será que eu já disse isso? Não importa, vale a pena repetir.

M. disse...

Ai. M.

Lisarda disse...

O amor é uma carta...e o tempo implicado nela.Escrever ou ler uma carta supõe -hoje mais do que ontém-
dispor de tempo.

Unknown disse...

Existem escritores que passam pela vida tentando fazer o que ele consegue com uma frase. Tirar o leitor para dançar e sonhar com a metáfora que ele emprega. Pêsames é uma palavra difícil, e colocada aqui tem um outro acabamento. Ainda triste, porém melancolicamente bela. E tudo se ilumina. Obrigado pela escolha e pelo compartilhar. Beijos.

Nivaldete disse...

Em errâncias pelos corredores da net, aqui cheguei. E gostei, aliás, estou gostando. Muito bom. Voltarei.
Abraços.

Non je ne regrette rien: Ediney Santana disse...

na palavra o amor é menos engano

Mariana disse...

Passar por aqui é ganhar um banho de cultura.

Edu O. disse...

O título é intrigante. lendo sobre Machado me sinto mais conectado,é um dos meus preferidos.

dade amorim disse...

O eterno Machado sempre diz aquilo que se pensa, ou que nem se sabia que pensava.

Beijo.

Nilson Barcelli disse...

A capacidade de inovar definições, só está ao alcance de grandes escritores e/ou pensadores.
Beijos, querida amiga.

José Carlos Brandão disse...

Gerana, Machado diverte e encanta, fere, dói... Tanto para se dizer do velho bruxo! Gosto mesmo de imaginar esse bruxo - um bruxo divertido.

Unknown disse...

Gerana
queria ver esse caderno lindo...

quanto à frase, nossa, deu arrepio!

Fernando Campanella disse...

Adoro citações inteligentes, com ironia refinada como essa do Machado. Oscar Wilde era um mestre em citações assim também, verdadeiros achados.
Grande abraço.